Wikitude AR, um dos primeiros produtos de realidade aumentada já disponíveis no mercado. (Foto: Divulgação)
Primeira cena: você liga o seu carro e fala para o computador de
bordo que quer ir para o shopping center mais próximo. Como se
fosse mágica, o asfalto parece ser pintado por uma linha azul,
que indica o caminho ideal. Um aviso piscante no parabrisas
recomenda que você diminua a velocidade, pois o motorista à sua
frente está freando. Ao passar em frente a uma farmácia, um novo
aviso no vidro: de acordo com o computador que controla sua
casa, você está precisando comprar aspirinas.
Segunda cena: você está sentado na praça de
alimentação do shopping. Cansado de navegar pela internet no
celular, você resolve utilizá-lo para ver se alguém que está no
shopping gostaria de bater um papo. Você aponta o celular para
as pessoas, e, na tela, vê surgir ícones para interagir com elas
por redes sociais. Escolha seu “alvo” e o adicione no Orkut.
As cenas acima só poderiam existir em filmes de
ficção, mas em poucos anos elas farão parte de nossa vida. Em
breve, acreditam os pesquisadores, nossos sentidos, como visão,
audição e olfato, passarão a ser influenciados pelos
computadores: seja bem-vindo à era da chamada realidade
aumentada. Veja como a tecnologia funciona
(reportagem segue abaixo):
A realidade aumentada é um campo da computação que estuda a intervenção de dados e informações gráficas geradas eletronicamente com nossa percepção da realidade. E essa fusão de conceitos da realidade virtual com o mundo será a próxima “moda” a ser perseguida pelos consumidores de aparelhos de alta tecnologia, diz o professor americano Bruce H. Thomas.
Equipamento necessário atualmente para jogar 'Quake' em realidade aumentada vai encolher e ficar mais barato. (Foto: Divulgação)
“Eu acredito que daqui a 3 ou 5 anos sistemas que utilizam
conceitos da realidade aumentada serão onipresentes”, diz
Thomas, diretor do laboratório de computação vestível da
Universidade do Sul da Austrália. Em seu campo de pesquisa,
Thomas estuda a criação de equipamentos eletrônicos que podem
ser carregados conosco todo o tempo, e que atuam praticamente de
forma “invisível”, sem intervenção humana.
Um de seus projetos é a criação de um óculos capaz
de fazer as vezes de um monitor de computador. Transparente, ele
permite que você enxergue normalmente, mas veja também
informações sobre o ambiente inseridas pelo computador.
Há diversos conceitos tecnológicos utilizados num
produto que, descrevendo, parece simples: além do sistema de
produção de imagens – a maior aposta no momento é na tecnologia
de diodos emissores de luz orgânicos, os OLEDs --, há também o
uso de sistemas de localização global GPS e de acesso sem fio à
internet, sem falar nos processadores capazes de gerir essas informações.
Uma versão mais “tosca” destes óculos foi utilizada pelo pesquisador para levar a realidade aumentada para o mundo dos videogames. Pode ser uma atividade considerada banal por muitos, mas os jogos eletrônicos serão um dos campos que mais vão lucrar com a evolução destas tecnologias. Thomas criou uma versão do clássico jogo de tiro Quake, mas usando ambientes reais em vez de salas tridimensionais digitalizadas.
Lente sobrepõe imagens àquelas já existentes no mundo externo. (Foto: Divulgação/Universidade de Washington )
“Imagino que, em breve, poderemos usar esses sistemas para jogos de caça ao tesouro, por exemplo”, afirma o pesquisador. “Você e um grupo de amigos vão ao parque e tentam localizar objetos virtuais, que só é possível enxergar pelos dispositivos especiais. Ou mesmo quebra-cabeças utilizando elementos do mundo real. Há muitas possibilidades.”
Custo
Um dos pioneiros das pesquisas em realidade aumentada, o professor Steven Feiner afirma que a única limitação existente no momento é o custo da tecnologia. “É uma questão de escala, quando houver mais demanda, mais equipamentos serão produzidos a um preço mais competitivo”, afirma.
Feiner dá como exemplo o fato de que os celulares inteligentes já são responsáveis pelas primeiras aplicações comerciais da realidade aumentada a ficarem ao alcance dos consumidores.
Realidade aumentada mistura elementos da realidade virtual com o mundo real. (Foto: Divulgação)
Proprietários de telefones com o sistema operacional Google
Android já podem, desde o final de 2008, testar o programa Wikitude AR Travel, um guia que utiliza
o GPS, a câmera e a bússola do aparelho para mostrar informações
sobre pontos de interesse em diversas cidades. Projetos
semelhantes já estão sendo criados para outros modelos de
telefones, como o iPhone, da Apple.
A indústria automobilística é outra que já está de
olho na realidade aumentada. A alemã BMW já divulgou planos de
inserir, no parabrisas, as informações normalmente exibidas no
painel do veículo. É um pequeno passo, que ainda segue no mundo
das ideias, mas quanto mais avançarem as tecnologias utilizadas
na realidade aumentada, mais invisível ficará a linha que separa
o que é real e o que é gerado por computadores.