História do Profeta Gentileza é contada em espetáculo circense

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O capeta observa o público e provoca Cicrano durante todo o espetáculo  (Foto: Divulgação)

Do trapézio, o Capeta do “capetalismo”, como diria o Profeta Gentileza, balança no alto do picadeiro enquanto as pessoas se acomodam na arquibancada. “Gente lesa, gente lesa”, grita o capeta. É assim que começa o espetáculo  "Univvverrsso Gentileza - o mundo é redondo e o circo arredondado", uma produção da Cia. Crescer e Viver de Circo, concebido pelo escritor Leonardo Guelma e com direção de Gamba Júnior. O espetáculo que ficou em cartaz entre outubro e novembro na Praça Onze, já tem um destino feliz em 2013: percorrer 10 cidades do estado do Rio de Janeiro, com uma lona itinerante, no projeto Circo Volante.

Atores com pernas-de-pau da Cia. Crescer e Viver
(Foto: Divulgação)

Em um breve resumo da história real do profeta brasileiro, ele era somente mais um Zé Alguém, ou melhor, José Datrino. Nosso herói sofreu um baque espiritual ao saber do terrível incêndio no circo perto de sua casa, em Niterói, que matou 500 pessoas e deixou outras 1500 feridas. O ano foi 1961 e ele tinha 44 anos, casado, com cinco filhos. Em estado de surto esquizofrênico, José largou tudo para tentar restituir as relações humanas que, para ele, estavam claramente corrompidas pela ganância, egoísmo, desejo de poder e acúmulo de dinheiro. Mudou de nome, deixou de ser José para virar o Profeta Gentileza ou Agradecido. Como um cavaleiro andante, se autoatribuiu a missão de levar gentileza e amor por onde fosse. Sua mensagem corria nas viagens no interior do país, mas ganhou real atenção por meio da pintura de 56 murais nas pilastras do Viaduto do Caju, no percurso de 1,5km. As mensagens nas pilastras, que já foram apagadas e restauradas pela prefeitura, configuram-se como um livro urbano sobre o amor.

Elenco de 12 atores contam a história do profeta
(Foto: Divulgação)

"É bonito saber que o profeta Gentileza nasceu a partir da tragédia de um circo e hoje ele renasce da alegria de um novo circo, que cresce de um projeto social e sem fins lucrativos”, conta Vinícius Daumas, diretor artístico da ONG Crescer e Viver.  Para contar essa história, o autor escolheu contrastar um cidadão comum, Cicrano, que sofre as mesmas pressões que José sofria antes de virar Gentileza. Coisas do Capeta do capetalismo, que fica do alto do picadeiro provocando o pobre coitado. Toda vez que Cicrano resolve fazer alguma coisa por amor e alegria, vem o Capeta e coloca ele pra correr atrás de dinheiro e de poder. Cicrano costura a trama do picadeiro o tempo todo, vestido de branco, como se fosse José, perdido entre angústia e fé. Enquanto isso, três palhaços (clowns) aparecem como Gentileza, em fases diferentes da sua vida profética: a fase positivista, a tropicalista e a hippie. Em determinada cena, quando a dúvida de Cicrano é tratada como loucura, o elenco aparece com camisa de força e pula na cama elástica, em uma acrobacia forte e fantástica. São 13 jovens no palco, sendo 8 deles alunos do Crescer e Viver e 5 educadores da ONG.

A ONG Crescer e Viver

Malabares brilham no espetáculo (Foto:Divulgação)

Comemorando 10 anos no ano que vem, a Crescer e Viver transforma a vida de jovens em comunidades carentes no Rio de Janeiro. A ONG tem dois programas de formação cidadã e circense, além de atuar na direção de arte, produção de espetáculos, festivais e mostras. É uma das instituições mais respeitadas e reconhecidas no Brasil nas artes circenses.

O programa para os mais novos é A Escola de Circo Social, voltado para crianças e adolescentes carentes e com o circo como ferramenta pedagógica. O trabalho vai muito além de ensinar acrobacias circenses, resgatando a autoestima dos participantes, desenvolvendo neles confiança, senso de responsabilidade coletiva e autonomia. Os encontros estimulam a criatividade, a capacidade do jovem para adaptar-se às mudanças, dialogar com o outro no palco e com o público. “O olhar da família, da comunidade, do professor, de todos se transformam à medida que os holofotes estão voltados pra eles no picadeiro”, explica Vinicius. Além disso, toda sexta-feira é dia de troca sobre os temas de pesquisa, com histórias, poesia e música.

Suspensos no ar, acrobatas do Crescer e Viver
(Foto: Divulgação)

O outro programa é o Profac, para formação profissional do artista de circo. Voltado para adolescentes e jovens entre 14 e 24 anos, o programa oferece formação técnica e profissional em um curso de 3 anos. O processo seletivo está aberto e encerra no dia 21 de dezembro. Depois de formados, a maioria passa a atuar como profissional da Cia Crescer e Viver de Circo.

 

Mais informações:
https://crescereviver.org.br
https://www.anjosdopicadeiro.com.br/