Entrevista a Jorge Candeias:

sally

O nome de Jorge Candeias dispensa apresentações no universo da Literatura Fantástica portuguesa. Escritor, tradutor e entusiasta do género fantástico (como prova a criação da bibliowiki- projecto pioneiro em Portugal), é sem dúvida uma das figuras mais importantes do Fantástico em Portugal. O Correio do Fantástico decidiu ser tempo de apostar em entrevistas que poderão ser importantes para se perceber os mais diversos quadrantes deste enorme “mundo” do fantástico nas artes. Aqui fica então uma entrevista muito interessante onde o nosso interlocutor expõe as suas opiniões sobre os mais diversos temas:

Roberto – O que o despertou para a literatura fantástica?

Jorge: O meu pai, e provavelmente também a mãe. Não sei qual dos dois me deu os contos de Grimm, que foram praticamente a primeira coisa que li assim que aprendi o significado das letras. O mais certo é ter sido decisão de ambos. Mas foi o pai quem me levou ao cinema ver um filme animado de ficção científica, o meu primeiro, e também foi o pai quem me introduziu ao Júlio Verne, à colecção Argonauta, etc. É um grande fã do Bradbury e tinha uma pequena colecção de livros de ficção científica desde jovem, que eu rapidamente devorei e comecei a ampliar. E o resto é história.

Quais os autores que mais o influenciaram?

Na forma de escrever? Nem sei bem. Houve uma altura em que andei maravilhado com a escrita do Saramago e escrevi uma série de saramaguices, das quais algumas estão publicadas e as outras talvez o sejam um dia. Suponho que, apesar de me ter libertado entretanto desse fantasma, ainda é capaz de se notar a sua presença naquilo que escrevo. Também talez haja pelo meu texto resquícios de outra gente, desde o Barreiros até àqueles que tenho traduzido nos últimos tempos, em especial o Martin. E no princípio, nas primeiras coisas que escrevi e nunca serão publicadas, havia por lá Mário-Henrique Leiria a rodos.

Mas um escritor é uma esponja. Tudo o que entra pelos olhos pode acabar a sair pelas mãos, às vezes da forma mais inesperada. Ou pelo menos serve para tomar decisões e fazer selecções. Isto sim, isto não, isto talvez resulte, isto nunca. E eu, como gosto de fazer experiências, ando sempre a variar a forma de passar as coisas ao texto, as abordagens, os temas, os géneros. Chateia-me a monotonia, o escrever-se sempre a mesma coisa da mesma maneira. De modo que provavelmente certas leituras minhas influenciam mais alguns dos meus textos e outras outros.

E assim às vezes saem coisas com algum interesse, a acreditar no que algumas almas particularmente caridosas me têm dito. Outras, provavelmente a maioria, não.

O que pensa da realidade actual da literatura fantástica em Portugal?

Anda movimentada, graças em grande medida à actividade de editoras como a Saída de Emergência, a Gailivro e a Presença, agora que as editoras “tradicionais” no género (Livros do Brasil, Caminho e Europa-América, basicamente) dão fortes sinais de desgaste ou pura e simplesmente fecharam as portas ao género. Só tenho pena de se focar tanto na fantasia em detrimento de géneros que me agradam mais, como a FC, de haver uma enorme resistência do público perante formas de ficção curta, que considero fundamentais para a renovação e desenvolvimento dos produtores de ficção fantástica, e de haver um foco tão grande na literatura juvenil por parte de algumas das pessoas e empresas activas no sector. Está certo que para cativar novos leitores convém agarrá-los cedo, e a existência de uma forte literatura fantástica juvenil é importante, mas não pode ser vista como o alfa e o ómega do fantástico, como alguns parecem vê-la.

Mas têm-se publicado coisas excelentes nos últimos tempos. Excelentes e adultas.

Quanto ao material escrito cá, lamento que quem não escreve sagas de fantasia e/ou literatura juvenil tenha tão poucas possibilidades de publicação em editoras maiores. O que tem saído têm sido basicamente séries mais ou menos juvenis e mais ou menos derivativas da fantasia épica anglo-saxónica ou da fantasia céltica. Há uma excepção: O David Soares, um bom autor que nos últimos anos publicou dois romances (independentes um do outro e tudo!) e um livro de contos com base no horror e em Lisboa. O resto, são sagas de fantasia, umas melhores outras piores, umas mais infanto-juvenis outras menos. Ou material relegado para editoras sem visibilidade nem peso no mercado.

Note-se que não tenho nada contra que se publique este tipo de coisa. Não sou daqueles snobes que do alto do seu narizinho empinado se arrogam o direito de decretar, com base nos seus gostos pessoais, aquilo que deve ou não deve ser lido. Mas digo que é pena que as editoras só pareçam ter as portas abertas a esse tipo de coisa. Onde estão os livros de contos? Em especial os de um autor só, dado que antologias até vão aparecendo de vez em quando. Onde estão os livros de ficção científica? Onde estão os livros de horror que não sejam escritos pelo David Soares?

