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Greta Thunberg é escolhida a personalidade do ano pela revista 'Time'

Ativista sueca, de 16 anos, se tornou um símbolo do ativismo ambiental por mudanças nas políticas climáticas
Greta Thunberg foi escolhida a personalidade de 2019 pela 'TIME' Foto: Reprodução
Greta Thunberg foi escolhida a personalidade de 2019 pela 'TIME' Foto: Reprodução

RIO — A ativista sueca Greta Thunberg, de 16 anos, foi escolhida a personalidade do ano pela revista "Time". O título é concedido anualmente a pessoas que, por diferentes razões, se destacaram por suas atividades.

Greta, chamada na última terça-feira de "pirralha" pelo presidente Jair Bolsonaro, tornou-se internacionalmente conhecida pelas mobilizações no seu país natal que inspiraram jovens de todo o mundo a cobrar ações concretas de governos contra as mudanças climáticas.

A ativista reagiu à notícia em uma publicação no Twitter: "Wow, isso é inacreditável! Divido essa grande honra com todos do movimento #FridaysForFuture e ativistas climáticos de todos os cantos", escreveu.

A jovem ativista Greta Thunberg, de 16 anos, acusou líderes políticos e empresariais de preferirem cuidar de suas próprias imagens a tomar medidas agressivas na luta contra a mudança climática durante um evento na 25ª Conferência do Clima da ONU (COP-25), em Madri.
A jovem ativista Greta Thunberg, de 16 anos, acusou líderes políticos e empresariais de preferirem cuidar de suas próprias imagens a tomar medidas agressivas na luta contra a mudança climática durante um evento na 25ª Conferência do Clima da ONU (COP-25), em Madri.

A "Time" destacou na capa da sua próxima edição, junto à nomeação da jovem de 16 anos, o "poder da juventude". Greta é a pessoa mais jovem da História a ser escolhida, desde 1927. A indicação não é um prêmio, mas representa a pessoa ou grupo que mais influenciou eventos no ano — ou seja, que, de alguma forma, mudou a História.

Greta está em Madri, onde acompanha a COP-25. A jovem, na última sexta-feira, foi a principal estrela de uma manifestação de milhares de pessoas pelas ruas da capital espanhola.

Desde que chegou à conferência, fez duras críticas ao assassinato de indígenas ao redor do planeta, incluindo o Brasil, o que irritou Bolsonaro, que a chamou de "pirralha".

— Greta já falou que os índios morreram porque estavam defendendo a Amazônia. É impressionante a imprensa dar espaço para uma pirralha dessa aí. Pirralha — disse o presidente.

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Filha de uma cantora de ópera e um pai ator e produtor, a adolescente parece não se abalar com críticas ou fake news, como as que diziam que era neta do bilionário George Soros. A fama de Greta começou a partir de protestos solitários que realizava diante do parlamento da Suécia, em Estocolmo, que levaram a greves escolares que se galvanizaram ao redor do globo.

Como a própria "Time" destacou na justificativa pela escolha, o perfil da jovem se assemelha aos dos filhos de pais de "todos os cantos do mundo": uma adolescente "indignada com explosões repentinas de rebeldia".

“É o começo de uma extinção em massa e tudo o que vocês fazem é falar de dinheiro e contos de fada sobre um eterno crescimento econômico. Como se atrevem?”

Greta Thunberg, 16 anos, ativista ambiental
Durante a Cúpula do Clima da ONU, em Nova York

No período de um ano, pontua a publicação americana, a mobilização da jovem em Estocolmo engatilhou um movimento jovem mundial e a levou para encontros com o secretário-geral das Nações Unidas e encontros com chefes de Estado e de governo e com o próprio Papa Francisco. As palavras de ordem originais, "Koklstrejk för Klimatet" ("greve escolar pelo clima", em português) ultrapassaram barreiras e inspiraram marchas e protestos nas ruas de cidades de mais de 150 países.

