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'Gangorra de chuva' penderá para o Nordeste em fevereiro

A chuva deve começar a migrar ao longo do mês, aumentando o risco de estiagens em áreas do Sul que fazem fronteira com o Uruguai

O La Niña está um pouco diferente nesta safra, por conta de uma variação intrassazonal na América do Sul. Desde dezembro, a chuva está mais concentrada sobre o Centro-Sul do Brasil, enquanto o Nordeste passa por um período mais seco que o normal.

A formação de bloqueios atmosféricos impedem o avanço das frentes frias do Sul para o Nordeste. Por sua vez, o bloqueio atmosférico pode ser explicado pela ausência de uma onda que ajuda a organizar as precipitações tropicais (chamada de Madden Julian), uma área de água mais quente no Pacífico Sul e a temperatura das águas do Atlântico mais elevada no Sul e menos elevada no Nordeste.

Tudo isso, em um contexto mais longo: desde o início dos anos 2010, a chuva tem ficado mais concentrada no Sul e menos concentrada no Sudeste e Centro-Oeste, fenômeno de longo prazo chamado de Oscilação Interdecadal do Pacífico.

Acontece que a variação intrassazonal não dura para sempre. Durante boa parte de 2020, observou-se um padrão típico do La Niña com atraso no retorno da chuva na primavera do Sudeste e Centro-Oeste e chuva inferior ao normal no Sul. E ao longo do mês de fevereiro, voltaremos a observar o cenário clássico do La Niña com enfraquecimento da chuva no Sul, Argentina e Uruguai e aumento das precipitações no Nordeste.

Um dos principais motivos para o aumento da chuva na parte norte do país será o retorno do Madden Julian à América do Sul, sem contar com o rompimento do bloqueio atmosférico no decorrer do mês.

Previsão de chuva

Uma simulação americana atualizada em 25 de janeiro mostra bem o padrão com uma primeira quinzena de fevereiro ainda com chuva forte sobre a região Sul, mas também com aumento da precipitação sobre São Paulo, Rio de Janeiro e sul de Minas Gerais por conta do rompimento do bloqueio atmosférico e chegada de uma frente fria ao Sudeste.

Já na segunda quinzena de fevereiro, a chuva forte toma conta de todo o Nordeste, além do Norte e dos estados de Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais e Espírito Santo. No Sul e em partes de São Paulo e de Mato Grosso do Sul, a chuva enfraquece consideravelmente. E a partir daí, a chuva permanecerá mais ao norte, aumentando o risco de estiagens sobretudo na fronteira do Rio Grande do Sul com o Uruguai.

Esse padrão mais tardio de chuva no Nordeste não é novidade. No La Niña de 2008, a precipitação acima da média foi observada mais para perto do fim do período úmido. E a variação intrassazonal também já pôde ser vista com El Niño. No fenômeno de 2016, por exemplo, choveu intensamente sobre o Nordeste em janeiro, enquanto a Região Sul passou por um período mais seco.

Em termos de desvios de precipitação, a simulação americana ainda indica chuva acima da média sobre a região Sul e abaixo da média na maior parte do centro e norte do país. “Somente é importante não tomar a informação como algo que será permanente, ou seja, não choverá forte o tempo todo sobre o Sul, enquanto o Nordeste terá mais um mês completo quase sem precipitação, não é assim que funciona”, diz Celso Oliveira, meteorologista da Somar.

A temperatura não será tão elevada no Sul, especialmente no Rio Grande do Sul, por conta da chuva mais frequente na primeira quinzena e pelo avanço de ondas de frio mais fortes na segunda metade do mês. Por outro lado, a temperatura vai permanecer mais elevada que o normal no Sudeste e Centro-Oeste, embora o calor deva diminuir com o passar do mês.