16/05/2011 17h36 - Atualizado em 16/05/2011 19h46

'L'Apollonide' mostra sorriso trágico das prostitutas do século XIX

Diretor francês Bertrand Bonello se inspirou na pintura de Toulouse-Lautrec.
Produção exibida nesta segunda-feira (16) concorre à Palma de Ouro.

Da France Presse

O diretor francês Bertrand Bonello recriou em seu filme, "L'Apollonide", que disputa a Palma de Ouro do Festival de Cannes, um prostíbulo parisiense do fim do século XIX, com muita nudez, ópio e, sobretudo, os sorrisos trágicos das prostitutas.

"Voltar às casas de tolerância ou permitir que as prostitutas trabalhem nas ruas? Tenho, evidentemente, um ponto de vista pessoal sobre este problema, mas o meu filme não pretende entrar neste debate", declarou Bonello nesta segunda-feira (16), em alusão à recorrente discussão na França sobre a regulamentação ou a repressão à prostituição.

"L'Apollonide" abre ao espectador as portas de um mítico casarão fechado, "teatro de todos os fantasmas", onde mora uma dúzia de prostitutas, entre elas "a mulher que sempre ri", ferida por um cliente perverso que deixou em seu rosto duas terríveis cicatrizes que prolongam seus lábios.

Cena do filme "L'Apollonide", que concorre à Palma de Ouro em Cannes.  (Foto: Divulgação)Cena do filme "L'Apollonide", que concorre à Palma de Ouro em Cannes. (Foto: Divulgação)

Bonello disse que quando estava redigindo o roteiro, surgiu em sua memória a lembrança do romance de Victor Hugo, "O homem que ri", que conta a história de um homem mutilado, com uma máscara de alegria que representa a humanidade deformada, maltratada, negada.

"Amo as putas", repete um dos clientes do bordel neste filme que leva o público, em uma viagem imaginária, a este mundo decadente dos bordéis, pintado por Toulouse-Lautrec, entre outros, e do qual muitos contos de Guy de Maupassant tratam.

"Em geral, os pintores e escritores desta época vão aos bordéis e dão o ponto de vista masculino sobre as prostitutas, mas o que me interessava era o olhar das mulheres sobre os homens que as visitavam. Quis mostrar a decadência, o inelutável fim desse mundo", explicou o diretor.

O cineasta Bertrand Bonello entre as atrizes que interpretam as prostitutas de "L'Apollonide", durante o lançamento da produção nesta segunda-feira (16), em Cannes.  (Foto: Reuters)O cineasta Bertrand Bonello entre as atrizes que interpretam as prostitutas de "L'Apollonide", durante o lançamento da produção nesta segunda-feira (16), em Cannes. (Foto: Reuters)

O filme oscila entre o documentário e a ficção, entre a crônica e o romance, entre a reconstrução estética desse mundo decadente e sua crítica implícita, entre o mundo fechado como uma prisão e o local de prazer dos burgueses.

O cineasta diz ter se inspirado na pintura e na literatura francesas do século XIX, assim como em arquivos policiais e documentos "científicos", especialmente um estudo sobre a suposta reduzida capacidade cerebral de prostitutas e criminosos.

Bonello, que também é músico e compositor, tem uma reputação incendiária na França por causa de seus filmes anteriores, entre eles, "O pornógrafo", com Jean-Pierre Leaud, e "Tirésias", sobre um transexual brasileiro que reinterpreta o mito do adivinho grego cego que foi, sucessivamente, homem e mulher.

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