Por Maria Romero, G1 PI


Áudios revelam policiais combinando esquema de pistolagem e roubo de cargas

Áudios revelam policiais combinando esquema de pistolagem e roubo de cargas

Áudios divulgados nesta segunda-feira (2) pela Secretaria de Segurança Pública do Piauí mostram policiais militares presos por suspeita de roubo, homicídio e pistolagem comentando esses crimes.

Em um dos trechos divulgados pela SSP, o ex-policial Wanderley Silva, considerado líder do grupo pelo Secretário de Segurança, Fábio Abreu, diz estar com "saudade de matar". Em outro, afirma ter pedido R$ 20 mil para assassinar uma pessoa. A SSP não informou a data do registro dos áudios.

Procurado pelo G1, o advogado dos presos não respondeu até a última atualização da reportagem.

Na Operação Dictum ("limpeza" em latim), deflagrada nesta segunda, além de Wanderley Silva foram presos dez policiais, sendo nove militares e um civil, além de duas pessoas que não eram agentes de segurança (leia mais abaixo).

De acordo com o Grupo de Repressão ao Crime Organizado (Greco), a investigação começou depois do roubo de carga de televisores em maio. No entanto, com o decorrer da operação, crimes de pistolagem, homicídio e tráfico também foram descobertos.

Televisores foram apreendidos em casa no Parque Vitória — Foto: Divulgação/SSP

Ex-PM investigado

O ex-cabo da PM Wanderley Silva é investigado desde 2017, quando R$ 300 mil desapareceram após uma tentativa de assalto a banco. O caso ainda está sob investigação.

Silva foi expulso da corporação em outubro deste ano. Ele chegou a ser preso, mas acabou solto meses depois.

Além disso, em maio de 2018 o ex-PM se envolveu em uma discussão na qual baleou o cantor Saulo Dugado em uma padaria da Zona Leste de Teresina.

Dinheiro que seria roubado do banco foi apreendido, mas parte dele sumiu — Foto: Divulgação/Polícia Militar

'Saudade de matar'

Em uma das conversas divulgadas nesta segunda, um homem identificado como René Carvalho – que segundo o Greco é PM e não foi preso – chama Wanderley para agredir uma pessoa que estaria incomodando sua família, mas pede que a vítima não seja morta. Wanderley diz, então, que está com saudade de matar.

"Vou caçar uma ripa aqui que é bom dar nele é de ripa, não é de mão, não. Porque tem que ser rapidinho pra não inflamar de gente", diz René.

Wanderley questiona: "Beleza e por que não derruba logo esse moleque?".

Renê responde: "Não pode matar, não. Se matar, vai dar confusão aqui. É só dar uma ripada boa mesmo. Se [ele] tivesse feito alguma coisa mais grave, quem tinha matado era eu mesmo".

O ex-PM finaliza: "Estou com saudade, nunca mais matei ninguém, ô tristeza. Tirar um diazinho pra nós rodar...".

Áudios mostram que policiais comentavam sobre crimes. — Foto: Reprodução

R$ 10 mil para agredir e R$ 20 mil para matar

Em outra conversa, o ex-policial diz ter conseguido um "contrato" para receber R$ 10 mil para agredir alguém. Afirma ainda que havia pedido o dobro desse valor para matar a vítima, mas que não chegou a receber autorização para cometer o homicídio.

“Ei, Papada, estou indo falar com o Hudson aqui. Tem um contrato pra nós, viu? Parece que fechou lá R$ 10 mil só pra dar um pau num vagabundo, estou indo falar com ele. Eu tinha pedido R$ 20 mil pra ‘derrubar’, mas o cara não quer ‘derrubar’ de jeito nenhum, quer só que dê um pau bem dado”, descreve.

Pistoleiros

Em outro áudios, Wanderley pede ajuda para comprar uma pistola, porque estaria apenas com um revólver 38. Em tom irônico, em outros trechos, ele comenta sobre todos serem "pistoleiros".

"Vê como é que tu me ajuda pra comprar a pistola. Tu é doido, tô andando só com o 'oitão' aqui. Ainda mais nós, que somos pistoleiros, Maguim, tem que botar na cabeça que somos pistoleiros", diz.

Operação prendeu 13 pessoas

O Greco informou que apura quais dos policiais presos na operação desta segunda participavam diretamente crimes e quantos homicídios podem ter sido praticados pelo grupo criminoso.

A suspeita é que eles interceptassem cargas de contrabando, em especial de cigarro, para vender. Além disso, são suspeitos de invadir bocas de fumo, roubar entorpecentes e repassar a droga a outros grupos de traficantes, mediante pagamento.

"Eles roubavam cargas de contrabando, principalmente cigarros e revendiam depois. Atacavam pontos de venda de entorpecentes, atacavam aqueles que não podiam registrar ocorrência. Tomavam de uns pontos e revendiam em outros. Além de crimes de pistolagem, por dinheiro e armas", explicou o secretário de segurança.

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