Rio

No Rio, 90% dos incêndios são causados por problemas elétricos, segundo Crea

Há dois projetos de lei que obrigam os edifícios e proprietários de apartamentos fazerem vistorias a cada cinco anos

Incêndio na cobertura duplex do marchand romeno Jean Boghici, em Copacabana
Foto: Marcos Tristão / O Globo
Incêndio na cobertura duplex do marchand romeno Jean Boghici, em Copacabana Foto: Marcos Tristão / O Globo

RIO - No Rio, 90% dos incêndios são causados por problemas elétricos, segundo o presidente da Comissão de Prevenção e Acidentes do Crea-RJ, Luiz Antônio Cosenza. Para ele, em muitos casos, o problema ocorre por falta de manutenção na rede e pelo envelhecimento da fiação. O engenheiro relatou ainda que muitos prédios sofrem uma sobrecarga grande com novos equipamentos eletrônicos, mas a rede elétrica permanece antiga. Um curto-circuito pode ter sido a causa do incêndio que atingiu a cobertura dupléx do marchand romeno Jean Boghici no edifício Príncipe de Nassau, da Rua Barata Ribeiro, em Copacabana, na noite de segunda-feira. O delegado Márcio Mendonça, titular da 12ª DP (Copacabana), intimou o marchand para prestar depoimento. Ele aguarda o resultado do laudo da perícia para saber as causas do fogo.

— No Brasil, não há tradição das pessoas se preocuparem com a manutenção. Elas se importam se a parede está suja ou rachada, mas não consertam a fiação que está escondida na parede. Com a facilidade do crediário e melhoria de vida nas classes mais sofridas, há também um aumento na compra de equipamentos eletrônicos. Esse crescimento acaba provocando uma sobrecarga na instalação elétrica — comentou Cosenza.

— As pessoas se importam se a parede está suja ou rachada, mas não consertam a fiação que está escondida na parede. Com a facilidade do crediário e a melhoria de vida nas classes mais sofridas, há também um aumento na compra de equipamentos eletrônicos. Esse crescimento acaba provocando uma sobrecarga na instalação elétrica — comentou Cosenza.

Ainda de acordo com Cosenza, existem dois projetos de lei - um deles tramitando no Senado e outro na Alerj - que obrigam os edifícios e proprietários de apartamentos — com idade acima de 20 anos — fazerem vistorias estrutural e elétrica a cada cinco anos:

— Por precaução, o ideal seria que as vistorias fossem feitas nesse prazo por um profissional.

Nesta quarta-feira, a síndica do prédio, Regina Lobato, informou que toda a instalação elétrica do prédio foi trocada há cerca de oito anos e que a cada seis meses ela é vistoriada.

— A manutenção da fiação elétrica do edifício está ok — afirmou ela.

Colecionadores no mesmo patamar

Segundo o perito judicial em mercado de arte, João Carlos Lopes dos Santos, há quatro coleções no Rio que estão no mesmo patamar do marchand romeno Jean Boghici. Os colecionadores são o empresário Gilberto Chateaubriand, que tem parte do seu acervo no Museu de Arte Moderna do Rio; o empresário João Sattamini, com obras expostas no Museu de Arte Contemporânea de Niterói; o advogado Sérgio Fadel, com patrimônio guardado em local próprio; e o administrador de empresas Ronaldo Cezar Coelho, que mantém parte do seu conjunto de obras em uma fazenda, em Vassouras.

— A coleção do Boghici tem um valor inestimável. Ele é perfeccionista só guarda o que é importante. As obras valem em função da sua raridade — avaliou.

Conforme o perito, uma pessoa que deseja proteger seus bens de valor em casa deve ter cuidado com a poeira, umidade e oscilação da temperatura.

— Para quem tem coleção particular também é importante ter sprinklers (sistema automático que atua na extinção de fogo) e segurança patrimonial — informou dizendo que, geralmente, os colecionadores de obras de arte no Brasil fazem seguros com companhias inglesas.

