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Efigênia Angola, Francisca Muniz forra parda, seus parceiros e senhores: freguesias rurais do Rio de Janeiro, século XVIII. Uma contribuição metodológica para a história colonial*

Resumos

Este artigo pretende contribuir para a metodologia de investigação da dinâmica social da sociedade estabelecida após a conquista da América lusa, através da análise de aspectos das estratégias de vida de escravos pardos e forros - como Efigênia Angola, Francisca Muniz e outros sujeitos sociais - nas freguesias rurais do Rio de Janeiro, ao longo do século XVIII. A análise foi desenvolvida a partir do cruzamento de informações presentes nos registros paroquiais dos batismos, nas visitações eclesiásticas e nos inventários post-mortem, na perspectiva das técnicas da história serial e da microhistória italiana.

escravidão brasileira; elite rural colonial; império ultramarino luso; metodologia de história social.


This paper aims to contribute to the research methodology of the social dynamics in Portuguese America's society, which was established after the conquest, through the analysis of aspects of life strategies of mulatto slaves and former slaves - as Efigênia Angola, Francisca Muniz and other social individuals - in the Rural Church Districts of Rio de Janeiro, during the eighteenth century. The analysis was developed from crossing of information from parish registers of baptisms, visitations in Ecclesiastical and postmortem inventories, with the approaches of the serial history's techniques and Italian micro-history.

Brazilian slavery; rural elite colonial; Portuguese overseas empire; methodology of social history.


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  • 1
    THOMPSON, Edward P. Tradición, revuelta y consciencia de clase. Barcelona: Ed. Crítica, 1979; LEVI, Giovanni. Centro e periferia di uno stato assoluto. Turin: Rosemberg & Seller, 1985; LEVI, Giovanni. A herança imaterial: trajetória de um exorcista no Piemonte do século XVII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000; GRENDI, Edoardo. Il cervo e la repubblica: il modello ligure di antico regime. Milão: Enaudi, 1992.
  • 2
    FLEURY, M. & HENRY, L. Nouveau Manuel de dépouillement et d'explotation de l'etat civil ancien . Paris: I.N.E.D., 1965; GOUBERT, P. Cent mille provinciaux au XVII siecle - Beauvais et le Beauvaisis de 1600 a 1730. Paris: Flamarion, 1968; MARCÍLIO, Maria Luiza (Org.). População e sociedade. Petrópolis: Vozes, 1984; CARDOSO, Ciro F. S. & BRIGNOLI, Héctor Pérez. Os Métodos da História. Rio de Janeiro: Graal, 1979.
  • 3
    Vide o método de reconstrução de paróquias de AMORIM, Maria Norberta. Reconstituição de paróquias e análise demográ-fica. Estudo comparativo de gerações nascidas em duas paróquias periféricas de Portugal entre 1680-1850". In: REHER, David. Reconstituição de famílias e outros métodos microanalíticos para a História das Populações. Porto: Afrontamento, 1993. vol. I.
  • 4
    LABROUSSE, Ernest. Fluctuaciones económicas y Historia Social. Madrid: Editorial Tecnos, 1962; VILAR, Pierre. Desenvolvimento econômico e análise histórica. Lisboa: Editorial Presença, 1982. DAUMARD, Adeline et alii. História social do Brasil: teoria e metodologia. Curitiba: Editora da UFPr, 1984; DAUMARD, Adeline (Org.). Les fortunes française aux XIXe siécle. Paris: École Pratique des Hautes Etudes, 1973.
  • 5
    GRENDI, Edoardo. La microanalisi: fra antropologia e storia. In: Polanyi: dall'antropologia economica alla microanalisi storica. Milão: Etas Libri, 1978; LEVI, Giovanni. Centro e periferia di uno stato assoluto. Turin: Rosemberg & Seller, 1985; LEVI, Giovanni. A herança imaterial, op. cit.; GINZBURG, Carlo. O nome e o como. In: A micro-história e outros ensaios. Lisboa: Difel, 1991.
  • 6
    LEVI, Giovanni. Centro e periferia di uno stato assoluto, op. cit.
  • 7
    BARTH, Fredrik. Process and form in social life. London: Routlegde & Kegan Paul, 1981. vol. 1.
  • 8
    Entre os estudos pioneiros, destaque-se o livro de Sheila Castro Faria, A Colônia em movimento: fortuna e família no cotidiano colonial (Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998). Ainda na década de 1990, José Roberto Góes, em sua dissertação de mestrado, demonstrou teias de alianças, via compadrio, entre escravos de diferentes senhores (Cf. GÓES, José Roberto. O cativeiro imperfeito: um estudo da escravidão no Rio de Janeiro da primeira metade do século XIX. Vitória: Lineart, 1993). Em um segundo livro, em co-autoria com Manolo Garcia Florentino, Góes volta a cruzar registros paroquiais com outras fontes (Cf. FLORENTINO, Manolo & GÓES, José Roberto. A paz nas senzalas: famílias escravas e tráfico atlântico (Rio de Janeiro, 1790 - 1850). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1997).