Mas enfim, tudo isto é um caminho que se faz, e há muito de cíclico nas enfatuações de público e editoras por este ou aquele tipo de livro e história. Tarde ou cedo a bolha da fantasia esgota-se, e os pratos da balança penderão para outro lado. Convinha era irmos preparando esse futuro desde já, quanto mais não seja para ir mantendo os autores em actividade. Escrever é como jogar à bola: ou treinas regularmente, ou quando vais tentar fazer alguma coisa nem aguentas até ao fim da primeira parte.

Qual o valor que atribui aos blogs sobre o fantástico, especialmente os portugueses? Na sua opinião existem blogs, ou sites, sobre o fantástico com qualidade suficiente para conquistar cada vez mais novos públicos? E que blogs ou sites destaca actualmente?

Acho que os blogues são muito importantes como modo de formar comunidades e manter as pessoas em contacto. São uma das várias formas que existem hoje para fazer isso (fóruns, listas de email, sites sociais, twitter…), e todas essas formas entrelaçam-se. Mais do que a sua qualidade intrínseca, é esse o seu grande potencial. As pessoas juntarem-se para escrever sobre as coisas (ou escrever coisas), mesmo que não escrevam muito bem, mesmo que sem grandes bases, é muito importante. Foi por isso que apoiei desde o início a ideia do agregador, o Odisseias Fantásticas, e foi por isso que aceitei o convite que o Bruno me fez para ser seu editor, apesar do pouco tempo que tenho livre.

Já não tenho muitas certezas quanto ao potencial dos blogues para conquistar, propriamente, os públicos. Duvido que haja muita gente a frequentar blogues ou fóruns ligados duma forma ou outra ao fantástico que não seja já de certo modo público do fantástico. Parece-me que o papel dos blogues pode ter mais a ver com fidelização do que propriamente com conquista. Alguém encontra um blogue que lhe agrada, provavelmente a partir de uma busca no google por algo que tenha lido ou esteja a pensar ler, e vai ficando, vai visitando. Ou visita todos os dias o local onde todos eles se reúnem. Ou recebe as novidades por RSS.

Quanto a destaques, prefiro não os fazer no que toca aos blogues. A minha condição de editor do Odisseias aconselha a não me pôr a dizer se gosto mais de A do que de B. Não vale a pena o risco de ferir susceptibilidades, embora, evidentemente, haja ali blogues que me interessam mais do que outros. No que diz respeito a sites, e se me é permitido puxar a brasa à minha sardinha, gostava de mencionar o Bibliowiki. Porque dá uma trabalheira do caraças e por isso eu falo dele sempre que posso, e porque é a mais completa (apesar de ainda muito incompleta), volumosa e, sim, rigorosa compilação de informação que já se fez acerca do que se edita e editou em português. O Bibliowiki é, penso eu, outra forma de promover o fantástico, informando as pessoas daquilo que existe e, tendo embora por vezes de recorrer a doses elevadas de determinação e trabalho detectivesco por alfarrabistas e bibliotecas, ainda é possível encontrar. Comecei a sucessão de encarnações daquele projecto convencido de que não se tinha editado muita coisa além da sacrossanta Argonauta e de mais algumas colecções; hoje, temos ali listados mais de mil e quinhentos romances além de vários milhares de outras obras. E tenho também plena consciência de que há ainda montes de material de fora. Especialmente o não-português, ainda pouco mais que residual no conteúdo do wiki.

Mudando de assunto e falando um pouco sobre o seu projecto, “Por Vós lhe Mandarei Embaixadores”, pelo qual desde já o felicito, quais os projectos que tem programados para esta história? Passará o futuro do “hoog” pela publicação no universo editorial português?

Obrigado pela felicitação.

O futuro imediato do “hoog” passa por uma edição de autor em print on demand. O plano inicial era ter esta edição pronta mais ou menos a meio da edição electrónica, mas infelizmente quem se tinha comprometido a fazer a capa levou dois meses a engonhar e depois apresentou-me um projecto de capa que eu achei nada ter a ver com a história. De modo que esse plano foi por água abaixo, mas só no que toca aos timings: o resto continua de pé.

Além disso, a ver vamos. Tenho mais umas ideias aqui guardadas algures no hemisfério esquerdo, mas como tudo aquilo é experimental, e uma das coisas que a experiência quer medir é que impacto tem cada ideia, se é que tem algum, uma revelação precoce estragaria o efeito.

Considera, agora que a história conheceu o seu fim, que a publicação electrónica, através de um blog, é viável?