De acordo com a restauradora de arte, Elizabeth Soares, que já trabalhou no Museu de Belas Artes e na Biblioteca Nacional, nos casos de quadros a óleo ou papel, o colecionador também deve se prevenir de ataques de insetos, raios ultravioleta, além da poluição:

— Quando há um incêndio é necessário um estudo mais apurado para a avaliação do dano. Quando a peça se queima não há como restaurar, mas a possibilidade existe na fuligem. Até certo ponto, também é possível recuperar nos quadros que foram molhados.

Segundo a mulher do marchand, a francesa Geneviève, ainda está sendo calculado o valor do prejuízo provocado pelas chamas. Ela disse ainda que as obras tinham seguro, mas não informou qual seria a seguradora. O seguro residencial do imóvel da família tinha a cobertura da Porto Seguro, mas este não incluía as obras de arte. Nesta quarta-feira, um restaurador foi ao apartamento para avaliar as obras. Os quadros “Samba” (1925), de Di Cavalcanti, e “Floresta Tropical”(1938), de Guinard, foram as principais pinturas que se perderam no incêndio.

— A grande maioria do acervo do Boghici está preservada. Apenas um quinto da sua coleção, que chega a cerca de 500 peças, estava no apartamento — informou o organizador da exposição das peças de Boghici no Museu de Arte do Rio (MAR), na Zona Portuária, programada para novembro.

Acervos particulares têm seguro

Pela prática de mercado, o seguro de uma obra de arte costuma ser 0,5% do seu valor. Uma das maiores empresas em seguros diferenciados para pessoas de alto poder aquisitivo, a americana Chubb Seguros, que tem escritório no Brasil, é responsável para cobrir valiosas coleções particulares no eixo Rio-São Paulo — que representa 80% dos clientes brasileiros nesse segmento. De acordo com o gerente de produtos patrimoniais da seguradora, Guilherme Olivetti, toda a coleção tem uma cobertura total, mas as peças são avaliadas também individualmente.

Na lista de obras cobertas pela Chubb, entre as mais valiosas atualmente, estão telas de Candido Portinari, Tarsila do Amaral e Di Cavalcanti — seguradas em R$ 5 milhões, cada uma delas. Para fazer o seguro de um acervo particular, Guilherme explica que são seguidas algumas normas básicas, que começam com o envio de especialistas à casa cliente para catalogar, fotografar e atestar a autenticidade das peças — por meio de consultas a especialistas, apresenção de nota fiscal ou uma avaliação formal. Segundo Guilherme, já houve casos de se constatar um determinado item falsificado dentro de uma coleção.

Após a visita ao local do acervo, a seguradora pode fazer sugestões ou exigências a respeito de manutenção e acomodação das peças — como a instalação de detectores de fumaça, desumidificadores e outros itens de segurança no ambiente. O proprietário do acervo pode ainda, se preferir, não cumprir determinada sugestão. Ele pode optar por incluir uma franquia na apólice (a ser paga se houver sinistro). As coberturas incluem acidentes, furtos, roubos e incêndios.

— Cada acervo tem sua particularidade, mas há casos em que são feitas algumas exigências. Não nos cabe interverir, por exemplo, na decoração de um imóvel, mas analisamos a disposição das peças — diz Guilherme, lembrando que, certa vez, um colecionador queria fazer o seguro de uma tela valiosa, instalada sobre uma lareira, que costumava a ser ligada.

Nesse caso, o gerente de produtos conta que não era apenas o risco de incêndio que preocupava, mas a fuligem que poderia causar danos à obra. Por isso, foi recomendada a instalação de um detector de fumaça e a manutenção da obra a cada seis meses com profissionais.

— É claro que o dono de uma obra de arte não quer perdê-la num sinistro. Por isso, toma os cuidados necessários com sua manutenção. Apenas faz o seguro para se proteger _ explica ele.

Em caso de incêndio, a seguradora realiza, logo em seguida, um verdadeiro trabalho de investigação para determinar a extensão da perda do material segurado. Peritos averiguam, por exemplo, entre as cinzas provas de que a obra, de fato, estava no local.

— Peritos vão ao local para constatar a extensão dos danos, levantar os prejuízos e avaliar a indenização a ser paga. Mas sempre partimos do princípio que há boa fé por parte do cliente — conclui Guilherme.