Por Paula Resende, G1 GO


PM é filmado dando tapas no rosto de mulher durante abordagem, em Goiânia

PM é filmado dando tapas no rosto de mulher durante abordagem, em Goiânia

A estudante de direito de 23 anos que aparece em um vídeo sendo agredida por um policial militar durante uma abordagem em Goiânia afirma que foi revistada, alvo de xingamentos e levou três tapas (veja o vídeo acima). Segundo a jovem, dois colegas foram abordados por uma equipe da Polícia Militar e, sem saber o que acontecia, ela se aproximou e questionou os servidores. Foi quando a confusão aconteceu.

“Apanhei porque não me calei. Foi uma humilhação sem tamanho porque me xingaram de todos os nomes, me senti violada, moralmente destruída, fui reduzida ao lixo. Não estava errada e, mesmo se estivesse, nada justificaria a agressão”, disse ao G1.

A assessoria de imprensa da Polícia Militar informou, em nota enviada neste domingo (19), que "foi formalizada a denúncia pela vítima na Corregedoria da PM e instaurado um Inquérito Policial Militar para apurar o caso".

Agressão

A agressão aconteceu na noite de quinta-feira (16), na Rua 10, no Setor Central. Segundo a jovem, ela e mais dois amigos saíram da faculdade, passaram em um bar e, em seguida, foram para a lanchonete. De acordo com a estudante, houve uma confusão entre um dos colegas e uma atendente.

“Ele disse que havia pago o sanduiche na hora que fez o pedido. A atendente disse que ele não pagou e chamou a polícia”, relata a universitária.

Policial militar dá tapa no rosto de estudante durante abordagem em Goiânia, Goiás — Foto: Reprodução/ TV Anhanguera

Conforme a estudante, ela conversava com outras pessoas e, quando olhou para trás, viu que os colegas eram revistados por uma equipe da PM, do outro lado da rua. A jovem relatou que atravessou a avenida para checar o que estava acontecendo e o policial que a agrediu falou para ela levantar os braços. Em seguida, uma policial a revistou.

“Eu perguntei o porquê de estarmos sendo revistados, disse que tinha o direito de saber o motivo da revista no meio da rua, e ele mandava calar minha boca, me xingava, mas eu continuei perguntando, sei como uma abordagem deve ocorrer e tinha direito de saber”, relata a jovem.

Conforme a universitária, neste momento, ela levou o primeiro tapa do policial, que é um tenente da corporação. Ao ver a situação, clientes da lanchonete começaram a filmar a revista e flagraram mais dois tapas. A gravação também mostra quando o policial a manda calar a boca.

A estudante afirma que os amigos ficaram com medo e não disseram nada. Em seguida, os policiais encaminharam o rapaz que discutiu com a funcionária até a lanchonete e eles resolveram a situação. “Eles não levaram a gente para a delegacia porque não tinha motivo. Depois da revista, os policiais e meus amigos desceram para o pit dog para conversar sobre a situação, o que deveria ter sido feito no início”, avalia a jovem.

Nota de repúdio

A Ordem dos Advogados do Brasil, Seção de Goiás (OAB-GO), publicou uma nota de repúdio sobre o caso. O órgão também cobra a investigação da abordagem por parte da Secretaria de Segurança Públcia e a devida punição da equipe policial envolvida. Veja o texto, na íntegra:

"A Ordem dos Advogados do Brasil, Seção de Goiás (OAB-GO), por suas Comissões de Direitos Humanos (CDH), da Mulher Advogada (CMA), e Especial de Valorização da Mulher (CEVM), vem a público repudiar, com veemência, os atos de agressão física e moral praticados por um policial militar (PM) a uma estudante de Direito, em decorrência de uma abordagem realizada na Rua 10, Centro, em frente à Catedral Metropolitana de Goiânia.

Os fatos, divulgados pela imprensa e também por terceiros em vídeo que circula pelas redes sociais, mostram uma abordagem policial onde um dos policiais militares desfere tapas no rosto da estudante porque ela insistia em saber a razão da abordagem. Também houve xingamentos à vítima.

A truculência e o despreparo demonstrados pelo policial no vídeo, chocam, basicamente, por vários motivos: 1) pelo abuso nítido na conduta do policial, que agiu de forma desmedida, empregando força além da necessária para o caso, especialmente pelo fato de que a estudante de Direito não oferecia resistência à abordagem, mas apenas perguntava a razão da mesma; 2) pelo fato de que toda pessoa tem o direito de saber o porquê de uma autoridade policial lhe abordar; 3) pelo fato de que o policial agiu com violência física e psíquica a uma jovem mulher, já indevidamente subjugada para averiguação, e portanto, em situação de sujeição ao Poder do Estado repressor.

A OAB-GO exige posição da Secretaria de Segurança Pública, bem como da Corregedoria da Polícia Militar, quanto à abertura de procedimento investigatório contra todos os agentes estatais envolvidos nas agressões à estudante, e que sejam estes prontamente identificados e processados por crime de abuso de autoridade (Lei 4.898/65), e outras eventuais tipificações condizentes às rigorosas sanções administrativas e criminais.

A OAB-GO permanecerá firme no exercício da sua função social de defesa da população e da democracia, contra todos os excessos e extrapolos, e sempre buscará junto aos órgãos competentes a aplicação da Justiça como punição aos abusos praticados pelos agentes do Estado."

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