Política

Na lista vermelha da Interpol, acusado de atacar Porta dos Fundos publica vídeo e comemora censura

Em post nas redes sociais, Eduardo Fauzi diz que decisão do desembargador Benedicto Abicair, do TJ-RJ, é uma "vitória do povo brasileiro"
Eduardo Fauzi, de 41 anos, grava vídeo de Moscou comemorando decisão que censurou especial do Porta dos Fundos Foto: Reprodução
Eduardo Fauzi, de 41 anos, grava vídeo de Moscou comemorando decisão que censurou especial do Porta dos Fundos Foto: Reprodução

RIO — O empresário Eduardo Fauzi, de 41 anos, acusado de participar do ataque à produtora do Porta dos Fundos, comemorou nesta quinta-feira a decisão do desembargador Benedicto Abicair, da 6ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) de censurar o “ Especial de Natal Porta dos Fundos : A Primeira Tentação de Cristo”. Em um vídeo nas redes sociais, Fauzi — que está foragido da Justiça brasileira e já entrou na lista vermelha da Interpol pela suspeita do crime — diz que a decisão de Abicair é "uma vitória de todo povo brasileiro". Ele termina a gravação com a saudação "Anauê", usada pelos integralistas, grupo fascista brasileiro.

— Essa vitória é uma vitória de todo povo brasileiro. Eu fico chateado quando vejo padres e pastores dizendo: "Eu queria ver se fosse com Maome, se fosse no oriente médio". O Brasil tem homem, o Brasil tem macho para defender a igreja de cristo e a Pátria brasileira — diz no vídeo de 1 minuto e quinze segundos.

 

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Fauzi parabeniza a Justiça, a Associação Centro Dom Bosco de Fé e Cultura, que entrou com o pedido no TJRJ para que o especial do Porta fosse retirado do ar, e a "todo mundo que rezou, que militou, que batalhou".

— A luta continua, mas a vitótia é nossa. Muito feliz, muito feliz. Anauê — diz Fauzi.

O desembargador Abicair, da 6ª Câmara Cível do TJRJ determinou na quarta-feira a retirada do especial da Netflix e a suspensão de trailers, making of, propagandas, "ou qualquer alusão publicitária ao filme" na plataforma e em qualquer outro meio de divulgação.

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O pedido de suspensão feito pelo centro Dom Bosco havia sido negado em primeira instância pela juíza Adriana Sucena Monteiro Jara Moura. O centro recorreu da decisão, mas o desembargador de plantão confirmou o entedimento de Adriana e não concedeu a liminar para tirar o especial do Porta dos Fundos do ar.

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Com o fim do recesso no Tribunal de Justiça do Rio, o processo foi distribuído para Abicair. Ao decidir pela suspensão do filme, o desembargador afirma que, nessa fase do processo, ainda não há como decidir se houve incitação ao ódio público por parte da produtora e "com quem está a razão", mas para "acalmar os ânimos" da sociedade entende ser "mais adequado e benéfico" suspender a exibição.

"Por todo o exposto, se me aparenta, portanto, mais adequado e benéfico, não só para a comunidade cristã, mas para a sociedade brasileira, majoritariamente cristã, até que se julgue o mérito do Agravo, recorrer-se à cautela, para acalmar ânimos, pelo que condedo a liminar na forma requerida", diz um trecho da decisão. A produtora disse ao GLOBO que ainda não foi oficialmente notificada sobre a suspensão. A Netflix informou que, por enquanto, não irá se manifestar sobre o caso.

Em nota, o Porta dos Fundos afirma que é contra "qualquer ato de censura, violência, ilegalidade, autoritarismo e tudo aquilo que não esperávamos mais ter de repudiar em pleno 2020". A empresa diz que seu trabalho "é fazer humor e, a partir dele, entreter e estimular reflexões".

"Para quem não valoriza a liberdade de expressão ou tem apreço por valores que não acreditamos, há outras portas que não a nossa. Seguiremos publicando nossos esquetes todas as segundas, quintas e sábados em nossos canais. Por fim, acreditamos no Poder Judiciário em manter a defesa histórica da Constituição Brasileira e seguimos com a certeza que as instituições democráticas serão preservadas".

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Interpol emite alerta vermelho

Fauzi é considerado foragido da Justiça brasileira. O diretor executivo da Polícia Federal, Disney Rosseti, afirmou na quarta-feira que a Interpol emitiu alerta vermelho para a prisão de Fauzi.

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De acordo com Rosseti, as autoridades brasileiras aguardam agora a resposta das autoridades russas, para onde Fauzi fugiu. O Brasil e a Rússia mantêm um acordo para extradição de cidadãos que cometeram crimes em ambos os países. O Itamaraty entrou em contato com as autoridades russas para iniciar os trâmites para extradição.

Após análise de câmeras de segurança, Fauzi foi identificado como um dos homens que aparecem atirando coquetéis molotov na sede da produtora carioca.