Renda Fixa

Por Nathália Larghi, Valor Investe — São Paulo

Você já pode estar achando que a taxa Selic, de 3% ao ano, já esteja bem baixinha. Afinal, está no patamar mais baixo na história. Mas fique atento porque o seu retorno de aplicações conservadoras, na prática, deve ficar ainda menor do que isso.

Aproveitamos a divulgação de ontem do Boletim Focus, divulgado semanalmente pelo Banco Central, para atualizar as contas para você. Para quem não conhece o Focus, ele é um relatório que coleta projeções de dezenas de economistas com sobre os indicadores econômicos do país. E o que o último Focus aponta é uma previsão de que a Selic deve cair para 2,25% até o final deste ano. E esse mesmo relatório aponta que a inflação, medida pelo indicador IPCA, deve ficar em torno de 1,57%.

O que isso significa para você, que investe todo ou parte do seu patrimônio em aplicações de renda fixa? Que alguns produtos que você deve ter na carteira provavelmente terão rentabilidade real negativa no ano. É isso mesmo que você entendeu: dependendo do produto em que você aplica, vai perder poder de compra em um horizonte de de curto prazo.

Isso acontece porque muitos produtos de renda fixa têm sua rentabilidade atrelada à taxa básica de juros. Então, se ela cai, o retorno daquela aplicação também fica menor. No cenário atual, um retorno de 3% ao ano já não é tão interessante, mesmo pensando em termos brutos e nominais. Mas quando descontamos a inflação prevista para o mesmo período (ou seja, o quanto o preço médio de produtos e serviços deve subir), o rendimento pode ficar bem próximo de zero ou até ter o sinal trocado. Esse retorno que desconta o efeito da inflação é chamado de "juro real".

Por exemplo, em um cenário de Selic a 2,25% ao ano e inflação de 1,57%, como prevê o Focus para o final de 2020, o juro real será de aproximadamente 0,6%.

Porém, nessa conta acima a gente não considerou outros itens que tem que ser levados em consideração. Como eventuais custos das aplicações (que podem existir ou não), e o Imposto de Renda, que pode variar de 22,5% a 15% sobre o rendimento nominal (não o real), a depender do prazo.

Nesse cenário de meta da taxa Selic caindo a 2,25% ao ano e inflação a 1,57%, um título público do Tesouro Selic (que, como o nome sugere, acompanha o rendimento da taxa básica de juros) te ofereceria perdas de 0,03% ao ano.

Mas poderia ser pior. A poupança, descontando a inflação apenas (já que não há incidência de taxas e ela é isenta de imposto de renda), deve trazer uma perda real de 0,14% neste cenário.

Já se o valor fosse aplicado em um fundo DI, que segue o CDI (índice que acompanha de perto a taxa básica de juros e serve como indexador de muitos investimentos), sem taxa de administração, ele teria ganhos de 0,18%. O mesmo retorno de um CDB que remunere 100% do CDI.

Rendimento anual da renda fixa com projeções do Focus

Título Rendimento nominal Rendimento real
Tesouro Selic 1,54% -0,03%
Poupança 1,43% -0,14%
Fundo DI taxa zero 1,75% 0,18%

Já se a Selic não sofrer mais nenhum corte adicional e continuar em 3% ao ano, com uma inflação de 1,57% como prevê o Focus, o cenário fica um pouco melhor. Mas longe de ser bom. O rendimento nominal do Tesouro Selic seria de 2,15% ano ano. Descontada a inflação, esse valor cairia para 0,58%. Já o Fundo DI teria rendimento nominal de 2,37% e rendimento real de 0,80% ao ano. A poupança, por sua vez, renderia nominalmente 1,92%, mas na realidade o investidor só ganharia 0,35% ao ano.

Para o ano que vem, a previsão para a Selic é de 3,29% ao ano. Já a estimativa para a inflação é de 3,14% ao ano. Nesse cenário, o Tesouro Selic ofereceria uma perda real de 0,75% e a poupança ofereceriam uma perda de 1,05%.

É importante lembrar, no entanto, que mesmo com a previsão do Focus de que a Selic ao final do ano seja de 2,25%, a média dela ao longo do ano será um pouco maior, já que a taxa básica começou o ano em 4,5%. Portanto, segundo Hugo Daniel Azevedo, responsável pelas áreas comercial e de gestão de recursos da Órama, quem investiu em um Tesouro Selic no começo do ano, pode, sim, ter ganhos reais ao final de 2020.

O especialista lembra também que existe uma possibilidade de deflação, ou seja, quando os preços médios de produtos e serviços caem, ao invés de subir. "Tivemos deflação nos últimos meses. Se continuarmos em isolamento mais um mês, podemos começar a falar em deflação para o ano. Então, o rendimento da renda fixa nesse cenário será positivo", afirma.

E agora? No que investir?

Segundo especialistas, os investidores não precisam se apavorar diante do novo cenário, mas é necessário adaptação. A primeira delas, inclusive, no pensamento. "O cenário atual é esse em que a renda fixa rende menos. Não acho que chegará a ser negativo, porque a Selic está caindo, mas a inflação também. Mas renderá muito pouco. O investidor precisa ter isso em mente", afirma Fabio Macedo, diretor comercial da Easynvest.

Para ele, mesmo nesse contexto, o Tesouro Selic pode continuar sendo usado pelos investidores como uma forma de guardar sua reserva de emergência. "Com essa incerteza mundial, os investidores voltaram a apostar nele, mesmo rendendo menos. E é um comportamento correto, porque você tem altíssima liquidez e segurança", diz.

Para quem quer garantir ganhos maiores, no entanto, é preciso diversificar. O próprio Tesouro Direto pode oferecer oportunidades para aquele investidor que ainda tem receio de se arriscar na renda variável. "Existem títulos, como o próprio Tesouro IPCA, que acompanha a inflação, que estão pagando juros reais bastante atrativos, na casa de 4., Mas o prazo é maior", afirma Macedo.

Azevedo, da Órama, concorda. Para ele, investidores que não precisam do dinheiro no curto prazo conseguem fazer boas aplicações em títulos públicos. "O Tesouro vale a pena hoje para o investidor que for se alongar. Títulos prefixados, com vencimento em 2023, estão pagando em torno de 4%, por exemplo. Esses ativos com prazo alongado são uma boa opção para quem está investindo para a aposentadoria", afirma.

Para quem não tem tanto medo da renda variável, no entanto, Azevedo destaca que é interessante deixar pelo menos 5% aplicado em ativos como ações ou fundos imobiliários, que visam garantir um pouco mais de rentabilidade à carteira.

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