  • 9
    BRÜGGER, Silvia Maria Jardim. Minas Patriarcal, família e sociedade. Belo Horizonte: Annablume, 2007; GUEDES, Roberto. Egressos do cativeiro: trabalho, família, aliança e mobilidade social. Rio de Janeiro: FAPERJ / Mauad, 2008; MACHADO, Cacilda. A trama das vontades: negros, pardos e brancos na construção da hierarquia social do Brasil escravista. Rio de Janeiro: Ed. Apicuri, 2008; HAMEISTER, Martha Daisson. Para dar calor à nova povoação: estudo sobre estratégias sociais e familiares a partir dos registros batismais da Vila do Rio Grande (1738-1763). Rio de Janeiro: UFRJ, 2006. Tese (Doutorado) - Programa de Pós-graduação em História Social, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2006; PEDROZA, Manuela. Engenhocas da moral: uma leitura sobre a dinâmica agrária tradicional. Campinas: Unicamp, 2008. Tese (Doutorado); Universidade Estadual de Campinas, 2008.
  • 10
    Inventário post-mortem de Ana Maria de Jesus - 1795. Arquivo Nacional, Número 9.225 e cx. 872.
  • 11
    Os escravos qualificados constituírem uma elite nas senzalas não é uma particularidade na América lusa; o mesmo ocor-ria no Caribe. Porém, nesta última área tal elite era composta por africanos velhos. Portanto, a novidade na América lusa é o fato de a elite das senzalas ser constituída por crioulos e ainda por pardos; ou seja, por gerações, descendentes de africanos que conseguiram dominar os códigos sociais da nova sociedade.
  • 12
    PIZARRO, José de Sousa Azevedo. O Rio de Janeiro nas visitas pastorais de Monsenhor Pizarro. Rio de Janeiro: INEPAC, 2008. vol. 1. p. 66.
  • 13
    LAVRADIO, Marquês do. Relatório do Marquês do Lavradio, Vice-Rei do Rio de Janeiro, entregando o Governo a Luiz de Vasconcellos e Souza, que o succedeu no Vice-Reinado. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro, vol. 4, nº. 16, 1842. p. 321.
  • 14
    Por cercania, entendo distrito no qual morava o declarante. No caso, o distrito tem o mesmo nome do engenho e, provavel-mente, a cerimônia do batizado foi realizada na capela da dita fábrica. Assim, tal capela e engenho faziam parte da sociabilidade dos agentes considerados. O morador, desta forma, é entendido em sentido lato, isto é, como um sujeito que reside no engenho ou vive em sua cercania estando, assim, submetido às regras de sociabilidade do universo relacional do engenho.
  • 15
    FRAGOSO, João. O capitão João Pereira Lemos e a parda Maria Sampaio: notas sobre hierarquias rurais costumeiras no Rio de Janeiro, século XVIII. In: OLIVEIRA, Mônica Ribeiro de & ALMEIDA, Carla Maria Carvalho de (Orgs.). Exercícios de Micro História. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2009.
  • 16
    Para a ideia de clientela, ver QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. O coronelismo numa interpretação sociológica. In: FAUSTO, Boris (Org.). História Geral do Brasil. 8. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006. Tomo III, vol. 8; WOLF, Eric. Parentesco, amizade e relações patrono-cliente em sociedades complexas. In: FELDMAN-BIANCO, Bela & RIBEIRO, Gustavo Lins. Antropologia e poder: contribuições de Eric Wolf. Brasília: UNB, 2003.