Bem, a publicação em si é viável, tanto assim que o romance está lá, disponível para ser lido por quem quiser lê-lo. Se tem futuro em termos de forma de chegar ao público, isso já tenho algumas dúvidas. Já as tinha quando comecei: sempre encarei com bastante cepticismo todo o hype em volta das ideias do Cory Doctorow acerca das vantagens que a disponibilização gratuita de literatura traz. Achava que o mais certo era a coisa resultar, eventualmente, para gente com nome firmado e uma enorme base de fãs, mas para quem não tem nem uma coisa nem outra, como eu, provavelmente não. Mas como acho estúpido fazer afirmações sem base concreta, resolvi embarcar nesta experiência.

Para já, os dados parecem confirmar o que eu pensava. O Google Analytics diz-me que o blogue foi visitado por menos de 200 pessoas, com um belo pico quando o romance chegou ao fim. Dessas 200, ajuizando pelos tempos de permanência no blogue e o número de páginas vistas, a grande maioria nem lê; limita-se a passar os olhos. Mesmo descontando a chatice que é para muita gente (eu próprio incluído) ler no écran, acho um resultado muito fraquinho. E mesmo tendo em conta que uma sátira de FC não é propriamente a coisa mais popular que eu poderia ter escrito: muitos dos que gostam de FC não gostam de sátira, e o resto vê por lá extraterrestres ou ouve falar em FC, fica de cabelos em pé e foge mais depressa do que estivesse a correr uma Tona.

Mas a experiência ainda não terminou. Vamos lá a ver se algumas das coisas que tenho pensadas modificam os resultados ou não. Depois logo vos digo.

Para finalizar, sendo uma das pessoas mais importantes da literatura fantástica da actualidade portuguesa, considera que o futuro do fantástico nas artes, em Portugal, será grandioso?

Esta provocou-me um sorriso. Ou dois.

Grandioso é uma palavra muito… grandiosa. Se julgo que há futuro para o fantástico, não tenho dúvidas em afirmar que sim. O fantástico é um conjunto de formas de contar histórias que se baseiam na imaginação, por contraponto ao realismo. Há, e haverá sempre, quem só goste de histórias que lhe pareça que se poderiam passar ou ter passado mesmo na realidade concreta do mundo que os rodeia. Tudo bem, estão no seu direito. Mas também há, e haverá sempre, quem só goste de histórias que incluam magia ou aquele tipo especial de realismo imaginativo que é característico da ficção científica. Ou quem as prefira às outras. Ou quem goste de ir debicando ora de um prato, ora de outro. Basta isso para garantir que o fantástico tem futuro. Mas não nos diz nada sobre a forma que esse futuro assumirá. Eu gostaria de o ver o mais múltiplo e variado possível, com o bom e o mau, com sagas e mini-contos, com fantasia, horror e ficção científica, fantástico clássico e surrealismo, com traduções e trabalhos originais, com tudo, tudo disponível e em quantidade. Esse era o meu particular paraíso, a minha utopia pessoal. Mas não acredito que se realize, a menos que a mentalidade prevalecente aqui no rectângulo à beira mar plantado sofra algumas alterações de monta. Portugal é um país que simplesmente adora colocar areia nas engrenagens que cria. Há quem se regale em ficar à margem, a atirar vidros para a estrada na esperança de furar algum pneu e ter o gostinho de ir depois ver e comentar o acidente. Esta gente garante que nunca nada chegue a atingir o potencial que poderia atingir. É uma luta. Mas a única resposta possível a dar-lhes é não parar nunca de fazer coisas.

É o que eu tenho tentado fazer ao longo dos últimos anos. E não faço planos de mudar de atitude.

Da nossa parte agradecemos a disponibilidade do Jorge Candeias em nos conceder esta entrevista. Esperamos que tenham gostado; O meu entrevistado seguinte será o Americano Chris Brouchard, o director do filme “The Hunt fo Gollum”, uma homenagem a Tolkien. Versará sobretudo sobre os pormenores constantes deste grandioso projecto…

Roberto Mendes

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6 respostas a Entrevista a Jorge Candeias:

  1. Ora aí está uma entrevista muito interessante. Eu faço parte dos tais leitores do “Por Vós lhe Mandarei Embaixadores”, para além de ter lido umas quantas traduções do Jorge Candeias, e é sempre fascinante ficar a saber um pouco mais dos pontos de vista sobre o fantástico actual. Foi uma boa leitura!

  2. Joel Puga diz:

    Gosto da atitude do senhor Candeias. A maior parte das pessoas “importantes” do fantástico português torcem o nariz (sim, estou a ser muito gentil) à fantasia mais comercial. Concordo com ele quando diz que precisamos de mais diversidade.

