23/03/2013 11h27 - Atualizado em 23/03/2013 18h20

Atores se apaixonam pelo espetáculo teatral de Nova Jerusalém

Carlos Casagrande disse querer voltar para a peça do ano que vem.
Carol Castro e Marcos Pasquim se impressionaram com a grandiosidade.

Katherine CoutinhoDo G1 PE

Paixão de Cristo de Nova Jerusalém (Foto: Katherine Coutinho/G1)Maria, Madalena e Jesus na cena da Segunda Queda  (Foto: Luka Santos/G1)

Nove palcos, uma área de cem mil metros quadrados e um público médio de 9 mil pessoas por noite. Se apresentar na Paixão de Cristo de Nova Jerusalém, que acontece no distrito de Fazenda Nova, no Brejo da Madre de Deus, é um desafio para os atores, tanto pela relação com um público tão grande, quanto por não poder deixar o público sentir que o espetáculo é dublado do começo ao fim. Os desafios, somados à energia do público, acabam conquistando aqueles que passam pelo espetáculo.

Vivendo pelo segundo ano consecutivo Jesus, o ator pernambucano José Barbosa conta que investe primeiro no treino aeróbico para aguentar as três horas de espetáculo, durante os nove dias de apresentação. “Tem que ter um preparo físico muito grande. Chego também alguns dias antes de começarem os ensaios, faz parte da minha preparação mesmo, dos meus rituais”, explica Barbosa.

José Barbosa interpreta Jesus há cinco anos (Foto: Luka Santos/G1)José Barbosa interpreta Jesus há cinco anos
(Foto: Luka Santos/G1)

Apesar de já ter trabalhado como 'stand in' por três anos antes de ser Jesus e ter feito o papel ano passado, Barbosa conta que a ansiedade de subir ao palco é sempre grande. “Mesmo fazendo Jesus há cinco anos, estudando, ensaiando, há sempre aquela expectativa de passar a verdade, fazer as pessoas acreditaram naquilo que está acontecendo ali”, afirma o ator, que é natural de Limoeiro, no Agreste do estado.

Da primeira visita à cidade teatro, quando tinha 16 anos, surgiu a vontade de um dia integrar o elenco. “Eu me impressionei muito com tudo, com os atores, com os figurinos. Tanto que quando voltei, voltei já como ator”, diz Barbosa, que mesmo já conhecendo o papel, buscou ler livros e ver filmes para estar realmente pronto. “A gente está sempre em busca do melhor, então volto a assistir, até porque cada vez você vê algo novo, que não tinha visto da outra vez”, explica o ator.

Quem também buscou ler muitos livros sobre a personagem foi a atriz Carol Castro, que esse ano vive Maria Madalena no espetáculo de Nova Jerusalém. “Eu li muito sobre ela, até os textos mais polêmicos, evangelhos apócrifos. Busquei me aprofundar ao máximo no papel. Já tinha até lido alguns livros, mas muito mais após o convite”, explica Carol, que nunca tinha visto a peça pernambucana. “Eu tinha bastante curiosidade, mas nunca tinha vindo, estava sempre gravando na época”, conta a atriz.

Uma das coisas que a impressionou durante a estadia, que começou no domingo (17) é o envolvimento de todas as pessoas com a peça. “Isso marca, ver o carinho, a paixão, da camareira ao rapaz que simplesmente passa pela cena. Eles dão uma aula para a gente, levam muito a sério, fazem com dedicação. Todo mundo se entrega, acho que é por isso que a peça existe há tantos anos e as pessoas sempre vêm”, acredita Carol.

Carol Castro disse que lidar com dublagens foi um desafio (Foto: Luka Santos/G1)Carol Castro disse que lidar com dublagens foi um desafio
(Foto: Luka Santos/G1)

Movida a desafios, Carol afirma que um dos maiores é a questão da dublagem das cenas, ainda mais que o áudio é gravado em um estúdio no Rio de Janeiro, sem outro ator consigo. “Essa é a parte mais difícil. Você estuda o áudio gravado para não parecer dublagem, mas na hora é difícil. Você precisa se controlar para não deixar a emoção te levar. No último ensaio, eu estava muito emocionada, me empolgando demais, aí é preciso se controlar. Não que isso seja ruim, é realmente um desafio, mas que vale a pena transpor”, explica a atriz.

Dando vida ao rei Heródes no palco, o ator Marcos Pasquim ainda acrescenta que, após os ensaios, fica à vontade de poder regravar o áudio. “A gente sempre acha que pode fazer melhor. Eu não tinha visto ainda nenhuma peça, não sabia ao certo como era. Quando cheguei aqui, fiquei louco para assistir a peça, conseguia vê-la na minha cabeça”, recorda Pasquim.

Apesar de ter lido a Bíblia para se preparar um pouco mais para o personagem, Pasquim explica que foi, principalmente, o trabalho dos diretores Carlos Reis e Lúcio Lombardi que o guiou. “Conversei com eles, durante os ensaios eles orientam você, dizem para fazer um pouco mais assim, exagerar menos uma expressão. A ajuda dos diretores foi muito importante”, acredita o rei Heródes de Nova Jerusalém.

Vícios
A sensação de ser transportado para o tempo de Jesus, devido à cenografia e ao envolvimento dos outros atores, facilitam a criação do personagem. Porém, é preciso segurar alguns vícios do teatro convencional para um espetáculo como esse. “Quando você fica muito seguro no texto, quer fazer algo diferente, de um jeito que acha melhor, mas não dá com a dublagem. Apesar de que isso é bacana também, você tem esse desafio”, concorda Pasquim com Carol Castro.

