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Por GloboEsporte.com — Rio de Janeiro


Na semana em que comemora os 20 anos da conquista do bicampeonato em Roland Garros, Gustavo Kuerten participou de uma entrevista coletiva com jornalistas nesta última segunda-feira. E, além de relembrar momentos importantes daquele título, o ídolo nacional foi além e comentou um pouco do momento delicado vive o Brasil em meio à pandemia de Covid-19. O ex-tenista reclamou, abrindo o leque para o atual e antigos governos, de falta de representatividade da população no poder e disse que vivemos em uma "pseudodemocracia".

- O próprio país vive um processo de formação da democracia que ainda, infelizmente, nunca existiu. A gente pode considerar uma pseudodemocracia que, traduzindo, é votação direta, mas quando que a gente sentiu o povo mesmo no poder, ser defendido em todas suas instâncias, abraçado pelos nossos governantes, ou seja, um país muito melhor? Quando? Se olhar para trás aí, a gente estaria numa realidade completamente diferente - afirmou Guga aos jornalistas.

Gustavo Kuerten durante coletiva de imprensa no Rio Open 2020 — Foto: Fotojump

O ex-número 1 do tênis se juntou a outros atletas na última semana no movimento chamado "Esporte pela democracia", que surgiu em meio aos protestos pela morte de George Floyd nos Estados Unidos e à discussão pelo fim do racismo. Na publicação postada pelo próprio Guga, o manifesto fala em direito "a uma sociedade justa e igualitária, antirracista" e questiona: "Que Brasil é esse que queremos trazer na camisa e chamar de nosso?".

O assunto levantado por Guga surgiu quando ele elogiava Michael Jordan em uma pergunta sobre o documentário "Last Dance" e avançou para o reconhecimento dos heróis do dia a dia. Assim, o tenista avançou para as dificuldades que passam os brasileiros comuns. Segundo o ídolo brasileiro, é preciso que se crie um ambiente estável com saúde, segurança e educação para todos antes de cobrar o surgimento de um ídolo no esporte, por exemplo.

- Que a gente tenha na saúde algo que esteja estruturalmente montado, pronto. No tênis, quando vai chegar o Guga? Se vier tudo antes... saúde, segurança, educação... Esses três, principalmente. Se tiver isso antes, deixa o tênis para daqui a 50 anos, não tem problema. Um dia vai acontecer. Precisamos ainda dar mais valor a isso. Obviamente, na própria internet hoje é muito delicado porque cada situação, cada ponto, cada tentativa, ela tem hoje um turbilhão de informações e muita capacidade de isso virar invertido, mal dito - disse.

Guga Kuerten participou recentemente do projeto "Vencendo Juntos" no SporTV — Foto: Reprodução

Guga ainda falou sobre as poucas oportunidades criadas para todas as camadas da sociedade. E colocou a responsabilidade não só nos governantes, mas também na própria população, fazendo um apelo para que a construção de melhores perspectivas de uma vida digna passe pelas mãos de todos que podem fazer alguma diferença nesse sentido.

- Que as pessoas possam sonhar sim em ter melhores perspectivas e uma projeção de vida decente, acho que ela é comum a todos. Acho que ela precisa ser, sim, cultivada, exercida e defendida pelo nosso país com todas as vozes. Não é só do atleta, da figura. Ela vai desde um pronunciamento, de fazer parte de um grupo, de incentivar até a prática do dia a dia. A tentar fazer um pouco do seu papel, poxa. Tentar ali, instigando, inspirando, contagiar mais, levar para essa caminhada, para essa filosofia. Acredito que assim podemos avançar muito, ter gênios de todos os tipos: de altura, de peso, de raça, de modalidade, qualquer coisa. Nosso país tem uma criatividade, uma essência, um brio.

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