• Walter Casagrande
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Não foi dessa vez, Ney (Foto: reprodução Instagram)

Poucas vezes na história da seleção brasileira uma desclassificação de Copa do Mundo foi tão bem assimilada por jogadores, comissão técnica, dirigentes e torcedores como a nossa derrota para a Bélgica. Triste, claro, mas cheia de aprendizados positivos. Dois em especial: o fato de não ser vencedor está longe de invalidar o trabalho (no caso, do Tite, comissão e jogadores), e o de que se formos batalhadores e transparentes, a população estará conosco qualquer que seja o resultado. Esse, para mim, foi o grande legado da Copa da Rússia e a maior parte das manifestações que vi após a eliminação foram nesse sentido.

Uma, no entanto, destoou muito. Edu Gaspar, coordenador técnico da Seleção, disse que a pressão sobre Neymar chegava a dar pena. “Se Neymar dá um sorriso, ele é criticado e elogiado. Se o Neymar chora, é criticado e elogiado. Se o Neymar não dá entrevista, é elogiado e criticado. Procurei estar sempre ao lado dele, confortando. Chega a dar pena em alguns momentos, porque o que esse menino sofre não é fácil”, disse ele.

Que a pressão sobre o camisa 10 do Brasil é enorme, não há dúvidas. Sempre vai ser. E quando ele é alguém com o talento indiscutível de Neymar, obviamente a expectativa será ainda maior. Daí a ter pena vai uma distância tão grande quanto à da condição média de um trabalhador brasileiro com a situação financeira de um jogador de futebol de alto nível, como é o caso de qualquer um que serve à Seleção.

Eu não queria estar na pele é de um típico trabalhador brasileiro, que precisa acordar às 5hs, 6hs da manhã todos os dias, tomar um pingado e pegar três conduções num transporte público precário só para chegar ao trabalho. Quem, que no final do mês ainda precisa fazer as contas, porque o seu salário mínimo tem de ser dividido entre as despesas básicas, compras da casa, material escolar para os filhos, não gostaria de estar na pele de um jogador?

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Neymar faz post no Instagram pós derrota ao enfrentar  Bélgica (Foto: reprodução Instagram)

Exagero? Se for, e não acho que seja, é muito menor do que o de ter pena do Neymar. Discordo radicalmente da postura adotada pela comissão técnica para blindar o craque. Aos 26 anos, ele, como pouquíssimos, sabe como lidar com a pressão. Em campo, o faz com dribles desconcertantes e alegria inegável. Fora dele, sabe como ninguém a dificuldade de ser jogador de grandes clubes. Sentiu isso quando se tornou protagonista do Santos, quando saiu de lá para ir ao Barcelona, onde ganhou a Champions, Mundial de Clubes, entre outros, e mais recentemente ao ir para o PSG, numa das mais caras transferências do futebol mundial. Não dá para ter pena, né?

A cobrança sobre Neymar é proporcional ao que ele joga. Ou seja, muito! E quem tem tal status deve estar preparado para liderar. Aos 26 anos, ele está muito mais preparado do que antes, mas distante do que deveria estar. Falar ao seu povo após uma derrota dolorida, mas honrada, era o mínimo. Muitos o fizeram com a dignidade esperada. Casos de Paulinho, Marcelo, Renato Augusto, Miranda. Outros, é verdade, falharam como ele. Messi é o principal mau exemplo neste sentido. Cristiano Ronaldo, evitou o oba oba das vitórias, e apareceu na hora da derrota.

Falar via Instagram é fácil e pouco significa. Num país como o Brasil, onde a desigualdade é enorme e o futebol é um dos poucos escapes da população, esperança e frustração caminham lado a lado, seja na torcida do clube de coração ou da  seleção. Quem quer liderar, precisa estar presente também nas horas difíceis e saber se portar diante das cobranças. O restante do time fez isso. A comissão técnica também. Falta o nosso astro.