  • 17
    Esta elite rural, por mim denominada de nobreza principal da terra, partia da ideia de que o povoamento e a ocupação da conquista do Rio de Janeiro, para o bem da monarquia, deveria ser feito através de engenhos. Os agentes de tal processo, merecedores, portanto, da graça do Príncipe - ou seja, a nobreza principal da terra - são mencionados na correspondência a seguir, enviada ao Rei, pelos cidadãos da cidade, em 1735. "É sem dúvida, que a utilidade desta capitania tem total dependência da conservação dos engenhos, que nela há, reedificação dos mesmos, criação de outros novos, trilhando-se os sertões e cultivando as terras; por que sem serem habitadas (...) se não segura o domínio real, o que bem servido por sua Majestade, foi servido dispor no capítulo 14 do regimento dos governadores (...) que aumentasse esta capitania, e que seus moradores a cultivassem e povoassem pela terra dentro fazendo cultivar as terras, e que se edificassem novos engenhos e os que de novo se reedificarem. (...) É também sem controvérsia infalível que para aumento desta capitania é muito conveniente se aumente a nobreza dela e tenham as pessoas que servem sua majestade a justa remuneração dos seus serviços. (...) As pessoas que devem entrar na governança da república e exercer os cargos dela, seja enquanto aos naturais, os filhos e netos dos cidadãos descendentes dos conquistadores daquela capitania, de conhecida e antiga nobreza, e de nenhuma sorte os netos e descendentes de oficiais mecânicos ou de avós de inferior condição, sem embargo de que alguns por possuírem cabedais estejam vivendo a lei da nobreza, e no que respeita aos oriundos deste reino, que se acham moradores vizinhos daquele povo sejam os que tiverem os foros de graduação da casa de V.M. com a moradia de moços fidalgos, fidalgos escudeiros e fidalgos cavaleiros e os criados de V.M., ou as pessoas de notória nobreza". Fonte: AHU, Resgate, RJ. cd. 3. rolo 40, cx. 40. doc. 9406. 1735. Oficiais da Câmara. Francisco Viegas Leitão e Souza, Eusébio Álvares Ribeiro, Sebastião Gurgel do Amaral, Amaro dos Reis Timbau e escrivão José Vargas Pizarro.
  • 18
    Uma das primeiras notícias do engenho, da qual sairiam os ramos Macedo Freire, Barbosa Sá Freire e Macedo Vasconcelos da linhagem Viegas é da escritura de arrendamento para plantação de cana feita por Francisco Paes Ferreira, integrante de tal parentela, em 1611, em São Gonçalo. Arquivo Nacional, Escritura de arrendamento feita no primeiro cartório do Rio de Janeiro.
  • 19
    Nos registros paroquiais de batismos e casamentos de São Gonçalo de meados século XVII, época em que ainda existiam diversas famílias dos primeiros povoadores da cidade, entre as descendentes dos conquistadores, o título de donaera concedido pelo cura e demais fregueses às mulheres com parentesco direto com fidalgos da casa real, cavaleiros das ordens militares e oficiais régios. Assim, nesta época além da ascendência na conquista da capitania, as famílias com maior prestígio social eram aquelas com serviços registrados e reconhecidos pela monarquia. Por seu turno, com o passar do tempo, o serviço prestado à monarquia na época da conquista passou a ser considerado, aos olhos da sociedade colonial, como suficiente para a família ter prerrogativa de mando e suas mulheres ostentarem o título de dona. Cabe ainda lembrar que nas escrituras públicas, as registradas nos cartórios, as senhoras recebem a insígnia de donaconforme os critérios acima apresentados.
  • 20
    LEVI, Giovanni. A herança imaterial, op. cit., p. 92.
  • 21
    SKINNER, Quentin. As fundações do pensamento político moderno. São Paulo: Cia. das Letras, 2006. Capítulo 14; HESPANHA, Antônio Manuel. As vésperas do Leviathan: instituições e poder político em Portugal - Séc. XVII. Coimbra: Almedina, 1994; FRAGOSO, João & GOUVÊA, Maria de Fátima Silva. Monarquia pluricontinental e repúblicas: algumas reflexões sobre a América lusa nos séculos XVI -XVIII. Tempo, Niterói: Revista do Departamento de História da UFF, vol. 14, nº. 27, 2009.
  • 22
    FRAGOSO, João. O capitão João Pereira Lemos e a parda Maria Sampaio..., op. cit.
  • 23
    WOLF, Eric. Parentesco, amizade e relações patrono-cliente em sociedades complexas..., op. cit., p. 95.
  • 24
    Ver GENOVESE, Eugene. A terra prometida: o mundo que os escravos criaram. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.
  • 25
    AHU, RJ, Ca., cd. 5. cx. 55, doc. 12.945. 1745. Requerimento dos pardos e forros da cidade.
  • 26
    AHU, RJ, Av. doc. 4669, 2 de Maio de 1753. Denúncia do bacharel Simão Pereira de Sá contra Ângela de Mendonça.
  • 27
    Cf. Inventário post-mortem de Manoel Antunes Suzano e de sua mulher Maria Januária Galvez Palença - 1818, cx. 3.622, DEP 511. Arquivo Nacional do Rio de Janeiro.
  • 28
    Ver FREYRE, Gilberto. Casa-grande e senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. São Paulo: Global, 2006.
  • 29
    RHEINGANTZ, Carlos G. Primeiras famílias do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Livraria Brasiliana Editora, 1965, v. 2. p. 549.
  • 30
    Para a trajetória desta família e aspectos de sua estratégia ver PEDROZA, Manuela. Engenhocas da moral..., op. cit., p. 57.
