Trigésima Bienal de São Paulo – A Iminência das Poéticas/Pavilhão Ciccillo Matarazzo, Parque Ibirapuera, SP/ de 7/9 a 9/12 

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ARTE POSTAL
Fotos do metrô de Nova York serão enviadas pelo correio por Moyra Davey

Boa parte dos trabalhos que a artista canadense Moyra Davey apresentará na Trigésima Bienal chegará pelo correio. Cada uma das 50 fotografias das séries “157 (Men)” e “157 (Women)” será dobrada em forma de envelope, postada e enviada para o endereço: Fundação da Bienal de São Paulo. São fotografias tiradas na estação de metrô da rua 157, em Nova York, onde a artista vive há 12 anos. Moyra define o trabalho como uma atualização da “arte postal”, gênero que surgiu nos anos 1960 como forma de troca, comunicação e circulação artística alheia ao mercado e às instituições de arte. Hoje, porém, a arte postal não é a antítese do sistema e o trabalho de Moyra é endereçado diretamente às instituições.

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Antes da Bienal de São Paulo, Moyra realizou séries semelhantes para o Museu de Arte Moderna de Nova York (com imagens da biblioteca do MoMA e de um café), exposta na mostra “New Photography 2011”, até janeiro de 2012; e para a Bienal do Whitney de 2012, onde expôs imagens de cartas de amor escritas em 1796 e de um diário de uma jovem escritora. A artista usa o meio fotográfico há 30 anos – além do vídeo e do texto –, mas a fotografia postal começou há cinco anos, quando dobrou fotografias e enviou para amigos, pedindo que mandassem de volta. Depois, expôs as fotos com os vestígios das viagens de ida e de volta. “Estou interessada nessa fotografia que não é apresentada como algo precioso. Para mim, mandar uma fotografia pelo correio é fazer com que ela volte a ser um pedaço de papel”, diz ela.

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Se em Moyra Davey, a fotografia almeja ser um papel de carta, suporte para declarações, confidências e outros textos, na obra da alemã Viola Yesiltaç o papel é a mídia predominante – a “liga” que une todos os trabalhos de sua poética. Na Bienal, Viola vai expor nove fotografias, sete desenhos e uma escultura – todos realizados sobre papel. “Meu trabalho é formado por várias mídias, que se encontram no espaço expositivo e discutem entre si”, diz Viola. “Meu intuito é chegar ao ponto em que você não consegue identificar se o trabalho é uma foto, uma escultura, um desenho ou uma performance”, afirma ela.

Esse aspecto de debate, conferência ou simpósio que se dá entre os trabalhos de Viola é reforçado pela performance, realizada pela artista sempre ao vivo, durante a exposição, no meio dos trabalhos expostos. Viola estudou fotografia e performance em Londres. Ao se transferir para Nova York, trouxe essa espécie de fotografia performática, que não se contém em si mesma e quer sempre se disfarçar de outras mídias e interpretar novas personagens.

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DEBATE ENTRE OBRAS
Viola Yesiltaç expõe desenhos, esculturas e fotografias que se relacionam
no espaço como se participassem de um debate ou de uma peça de teatro

Durante a performance a ser realizada em São Paulo, Viola lerá um texto em que aparecem personagens realizando leituras críticas sobre o seu trabalho. Aqui, mais uma vez, seu suporte será o papel, em que estarão escritas as ações de suas obras-personagens.

Além de ambas serem estrangeiras vivendo em Nova York e de destinarem um papel protagonista aos diversos usos do papel, Moyra Davey e Viola Yesiltaç compartilham ainda o interesse em registrar o cotidiano e trabalhar com os elementos de seu contexto imediato. Moyra trata a fotografia como forma de mapeamento dos territórios em que vive. No caso de Viola, os objetos do cotidiano são apropriados, modificados e ajustados aos seus roteiros subjetivos.