Cultura

Gilberto Gil mostra faixas de seu novo CD, inspirado nas festas juninas, e fala do rompimento ...

RIO - A empolgação com que Gilberto Gil fala de suas novas composições não deixa dúvida. Dez meses após sair do governo, o ex-ministro da Cultura voltou integralmente à música. Em seu bunker no Alto da Gávea - uma ampla casa que abriga o escritório da Gegê Produções, empresa que administra sua carreira, comandada pela mulher, Flora Gil, e seu estúdio de gravação -, mostra algumas faixas de "Fé na festa", CD que atualiza a sua primeira paixão na música, os ritmos nordestinos que animam as festas juninas.

- Essa é uma associação maravilhosa, uma festa que se desenvolveu na intersecção do sagrado e do profano. A festa com seu sentido pagão absoluto, lúdico, sensual, comidas, dança, sexo, namoro, paquera... E a devoção a São João - explica.

Ouça a nova faixa 'O livre atirador e a pegadora'

O CD - que será lançado num grande evento, gratuito e ao ar livre, dia 29 de maio, na Quinta da Boa Vista, com abertura do sanfoneiro Targino Gondim e show de Gil e muitos convidados: Gal Costa, Alcione, Mart'nália, Preta Gil, Vanessa da Mata e Zeca Pagodinho - sairá no selo Geleia Geral, patrocinado pelo Programa Natura Musical, com distribuição da Universal. Ou seja, ele volta à gravadora na qual fez seus primeiros discos (entre 1967 e 1975, então Philips/Phonogram), após 33 anos de ligação com a Warner, onde estreara em 1977, com "Refavela".

- O envolvimento deles (Warner) com o disco está ficando rarefeito, dificultado, episódico. Eles trabalham com um velho sistema, não conseguiram substituí-lo por novos modelos de negócio, estão desfazendo seus quadros de pessoal - explica Gil, ressaltando que, agora, negocia contrato de distribuição para cada disco, mas essa parte mercadológica da música está nas mãos de Flora e sua equipe. - Felizmente, eles é que cuidam disso, apenas dou alguma orientação.

"Não tenho saudade do ministério"

Mais de sete anos após aceitar o convite do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e assumir o Ministério da Cultura, Gil agora só pensa naquilo, a sua arte. Mas há perguntas que são obrigatórias. E ele não se furta às respostas.

- Não, não tenho saudade do ministério, mas tenho boas lembranças - garante. - Foi um certo sacrifício, não pude me dedicar integralmente à música, mas ao mesmo tempo reencontrei esse mundo do interior brasileiro. Visitei uma quantidade enorme de municípios levando projetos, como os Pontos de Cultura, que, agora, já chegam a três mil no Brasil inteiro. Com eles, facilitamos o acesso ao mundo digital. Ajudamos a descentralizar, na questão da gestão das políticas públicas municipais, da autorreferência, da autoestima desse povo todo. Então, tenho ótimas lembranças do ministério.

A experiência com o mundo da política não é novidade no trajeto de Gil. Em 1989, após ter sua pré-candidatura à prefeitura de Salvador abortada pelo PMDB, foi eleito como o vereador mais votado da capital baiana. Dois anos antes, presidira a Fundação Gregório de Matos (que atua como a secretaria municipal de Cultura de Salvador). Apesar dos antecedentes, garante não ter mais pretensões de atuar nesse campo, que nunca teria existido como "projeto pessoal".

- As minhas incursões no campo da política chegaram sempre de viés. Em Salvador, deveu-se à ligação com o grupo do então prefeito Mário Kertész, cercado de vários amigos meus. Isso um pouco que se repetiu quando do convite de Lula, que era esse negócio de pensar, "Olha, alguém do meu mundo tem que encarar esse outro lado", que é uma coisa natural. É bom que alguém se disponha a fazer essa experiência de misturar esses dois mundos. Foram, portanto, momentos excepcionais de minha vida.

Leia a íntegra da reportagem na edição digital do Segundo Caderno desta sexta-feira (apenas para assinantes)