Isabel II
A rainha dos cinco mil chapéus
Ela usa coordenados elegantes compostos por saias abaixo do joelho, casacos a condizer e malas estruturadas. A pregadeira ao peito, o icónico colar de pérolas e o sempre presente chapéu sobre o cabelo bem penteado completam o look e tornam-na inconfundível. Se ainda não sabe de quem estamos a falar, é porque tem andado muito distraído, mas nós damos uma ajuda: em ocasiões especiais, esta senhora usa uma tiara de diamantes ou até uma coroa. E já o faz há 60 anos.
Quando uma criança nasce, tem à sua frente um futuro com um número sem fim de possibilidades - é um livro à espera de ser escrito. Mas, quando Elizabeth Alexandra Mary veio ao mundo, num pequeno bairro londrino, já tinha o destino traçado. Filha mais velha do príncipe Alberto e neta do rei Jorge V, recebeu o título de princesa da Grã-Bretanha, sendo tratada por Sua Alteza Real. Em casa, era apenas Lilibet. Apesar de estar em terceiro lugar na linha de sucessão ao trono, foi educada para ser rainha - e ainda bem.
Em 1953, a recém-coroada Isabel II foi apresentada ao povo bretão como a sua "rainha indiscutível". E, ao longo de sessenta anos de reinado, agora celebrados no Jubileu de Diamante, a monarca cumpriu o destino que o sangue ditou e foi a imagem do Reino Unido no mundo. Mas como é que se deveria apresentar uma rainha, numa altura em que muitos deixam de acreditar na monarquia?
Dez anos antes da coroação, Isabel fazia sua primeira aparição oficial sozinha. Nesta altura, durante a II Guerra Mundial, a futura rainha já tinha aprendido sobre a sobriedade necessária em tempos de escassez de recursos - uma lição que nunca esqueceu, tendo em conta que, actualmente, em época de austeridade, a rainha tem revelado um enorme bom senso ao repetir alguns coordenados em aparições públicas. Mas este recato, que sempre lhe foi tão característico, em nada impediu que a jovem rainha encantasse por onde quer que passasse, com um estilo em tudo adequado a um membro da família real. Era decoroso e discreto, mas tinha o glamour tão próprio de uma época em que surgiu Dior e o seu New Look.
Um olhar menos atento podia facilmente cair no erro de concluir que a rainha não tem um interesse particular por moda. Isabel II nunca se preocupou com tendências, mas isso não significa que a sua imagem não tenha sido cuidada até ao mais ínfimo pormenor. A rainha precisava de uma assinatura que a identificasse imediatamente e a fórmula chegou pelas mãos dos seus costureiros, Hartbell e Hardy Amies, e, mais recentemente, por Angela Kelly.
Quando era mais jovem, os coordenados eram compostos por saias rodadas, corpetes ajustados ao corpo, chapéus e malas estruturadas. Em ocasiões especiais, apareciam os vestidos de noite em cetim, envoltos em peles brancas. Tiaras, pregadeiras ao peito e um icónico colar de pérolas completavam um look que se foi tornando na imagem de marca de Isabel II e que continua nos dias de hoje. O único acessório capaz de competir com o chapéu, o seu cunho mais distintivo, é a coroa. Estima-se que, ao longo dos 60 anos de reinado, a rainha tenha usado mais de cinco mil modelos diferentes.
No guarda-roupa real, sempre predominaram os tons pastel, mas ocasionalmente Isabel II também brincou com a cor. Nos anos de 1980, por exemplo, se os casacos estruturados eram demasiado ousados para a imagem de uma rainha, o royal blue, o vermelho, o amarelo e até alguns padrões florais foram utilizados para tornar os coordenados mais modernos.
A verdade é que a rainha sempre se mostrou uma mulher à frente do seu tempo, tendo mesmo chegado a servir de inspiração a Dolce&Gabbana já em 2008, quando a marca apresentou uma colecção com looks que evocavam a vida de campo que Isabel II levava em Balmoral e a paixão que a monarca sempre nutriu pelas actividades ao ar livre. Os lenços de padrão em xadrez e o tweed passaram, assim, a estar de alguma forma relacionados com a elegância sóbria da monarquia britânica.
Hoje, aos 86 anos, Isabel II continua a ser uma referência de estilo e é irrepreensível nas suas escolhas. Quem trabalha de perto com a rainha, desde a equipa de cabeleireiros até aos que lhe tratam do calçado, já o faz há tempo suficiente para conhecer os seus gostos. Mas a decisão final passa sempre pela monarca que, em moda, como em todos os aspectos da sua vida, sabe sempre muito bem o que quer.