O calor pernambucano foi um dos desafios a ser vencido, mas foi amenizado pelo 'calor do pernambucano'. “As pessoas aqui te recebem muito bem. Eu fiquei muito feliz que consegui vir dessa vez, vou estar no ar em 'Saramandaia', mas por sorte as gravações começam só em abril, então consegui vir. A energia que a gente recebe de um público tão grande é incrível. Acho que só cantor tem essa energia tão grande”, acredita o Pasquim.

Outro estreante na Paixão de Nova Jerusalém é o ator Carlos Casagrande, que vive Pôncio Pilatos. Mesmo já tendo feito a Paixão em outras cidades, Casagrande acredita que essa é especial, até mesmo pela grandiosidade. “É uma história que todo mundo conhece, mas contada de forma diferente. Os figurinos, cenários, o público com dez mil pessoas... Dá outra emoção. Os cenários à noite, a iluminação, é todo um cuidado, o conjunto faz o espetáculo maravilhoso”, acredita.

Carlos Casagrande já interpretou Jesus em outras montagens e agora faz Pilatos (Foto: Luka Santos/G1)Carlos Casagrande já interpretou Jesus em outras
montagens e agora é Pilatos (Foto: Luka Santos/G1)

Essa é a primeira vez de Casagrande como Pilatos em uma peça. “Das outras fiz Jesus, outros papéis, mas agora resolvi tirar a responsabilidade das minhas costas e vou lavar as mãos”, brinca o ator, ressaltando que, embora o texto seja essencialmente o mesmo, cada um acaba dando uma roupagem diferente ao personagem. “É o tom de voz que muda, dependendo da personalidade do ator e da percepção dele do personagem, fica diferente”, acredita.

Mesmo já tendo ouvido falar de alguns amigos sobre a peça de Fazenda Nova, Casagrande conta que se surpreendeu. “Falar é uma coisa, você vê a grandiosidade fica aqui. Eu falei para a minha mãe antes de ela vir como era, mas quando ela chegou aqui, ficou de boca aberta, completamente encantada”, explica o ator, que já pensa em voltar no próximo ano. “Se for possível, eu pretendo voltar. Seja fazendo outro personagem, seja fazendo o mesmo. Estou gostando muito”, afirma.

Universo feminino
Atriz, com pós-doutorado sendo concluído em antropologia, a pernambucana Luciana Lyra voltou ao seu estado natal para coroar uma fase de sua vida com uma personagem especial: Maria, mãe de Jesus de Nazaré. “É um momento especialíssimo para mim, eu venho pesquisando o universo feminino há anos. Comecei com uma pesquisa sobre as mulheres de Tejucupapo, distrito de Goiana. Elas se veem como heroínas. Acabei inclusive fazendo uma peça, 'Guerreiras', que conta a história delas”, conta Luciana.

Antes de mudar para São Paulo em 2003, quando foi fazer o mestrado, Luciana tinha uma relação muito próxima com a Paixão de Cristo e a cidade teatro de Fazenda Nova. É dela a voz que guia os visitantes pelo teatro e transmite avisos como atrasos, interrupções e emergências. “Eu participei do espetáculo 'Noite Feliz' aqui e também fiz durante alguns anos a Paixão de Cristo, mas nunca como Maria”, explica a atriz pernambucana.

Luciana Lyra pesquisa o universo feminino há anos (Foto: Luka Santos/G1)Luciana Lyra pesquisa o universo feminino há anos
(Foto: Luka Santos/G1)

Fazer Maria é um presente mais do que especial. “Ela é uma mulher guerreira, que recebeu essa grande missão de conceber e criar um filho que ela sabia que iria perder. Maria perde um filho, mas ganha muitos outros. Acho que fazer esse papel fecha um ciclo da minha vida. Passei muitos anos estudando o universo feminino, vi muitos filmes, você tem um outro olhar sobre ela”, acredita Luciana.

Diva
Orgulhosa de suas origens recifenses e nordestinas, Luciana não pode deixar de lembrar de Diva Pacheco, atriz e fundadora da cidade teatro junto com o marido, Plínio Pacheco, que faleceu no ano passado. “Eu a conheci, era uma mulher muito forte, uma Maria pioneira. Acho que lá no céu ela está muito feliz de ver uma pernambucana de novo nesse papel”, diz, orgulhosa, a atriz.

Com a expectativa de voltar no ano que vem, ou de ver outras pernambucanas no papel de Maria, Luciana espera também que essa seja a anunciação para realizar um sonho. “Quero muito ser mãe. Estou solteira nesse momento, mas acho que Maria é quase como uma anunciação mesmo”, torce a atriz.

A Paixão de Cristo de Nova Jerusalém continua em cartaz até o sábado (30). Com direção de Carlos Reis e Lúcio Lombardi, o espetáculo que conta os últimos dias de Jesus tem mais de 500 atores. Quem sai do Recife de carro ou de ônibus tem duas opções: a BR-232 e a PE-90. Para quem vem de outros estados, há as BRs 316, 116, 304, 101, 235, 110 e 104.

Os ingressos estão à venda no estande da Paixão de Cristo, localizado no 1° andar do Shopping Recife, próximo aos cinemas. Nas bilheterias da cidade-teatro e no escritório de Nova Jerusaláem, pelo telefone (81) 3732.1129, além da venda online. Os ingressos variam  de R$ 60 a R$ 90 e podendo ser pagos em até 12 vezes no cartão de crédito, se pagos no site oficial [www.novajerusalem.com.br].

Serviço:
Paixão de Cristo de Nova Jerusalém
De 22 a 30 de março
Ingressos: de R$ 60 a R$ 90

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