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Lêdo Ivo "queria cruzar o rio Guadalquivir a pé; coisas de poeta", diz filho

23 dez 2012 - 16h04
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O poeta brasileiro Lêdo Ivo, que morreu na madrugada deste domingo em Sevilha aos 88 anos de idade, "queria cruzar o rio Guadalquivir andando por uma de suas pontes; coisas de poeta", afirmou à Agência Efe seu filho, o pintor Gonçalo Ivo, de 54 anos, cuja família estava em viagem pela Espanha.

Segundo Gonçalo, que ontem esteve o tempo todo com seu pai, o poeta começou a se sentir mal após sair do jantar e chegar ao hotel e, por isso, acabaram chamando um médico e lhe sentaram em uma cadeira de rodas, sendo que Lêdo Ivo morreu precisamente às 2h locais.

Gonçalo também assegurou que o corpo do poeta será cremado em Sevilha "o mais rápido possível" e que suas cinzas serão levadas ao Brasil, já que, segundo ele, seu pai "não queria uma morte carnavalizada e nem uma morte episcopal, mas uma morte singela e franciscana".

Na companhia de seus netos Leonardo e Antônia, do filho Gonçalo e da esposa deste, Denyse, Lêdo Ivo chegou a Madri há oito dias e, desde quinta-feira, estavam em Sevilha, onde iriam passar o Natal antes de retornar a Madri.

"Ele sabia que seu fim estava próximo e ainda queria ver alguns amigos em Madri, como Juan Carlos Mestre e Martín López-Vega, além de pisar nas terras de Gôngora e Quevedo. Ele sempre teve uma grande ligação com a Espanha", explicou Gonçalo.

Ivo visitou Sevilha pela primeira vez em 1954, quando, após a Guerra Mundial, passou três anos na França com sua mulher. Desde então ,o poeta não tinha retornado à capital andaluza, mas sim feito várias viagens à Espanha, além de ter visitado Córdoba em várias ocasiões.

"Era uma viagem sentimental. Ontem, ele passou várias horas na Catedral: estava feliz e contente. Ficou deslumbrado com a Fortaleza e, ao passear por seus jardins, exclamou: 'Então, existe o paraíso; isto é o paraíso!'", lembrou o filho do poeta, tido como um dos ícones da Geração de 45, movimento que destoava do conceito explorado pelo Modernismo de 22.

De acordo com Gonçalo, Lêdo Ivo "era um homem alegre perante a vida; era muito vital e, por isso, viveu tanto (...). Mas, um dia, a hora chega", apontou seu filho, ainda muito emocionado.

"Ontem comemos pescado em Triana e bebemos albariño. Meu pai era um homem de vida, de comida, de poesia e de alegria", assegurou Gonçalo, após ter dedicado o dia aos trâmites necessários para cremar o corpo de seu pai. "Foi um dia surrealista", completou.

"Meu pai tinha um desejo muito claro: não queria nenhuma burocracia, não queria fazer parte de nenhum desfile", reiterou o artista plástico sobre sua decisão, tomada após consultar suas duas irmãs, Patrícia e Maria da Graça.

Lêdo Ivo, que completaria 89 anos no próximo dia 18 de fevereiro, era admirador da literatura espanhola, particularmente de José Ortega y Gasset, Juan Ramón Jiménez e Rosalía de Castro, além de manter uma amizade com escritores e poetas como Antonio Pereira e Antonio Gamoneda.

EFE   
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