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'Não se meta nas eleições americanas', diz Trump, rindo, a Putin

No G-20, americano reagiu com ironia ao ser cobrado por jornalista sobre interferência russa em 2016; em entrevista, Putin elogia populistas de direita e diz que progressismo se tornou obsoleto
Trump e Putin, durante reunião do G-20 Foto: MIKHAIL KLIMENTYEV / AFP
Trump e Putin, durante reunião do G-20 Foto: MIKHAIL KLIMENTYEV / AFP

OSAKA, Japão — Pressionado pela oposição democrata e a imprensa a adotar uma atitude mais crítica em relação a Vladimir Putin por causa da interferência russa na campanha eleitoral de 2016, o presidente Donald Trump finalmente fez isso, mas a seu modo.

Durante um encontro bilateral com Putin à margem da cúpula do G-20 no Japão, Trump foi questionado por um jornalista a respeito de quando pretendia dizer a Putin para não interferir na eleição do ano que vem. Com um meio sorriso, tom jocoso e o dedo indicador apontado ironicamente para Putin,  Trump reagiu:

— Não se meta nas eleições, presidente.

Em seguida, o presidente americano se virou para um funcionário russo que acompanhava o encontro e repetiu:

— Não se meta nas eleições.

Foi o primeiro encontro de Trump e Putin após a conclusão do relatório da investigação do procurador especial Robert Mueller sobre a interferência russa em 2016. No relatório, Mueller afirma que a  Rússia realizou uma operação "radical e sistemática" em favor da eleição do republicano, por meio da ação de trolls nas redes sociais e da invasão dos computadores da campanha da democrata Hillary Clinton. O procurador diz, porém, que não há provas de cumplicidade da campanha de Trump na operação.

Quando o relatório foi apresentado, o presidente americano comemorou o resultado como uma vitória, dizendo que "não houve conluio". Putin nega veementemente qualquer intervenção de Moscou nas eleições americanas, dizendo que houve uma "interferência mítica":

— A Rússia foi e, por mais estranho que isso pareça, continua a ser acusada de uma interferência mítica nas eleições americanas — disse Putin ao Financial Times, em entrevista publicada na quinta-feira. — Na verdade, o que aconteceu foi que Trump observou a atitude de seus oponentes, viu mudanças na sociedade americana e tirou vantagem disso.

Na entrevista ao FT, Putin se alinhou ao populismo nacionalista defendido pelo colega americano e que emerge em países europeus como a Itália e a Hungria. Ele elogiou a política migratória linha-dura de Trump e chamou o liberalismo político de "obsoleto":

— Essa ideia liberal pressupõe que nada precisa ser feito. Que os imigrantes podem matar, roubar e estuprar com impunidade porque seus direitos como imigrantes devem ser garantidos — disse Putin. — Todo crime deve ser punido. Esse liberalismo se tornou obsoleto e entrou em conflito com os interesses de uma grande maioria da população.

O presidente russo ainda criticou a alemã Angela Merkel por ter aberto as portas aos refugiados sírios:

— Eles (os liberais) não podem ditar mais nada para ninguém, como  têm feito nas últimas décadas — disse, chamando a decisão de Merkel de "erro fundamentall".

Frente contra jornalistas

Na reunião bilateral, Trump e Putin mantiveram um tom amigável, sorrindo e conversando. Enquanto eram fotografados, os líderes encontraram outro ponto em comum nas suas críticas a jornalistas:

— Livre-se deles. Fake news é uma ótima expressão, não é? Vocês não têm esse problema na Rússia, mas nós temos — disse Trump.

Em inglês, Putin respondeu:

— Nós também temos. É a mesma coisa.

Um comunicado da Casa Branca disse, sem maiores detalhes, que os dois conversaram sobre o Irã, a Síria, a Venezuela e a Ucrânia.

— É uma grande honra estar com o presidente Putin —  disse Trump. — Nós temos uma relação muito, muito boa e esperamos ter outros bons momentos juntos. Muitas coisas positivas irão surgir desse relacionamento.

Ainda nesta sexta, Trump se encontrou com Jair Bolsonaro e com a chanceler Angela Merkel. Trump interrompeu brevemente as conversas com a líder alemã para comentar a segunda noite de debates entre os pré-candidatos do Partido Democrata à Presidência dos Estados Unidos:

— Eles definitivamente têm muitos candidatos. Eu estou ansioso para me encontrar com você ao invés de assistir a isso —  disse Trump a Merkel, que não demonstrou reação ao ouvir o comentário sobre a política interna americana.