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Pedro Doria Foto: O Globo

Em busca do prefeito digital

Os prefeitos que elegeremos terão a mão, se assim quiserem, um pacote de ferramentas muito distinto do que existiu no passado

O dia 18 de agosto caiu numa quinta-feira. Não era um dia particularmente especial no Rio olímpico. Não houve medalha brasileira, os Jogos estavam para terminar. Foi um dia bonito de céu azul. E, talvez porque já estivesse no fim, porque tudo já dera um bocado certo, aquele foi o dia mais feliz de todas as Olimpíadas.

Não é poesia, só parece. Os dados vêm da Cisco, que foi uma das patrocinadoras da Rio 2016. Os engenheiros da multinacional recolheram fotografias publicadas nas redes sociais e, nelas, aplicaram um sistema que permite distinguir sorrisos. Na região do Porto, foi neste dia que houve mais demonstrações públicas de felicidade. É uma das múltiplas aplicações do estudo de grandes bases de dados, o big data, em cidades.

Não é poesia, tampouco é inútil. Tecnologia que permite aferir a emoção das pessoas em tempo real no meio de grandes aglomerações pode evitar violência. Permite ao governante avaliar a necessidade de polícia. Possibilita a ação precisa em um ponto ou outro de protestos para desarmar crises antes que explodam. Sai a brutalidade policial e entra a ação eficiente e cirúrgica.

Os prefeitos que elegeremos terão a mão, se assim quiserem, um pacote de ferramentas muito distinto do que existiu no passado. Os testes da Cisco durante os Jogos fizeram um balanço preciso dos fluxos de visita ao Porto. Ao todo, mais de duas milhões de pessoas estiveram entre os armazéns 1 e 8. O maior público passou lá no sábado dia 20, pouco mais de 152 mil, a visita média durou 31 minutos, e o horário mais cheio foi entre 17h e 18h.

Porque o Porto tem uma rede WiFi gratuita, os servidores conseguem registrar cada celular que aparece. Mesmo que a rede não seja usada. São dados anônimos e, num período curto, pouco úteis. Mas, ao acumular um ano após o outro, a prefeitura terá informação para entender os fluxos. Em que temporada há mais gente, a que horas são necessários mais funcionários. Se uma região passa a ser menos visitada, o que acarretará numa pequena crise para os negócios locais, é possível identificar o problema rápido e agir para resolvê-lo.

Estamos numa fase de transição em que os muitos usos deste tipo de tecnologia ainda não são claros. As prefeituras que criarem mais cedo a cultura de produzir, processar e aplicar as massas de dados digitais são as das cidades que terão vantagem econômica nas próximas duas décadas. Os próximos prefeitos precisam ser gente interessada em tecnologia. Se não forem, a cultura não nascerá. Se não nascer, vai custar caro ali na frente.

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