Economia

Governo quer reduzir em 90% as normas de segurança e saúde do trabalho vigentes no país

Mudanças, que serão alvo de discussão entre patrões e empregados, começam mês que vem

Bolsonaro: governo deve reavaliar todas as normas de saúde e segurança do trabalho, reduzindo-as em 90%
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Bolsonaro: governo deve reavaliar todas as normas de saúde e segurança do trabalho, reduzindo-as em 90% Foto: / AFP

RIO — O governo federal vai rever todas as Normas Regulamentadoras de segurança e saúde no trabalho do país — conhecidas como NRs — com "o objetivo de simplificar as regras e melhorar a produtividade ". A ideia é reduzir em 90% as normas vigentes. A informação foi confirmada nesta segunda-feira pelo presidente Jair Bolsonaro , em rede social.

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"Governo federal moderniza as normas de saúde, simplificando, desburocratizando, dando agilidade ao processo de utilização de maquinários, atendimento à população e geração de empregos", escreveu o presidente em sua conta no Twitter .

Segundo o secretário especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, Rogério Marinho, as mudanças começam a ser realizadas no mês que vem, com a participação tripartite de representantes da União, dos patrões e dos empregados. Ele explica que, atualmente, há 37 NRs em vigor, com 6.800 linhas distintas de atuação.

O governo começará a mudança pela NR 12, que trata da regulamentação de maquinário. A previsão é que a nova NR esteja pronta em junho. Ainda este ano, o governo vai fazer ajustes em mais oito NRs: 1, 2, 3, 9, 15, 17, 24 e 28.

— Essas normas (NR 12) afetam desde uma padaria até um forno siderúrgico, e pela sua diversidade e complexidade, impactam diretamente na produtividade das nossas empresas — afirmou Marinho.

Sem carteira: Brasileiro só consegue vaga formal após os 28 anos Uma morte por diaEle citou como exemplo um industrial brasileiro que, quando compra uma máquina sofisticada em outro lugar do mundo, como na Europa ou no Canadá, normalmente gasta o dobro do que pagou pelo equipamento para instalá-lo no Brasil:

— O que nós queremos, na verdade, é permitir um ambiente saudável, competitivo, confortável e seguro para quem trabalha e para quem produz. Para que a economia brasileira esteja à altura de outras economias em outros lugares do mundo, e que nós possamos gerar emprego, renda e oportunidade para o conjunto dos trabalhadores brasileiros, com segurança e com a preocupação com a saúde do trabalhador.

De acordo com Marinho, o Brasil tem hoje portarias, quase 5 mil documentos infralegais, portarias, instruções normativas e até decretos de 1940 que ainda são utilizados na fiscalização, de forma arbitrária. Além disso, não há uma uniformização dos procedimentos de fiscalização, o que resulta em ações distintas, que variam de acordo com cada estado.

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Máquinas e equipamentos causaram 2.058 mortes de trabalhadores no Brasil, de 2012 a 2018, praticamente uma morte por dia, segundo o Observatório Digital de Saúde e Segurança do Ministério Público do Trabalho. O custo calculado é de R$ 732 milhões com aposentadorias e pensões que foram concedidas depois de acidentes com máquina.

AS OCORRÊNCIAS NO BRASIL
Gastos com as aposentadorias e
pensões por acidentes com
Acidentes
Mortes
Amputações
máquinas (2012 a 2018)
causados
causadas
causadas por
por máquinas
por máquinas
máquinas
R$ 732 milhões
(2012-2018)
(2012 a 2018)
(2012 a 2018)
Gastos com acidentes totais em 2018
528.473
2.058
25.790
R$ 11,8 bilhões
Número de acidentes de trabalho totais
Número de acidentes
Número de acidentes
Doenças
Óbitos
(de trajeto e típico)
típicos (na atividade)
do trabalho
Invalidez
622.379
385.646
15.386
13.218
2.546
2015
13.927
14.981
2.288
2016
585.626
355.560
9.700
12.651
2.096
2017
549.405
340.229
Fontes: Observatório Digital de Segurança e Saúde do Trabalho, do Ministério Público
do Trabalho, Anuário Estatísticos de Acidente de Trabalho da Previdência Social
AS OCORRÊNCIAS
NO BRASIL
Acidentes
Mortes
Amputações
causados
causadas
causadas por
por máquinas
por máquinas
máquinas
(2012-2018)
(2012 a 2018)
(2012 a 2018)
528.473
2.058
25.790
Gastos com as aposentadorias
R$ 732
e pensões por acidentes com
milhões
máquinas (2012 a 2018)
R$ 11,8
Gastos com acidentes
totais em 2018
bilhões
Número de acidentes de trabalho totais
Número de acidentes (de trajeto e típico)
622.379
2015
2016
585.626
2017
549.405
Número de acidentes típicos (na atividade)
385.646
2015
2016
355.560
2017
340.229
Doenças
Óbitos
do trabalho
Invalidez
2015
15.386
13.218
2.546
2016
13.927
14.981
2.288
2017
9.700
12.651
2.096
Fontes: Observatório Digital de Segurança e
Saúde do Trabalho, do Ministério Público
do Trabalho, Anuário Estatísticos de Acidente de
Trabalho da Previdência Social

— Não podemos conviver com trabalhadores sofrendo amputações e morrendo. Hoje, a NR 12 tem protocolo para evitar qualquer tipo de acidente. Cortinas de luz, requisitos de sensores, mecanismos como o da máquina de lavar que para quando a pessoa abre a porta. Mas a adequação das máquinas exige investimento. Por isso, a norma é tão criticada — afirma o procurador do Trabalho Ronaldo Lira, que participa como observador da comissão tripartite que atualiza a NR-12 continuamente.

A especialista em gestão empresarial e professora da FGV Ebape Carmem Migueles integra um grupo que há 16 anos estuda a relação entre baixa produtividade, competitividade e acidentes de trabalho. Ela defende uma maior liberdade para as empresas desenvolverem modelos de gestão de risco mais adequados aos seus negócios. E, em contrapartida, o governo aumentaria o valor das multas em caso de acidente.Regras no Brasil seguem padrão da OIT— No Brasil, há uma distância muito grande entre o topo e a base das organizações e uma alta aversão à incerteza. E tentamos resolver isso com mais regras. Isso não funciona — disse Carmen.

A presidente da Associação Nacional de Medicina do Trabalho, Marcia Bandini, lembra que as normas brasileiras de segurança estão alinhadas aos padrões internacionais, que têm como referência as recomendações da Organização Internacional do Trabalho (OIT), do qual o Brasil é signatário junto com outros cerca de 200 países.

— Nossas normas não são demais. Estamos atrasados, por exemplo, na regulamentação dos fatores de risco psicossociais, que têm a ver com a saúde mental e já são, na Europa, os maiores incapacitantes para o trabalho. No Brasil, são a segunda causa.

Para Nelson Karam, supervisor do Núcleo de Políticas Públicas do Dieese, ninguém é contra desburocratização, mas teme pela segurança do trabalhador: — A pergunta que tem de ser feita é: qual é o sentido da modernização? Se a mudanças trouxerem desburocratização ninguém é contra, mas temos de verificar se elas não vão deixar o trabalhador desprotegido.