17/11/2016 13h32 - Atualizado em 17/11/2016 21h28

'Listinha' difama adolescentes e causa polêmica em Boa Esperança do Sul

Jovens mencionadas na relação contam que viraram motivo de piada.
Caso foi registrado junto à Polícia Civil e está sendo investigado.

Thayná Cunha*Do G1 São Carlos e Araraquara

Uma lista que difama jovens de Boa Esperança do Sul (SP) está causando polêmica nas redes sociais. Chamada de "Listinha de Bes", ela utiliza palavras pejorativas para descrever as adolescentes, em sua maioria garotas entre 14 e 17 anos, expondo a opção sexual e a religião de algumas delas. Parte das vítimas registrou boletim de ocorrência e o caso está sendo investigado.

As garotas não sabem precisar quando a lista começou a circular entre os rapazes da cidade. Elas descobriram nesta semana e, desde então, outras versões estão sendo compartilhadas em grupos de mensagens instantâneas.

“Já virou uma roda. Chega em outra pessoa, que escreve mais uma de outras meninas que não foram citadas, e por aí vai, difamando todas as mulheres daqui. Começou com uma, agora já são mais de dez listas”, disse uma das meninas.

As adolescentes contaram que viraram motivo de piada entre os amigos da escola e estão recebendo mensagens de várias pessoas perguntando sobre o que foi escrito.

“Em mim mesmo chegou um cara perguntando se eu queria dar um ‘rolê’ com ele. Óbvio que eu xinguei, porém não adiantou nada, ele voltou a zoar e eu saí de perto”, contou outra jovem, de 18 anos.

Primeira lista divulgada expôs intimidade de mulheres de Boa Esperança do Sul (Foto: Reprodução/Facebook)Primeira lista divulgada difamou e expôs intimidade de mulheres da cidade (Foto: Reprodução/Facebook)
Agora eu estou aqui na escola
e dá para ouvir as pessoas comentando. Tem gente escrevendo em folha na sala, brincando com os amigos e
rindo da minha cara"
Adolescente citada na lista

“Agora eu estou aqui na escola e dá para ouvir as pessoas comentando. Tem gente escrevendo em folha na sala, brincando com os amigos e rindo da minha cara. Deve ter começado assim, com essas mesmas atitudes, e o pior é que dá raiva e não dá para fazer nada. Até para outras cidades já está indo”, desabafou outra garota.

Enquanto alguns moradores compartilham, outros repudiam a lista e condenam a exposição das garotas. Elas também recebem o apoio das famílias.

"Isso é coisa de quem não tem o que fazer. Se a minha filha for lésbica, o problema é somente dela", afirmou a mãe de uma das vítimas.

Crime de honra
Para a Polícia Civil, esse tipo de caso é considerado crime contra a honra e a pena pode variar de um a três anos de prisão e multa. Nos casos envolvendo religião, raça ou cor, há acréscimo de um a seis meses de detenção, dependendo do tipo de ofensa.

Delegado Ricardo Farah (Foto: Reprodução/EPTV)Delegado Ricardo Farah recomenda que vítimas
registrem a ocorrência (Foto: Reprodução/EPTV)

"Dependendo das ofensas, pode ser tratado como injúria, calúnia ou difamação, mas só pode haver prosseguimento se tiver representação das vítimas”, explicou o delegado da cidade, Ricardo Farah.

Ele afirmou que esse tipo de investigação é complicada, mas o município já obteve êxito em outros casos e pessoas relacionadas à lista estão sendo chamadas à delegacia para esclarecimentos.

“Todas as publicações deixam algum tipo de rastro, então por conta disso existe a possibilidade de se chegar aos autores, não é algo impossível. Não é uma investigação simples porque requer informações que precisam de auxílio das operadoras e do meio de comunicação usado, podemos fazer por meio de rastreamento de I.P. ou até mesmo da internet usada”, exemplificou.

Ele também lembrou alguns cuidados importantes no uso da internet. “Hoje é muito simples para a pessoa conseguir entrar no computador, retirar uma foto e usar isso dentro de uma difamação. Alguns cuidados precisam ser revistos, como deixar as redes sociais restritas para os amigos, embora mesmo atitudes como essa ainda não impeçam a ação porque ninguém está imune”.

Segundo caso
A lista é o segundo caso de difamação de jovens registrado na cidade desde o ano passado.

No primeiro episódio, em fevereiro de 2015, garotas e rapazes foram expostos em vídeos que associavam imagens e descrições pejorativas. A polícia não foi procurada e ninguém foi preso.

*Sob a supervisão de Stefhanie Piovezan, do G1 São Carlos e Araraquara

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