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OMS rebate governo do Brasil e diz que não é momento de declarar pandemia

Diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, durante entrevista coletiva em Genebra -
Diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, durante entrevista coletiva em Genebra

Colunista do UOL

03/03/2020 13h46

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Resumo da notícia

  • Declaração de pandemia seria vista como fracasso da atual estratégia de contenção
  • OMS estima que não é momento de a comunidade internacional se render
  • Entidade alerta para falta de luvas e máscaras e pede que fabricantes aumentem produção

A Organização Mundial da Saúde (OMS) insiste que não existe motivo para que o coronavirus seja declarado uma pandemia, principalmente na América Latina onde os casos são limitados. Mas a entidade alerta que todos precisam preparar planos em caso de uma transmissão maior entre a população.

Nesta terça-feira, o jornal Folha de S.Paulo revelou como uma parcela do governo brasileiro estaria irritada com o comportamento da OMS diante de sua demora em declarar a pandemia.

Questionado pela coluna, a direção da agência de saúde rebateu as críticas. "Se vamos levantar a bandeira branca com apenas um ou dois casos, temos um sério problema", criticou Michael Ryan, diretor-executivo do programa de emergências da OMS.

Na declaração de uma pandemia, a estratégia de conter e isolar casos seria trocada por um plano de mitigar o impacto na sociedade. Na prática, a medida seria um reconhecimento de fracasso do plano usado até agora.

Segundo ele, existem países que estão "se sacrificando" para conter a doença e o mundo deve usar o tempo para se preparar.

Tedros Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, tampouco aceitou a ideia de uma declaração de pandemia, pelo menos por enquanto. "Por qual motivo levantar a bandeira branca se ainda podemos conter?", questionou. "É irracional. Não há motivo para se entregar", insistiu.

A entidade insiste que a proliferação em grande escala estava sendo registrada apenas em cidades chinesas, com casos fora do país asiático ainda podendo ser contidos. Isso, em termos técnicos, não representaria uma pandemia e, portanto, a entidade resistiria em passar para um nível superior de alerta.

Enquanto Tedros explicava a situação na sala de operações da entidade, telões pelas paredes mostravam a dimensão do surto pelo mundo: 90 mil casos confirmados e mais de 3,1 mil mortes.

Desse total de casos, 80 mil estão na China. Mas a expansão no número de casos na Itália, Irã e Coreia do Sul (4,2 mil casos) transformou a maneira pela qual a OMS reage à situação.

Outro destaque da OMS é a queda no número de novos casos diários na China, com pouco mais de cem nas últimas 24 horas. A entidade estima que o país vem registrando uma queda gradual desde final de janeiro.

Tedros revelou que manteve uma reunião telefônica com o presidente do Chile, Sebastian Piñera, para falar sobre a situação na região. "A América Latina está na categoria de países sem casos ou poucos casos", disse. "Por isso, mantemos a proposta de que foquem na contenção", insistiu.

Segundo Tedros, existem apenas sete casos no Equador, cinco no México, dois no Brasil e um na República Dominicana. "Recomendamos uma contenção agressiva, enquanto os casos são baixos", disse.

O etíope insistiu que, apesar do número elevado de casos pelo mundo, 80% dos registros foram detectados em apenas três países. Em 122 países pelo mundo, o vírus ainda não chegou. Em 21 países, existe apenas um caso.

Apesar de mais agressivo que uma gripe e uma taxa de letalidade superior, o coronavírus não teria a mesma capacidade de transmissão dentro de uma comunidade como outros surtos.

Preparação

Apesar de insistir em não declarar a pandemia, a OMS alerta que todos precisam estar prontos para adotar planos de mitigação se houve uma transmissão sustentável na comunidade.

"Precisamos nos preparar para eventualidades. Tudo pode ocorrer. Os países devem se preparar para o pior. Mas mantendo suas estratégias de contenção", afirmou.

"Se fracassarmos com a contenção, pelo menos teremos ganhado tempo e um mês faz diferença", disse Ryan. Ele destacou como leitos na Itália tiveram de ser ocupados com pessoas com o coronavírus, causando problemas para o sistema de saúde.


Material

Uma outra preocupação da OMS se refere à falta de material de proteção, principalmente para hospitais. Segundo a entidade, a produção precisa aumentar em 40% para que não haja uma quebra de estoques.

Sem luvas, óculos e máscaras, os mais expostos são os médicos e enfermeiros. O resultado pode ser uma falha importante na capacidade dos governos em dar respostas. "Não podemos parar o coronavirus sem proteger essas pessoas", declarou.

Diante da procurada elevada por máscaras, o preço da unidade aumentou em seis vezes. "O fornecimento está acabando", disse Tedros. "Pedimos que os fabricantes aumentem a produção e que os governos facilitem o comércio", apelou.

Segundo ele, a OMS enviou 500 mil equipamentos para 27 países. Mas as estimativas apontam para a necessidade de 89 milhões de máscaras, 76 milhões de luvas e 1,6 milhão de óculos.