    Só não concordo no ponto em que diz que a “moda” da fantasia vai passar. Quer dizer, certamente que não se vai manter sempre como está (até acho que já perdeu alguma popularidade), mas parece-me a mim, e já li outros artigos e entrevistas que concordam comigo, que não se trata bem de uma moda no sentido lato da palavra mas mais de um despertar para a fantasia. Faço um paralelismo com o que aconteceu no mundo anglo-saxónico quando o Senhor dos Aneis se tornou popular. Houve um furor à volta da fantasia na altura que se desvaneceu poucos antes depois, mas hoje, passado cinquenta anos, ainda existem muitos adeptos do género, os suficientes para o género existir por si só.

    Obviamente que não se pode fazer um paralelismo em termos de escala, mas acho que este género de literatura dificilmente será condenado de novo ao oblívio aqui em terras lusas.

  3. Parabéns ao entrevistador e ao entrevistado 😉 Estiveram muito bem 😛

    Gosto da atitude do Jorge em relação ao género – uma atitude que nada tem em comum com a vulgar atitude dos portugueses, de pura lamentação (e não só em relação ao fantástico), enquanto as coisas nem sempre estão tão más como as pintam.
    O género fantástico já esteve melhor, em Portugal, (pelo menos no que toca à parte da fc), mas acredito que também já tenha estado bem pior. Eu ainda sou recente no género (5 anos), e no mundo (14 anos), portanto não sei como as coisas estavam há 10, 15 ou 20 anos, mas nota-se que há uma comunidade lusófona adepta do fantástico cada vez maior. E cada vez mais diversificada.
    Enquanto que, há alguns anos, pelo que tenho lido, a fc era muito mais comum em Portugal, actualmente a fantasia é a que vende mais.
    Se, antigamente, a fantasia épica era “rebaixada”, agora deu-se um boom e é moda, enquanto a fc se tornou quase desconhecida do leitor comum.

    Mas creio que o grupo restrito de fãs do género se está a alargar cada vez mais, e com isso há mais diversidade. E mais diversidade significa que o género e todos os seus sub-géneros possam ser publicados de forma viável. (Ainda que com tiragens reduzidas.)

    Mas que me meti eu para aqui a escrever? xD Afinal, eu não percebo nada disto 😛

    Parabéns, mais uma vez 😉

  4. pventura diz:

    Boa entrevista!

    É curioso ver essa influência paternal ou maternal a abrir portas na infância, um pouco à imagem do que também aconteceu comigo. Não sei a idade do Jorge, mas no meu tempo um pai ou mãe que gostasse de Fantástico, quando a maioria dos adultos via outras coisas, era coisa rara e preciosa, apesar de haver quase um preconceito latente contra essas “maluquices” – coisa que até hoje apenas se atenuou.

    “Tarde ou cedo a bolha da fantasia esgota-se, e os pratos da balança penderão para outro lado. Convinha era irmos preparando esse futuro desde já, quanto mais não seja para ir mantendo os autores em actividade. ”

    Não creio que se esgote. Passadas centenas de anos ainda não se esgotou. Porque isso iria acontecer agora? Tudo se regenera, se transforma. Poderão haver altos e baixos, mas nunca extinções.
    E não me vejo dinossauro… Sempre lutei arduamente para escrever, pois não me posso dar a luxos ou extravagâncias. ABdico de muito coisa para escrever – até mesmo este singelo comentário. Mas escrevo com garra, com ganas, bem ou mal. Se houver uma só pessoa que goste do que escrevo já fico feliz. Basta-me! Independentemente de modas e mesmo que eu seja dos últimos tiranossauros ( não me tomem por herbívoro… ) à face da Terra.

    Peço que não se tente fazer passar a ideia de que toda a fantasia nacional é infantil, tosca, molezinha e pura imitação. Esses são muitos dos “vidros” que deitam para o caminho dos autores portugueses.

    Mas concordo com a maior parte das coisas do que são ditas, numa boa entrevista do nosso iman – Igdrasil!

    Abraços a entrevistador e entrevistado.

  5. Saffo diz:

    O problema é que quem tece depreciações sobre a literatura Fantástica nacional, só conhece a “nata”, que vai surgindo no cimo do copo e que geralmente é de qualidade duvidosa. Eu poderia citar nomes de vários livros que não são infantis, mas que muita gente provavelmente não leu, pois o mercado só faz romper para a fama obras juvenis/infantis. O espaço que sobra na estante é ocupado por tudo o que é estrangeiro, que é sempre bom, nem que seja a maior caca de sempre. É que os livros estrangeiros enchem dois cestos, enquanto os portugueses só um, se é que me entendem… Há pessoas que tentam sistematicamente torcer o pescoço a tudo o que é nacional no campo do Fantástico. Mas o que é eterno não morre.

    Saffo

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