  • 31
    FRAGOSO, João. Capitão Manuel Pimenta Sampaio, senhor do engenho do Rio Grande, neto de conquistadores e com-padre de João Soares, pardo: notas sobre uma hierarquia social costumeira (Rio de Janeiro, 1700-1760). In: GOUVÊA, Maria de Fátima Silva & FRAGOSO, João (Orgs.). Na trama das redes: política e negócios no império português, séculos XVI- XVIII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009.
  • 32
    Não me detive no expediente de transformar tais filhos em expostos.
  • 33
    Para estes critérios ver FRAGOSO, João. O capitão João Pereira Lemos e a parda Maria Sampaio..., op. cit. Esses dados biográficos podem ser conseguidos principalmente através do cruzamento das diferentes posições que um mesmo sujeito pode ocupar nos assentos paroquiais de batismo (pai, padrinho, procurador, avô etc.) e casamentos (noivo, pai, testemunha etc.).
  • 34
    O vocábulo "dona", segundo as normas de tratamento do Reino, devia ser aplicado somente para designar tão somente as mulheres das famílias reconhecidas pela coroa como fidalgas e nobres. Cf. OLIVEIRA, Luiz Pereira. Os privilégios da nobreza e fidalguia de Portugal. Lisboa: 2002 (primeira edição 1806). No caso analisado a aplicação de tal título foge à norma consagrada no Reino.
  • 35
    BARTH, Fredrik. Process and form in social life, op. cit., especialmente capítulos 1-6.
  • 36
    Desnecessário dizer que usamos o conceito de fecundidade aqui de uma forma livre; na verdade preocupo-me apenas em calcular o número de crianças batizadas pelo número de mães num dado período de tempo.
  • 37
    PIZARRO, José de Sousa Azevedo. O Rio de Janeiro nas visitas pastorais..., op. cit., p. 92 e 95.
  • 38
    Sobre este tema e hipótese ver PEDROZA, Manuela. Engenhocas da moral..., op. cit.
  • 39
    José Cardoso dos Santos, Inventário post-mortem, 1822. 5. Maço 3763 Arquivo Nacional. Sobre a freguesia e seus engenhos vide PEDROZA, Manuela. Engenhocas da moral..., op. cit.
  • 40
    Segundo Manoela Pedroza, essas famílias senhoriais são portadoras de estratégias diferentes daquelas dos conquistadores. Para o tema vide PEDROZA, Manuela. Engenhocas da moral..., op. cit.
  • 41
    Ver PEDROZA, Manuela. Engenhocas da moral..., op. cit.
  • 42
    Acredito que, a partir do século XVI, no recôncavo da Guanabara, inicia-se a criação de uma sociedade de tipo antigo, por-tanto, estamental. Porém, no processo geracional de tal sociedade a ascensão social, seja para a nobreza da terra, ou os forros, passou a ser uma regra. Assim, a mudança de estamento era uma dos fenômenos presentes na reiteração de tal sociedade.
  • 43
    O grande número de filhos por mãe da nobreza da terra - 2.8 por casal de quinhentistas e 3.5 com esposos livres - estava também em outras freguesias, como em Guaratiba de 1770 (2.5). Talvez essa preocupação as mãe quinhentista em ter uma grande prole, tenha sido uma prática cultural característica do segmento considerado.
  • 44
    Genovese constata para o Sul dos Estados Unidos, depois da Guerra Civil, situações de instabilidade entre os escravos, com a derrocada da velha aristocracia escravista sulista. Para os escravos, o fim da guerra e a liberdade representaram, também, a perda de redes de proteção e direção. GENOVESE, Eugene. A terra prometida..., op. cit.
  • 45
    FRAGOSO, João. Homens de grossa aventura : acumulação e hierarquia na praça do Rio de Janeiro, 1790-1830. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira (1ª edição 1992). FLORENTINO, Manolo Garcia. Em costas negras: uma história do tráfico de escravos entre a África e o Rio de Janeiro (séculos XVIII e XIX). São Paulo: Companhia das Letras, 1997. SAMPAIO, Antônio Carlos Jucá de. Na curva do tempo, na encruzilhada do Império: hierarquização social e estratégias de classe, a produção da exclusão (Rio de Janeiro, c. 1650 - c. 1750). Rio de Janeiro, Arquivo Nacional, 2003. Devo frisar que neste ensaio não tive a intenção de analisar o processo de definhamento da antiga nobreza da terra e muito menos o avanço dos negociantes de grosso trato no Rio de Janeiro. Para tanto vide. FRAGOSO, João. À espera das frotas: micro-história tapuia e a nobreza principal da terra (Rio de Janeiro, c.1600 - c.1750). Conferência apresentada no Concurso Público para Professor Titular de Teoria da História do Departamento de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2005 (texto inédito). 46 Ver PEDROZA, Manuela. Engenhocas da moral..., op. cit.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Dez 2010
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