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"Thunberg não é uma líder de um partido político ou de grupos que advogam por agendas. Ela também não é a primeira a soar o alarme a respeito da crise climática, nem é a mais adequada para resolver esse problema. Não é uma cientista nem uma política; não tem acesso a níveis de influência tradicionais, pois não é bilionárioa nem é uma princesa, uma estrela pop ou mesmo uma adulta. Ela é uma adolescente comum que, a partir da sua coragem de falar a verdade para poderosos, se tornou o ícone de uma geração", segue a "Time".

Mudança geracional

"Mudanças significativas raramente acontecem sem a força disseminada por indivíduos influentes, e, em 2019, a crise existencial vivida pela Terra encontrou esse pilar em Greta Thunberg", justificou a revista, citando os protestos "Sexta-feira pelo Futuro", que eclodiram na Europa; as marchas pelo clima que, em setembro, reuniram sete milhões de grevistas climáticos pelo mundo e o duro discurso feito pela jovem na Cúpula do Clima, nas Nações Unidas, conhecido pela frase "como se atrevem?", direcionada aos líderes mundiais.

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Para a "TIME", Greta, portadora da síndrome de Asperger, um dos transtornos do espectro do autismo, se transformou na "maior voz do maior desafio enfrentado pelo planeta, e o símbolo de uma mudança geracional na cultura ainda mais ampla, refletida em todos os lugares, dos campi universitários de Hong Kong às câmaras do Congresso dos Estados Unidos".

Citando a brasileira Isabella Prata, mãe de dois grevistas climáticos de São Paulo, "Greta é a imagem dessa geração".

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A ativista ambiental brasileira Paloma Costa, de 27 anos, que esteve ao lado de Greta na Cúpula do Clima, em Nova York, comemorou a decisão diretamente de Madri:

— Fico muito feliz com a escolha e por ela continuar comprometida com a mesma causa que a gente, apesar das diferenças de realidade. Acho que a importância da Greta é justamente trazer visibilidade para o tema das mudanças climáticas, que antes não existia. Outra coisa que me deixa contente é o fato de ela mesma ter reconhecido, numa coletiva que deu na COP, que não representa rozinha o ativismo da juventude sobre o clima.

Em Madri, a jovem sueca tem defendido incisivamente, junto de outras lideranças juvenis, que os países signatários do Acordo de Paris assumam suas responsabilidades diante das metas firmadas pelo tratado em 2015 a partir do próximo ano.

Nesta manhã, na COP-25, Greta acusou chefes de Estado de não agirem na intensidade necessária para contornar a crise climática, já sentida por vários países do mundo.

No passado, ela também atraiu a irritação de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, durante a Cúpula do Clima organizada pela ONU na sede da entidade, em Nova York. Na ocasião, o presidente americano fez referências irônicas à adolescente.

"Ela parece uma menina muito feliz, olhando para um futuro brilhante e maravilhoso. Que lindo de ver!", escreveu Trump no Twitter, ao replicar um vídeo do discurso de Greta na Cúpula.

O nome da ativista sueca chegou a liderar as principais bolsas de aposta para o prêmio Nobel da Paz deste ano. Embora a lista de indicados seja mantida em sigilo por décadas, fontes ligadas à Academia Nobel à época deram como certo que Greta estava entre os nomes cogitados. O escolhido, no entanto, foi o primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, pelo acordo de paz costurado com a Eritreia.

Em 2018, a "Time" indicou o jornalista saudita Jamal Khashoggi, opositor político do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman e assassinado no interior da embaixada da Arábia Saudita na Turquia em 2018, junto de um grupo de jornalistas pelo esforço na busca pela verdade, a despeito de um ambiente de violência contra repórteres e ameaças à liberdade de expressão. Na ocasião, o Brasil foi um dos países citados pela publicação como um ambiente hostil ao exercício do jornalismo.