France Presse

19/01/2013 16h00 - Atualizado em 19/01/2013 16h48

Ex-mafioso italiano 'arrependido' faz sucesso como pintor em Roma

Gaspare Mutolo, 72 anos, já executou 22 homicídios por estrangulamento.
Ele saiu da máfia em 1991 e hoje vende quadros por até R$ 3,5 mil.

Da AFP

O passado é de assassino e traficante da máfia italiana Cosa Nostra. Trinta anos depois, o presente é de pintor de sucesso, que expõe suas obras numa galeria de Roma. Esta é a vida do ex-mafioso Gaspare Mutolo.

Visitante de exposição em Roma próximo a quadro pintado pelo ex-mafioso Gaspare Mutolo, na sexta-feira (18) (Foto: AFP / Gabriel Bouys)Visitante de exposição em Roma fotografa quadro pintado pelo ex-mafioso Gaspare Mutolo, na sexta-feira (18) (Foto: AFP / Gabriel Bouys)

Mutolo, hoje com 72 anos, tem um passado sinistro na Itália. Ele organizou sequestros, traficou drogas e matou por encomenda para o chefe mafioso Toto Riina, com 22 homicídios por estrangulamento no seu currículo.

Mutolo hoje vive num lugar secreto, em regime de proteção especial concedido aos "arrependidos" da máfia.

Em 1991, Mutolo mudou de vida e virou um "arrependido da máfia", colaborando com os famosos juízes Giovanni Falcone e Paolo Borsellino para acabar com a máfia siciliana Cosa Nostra.

Contudo, a colaboração não o livrou do processo que condenou dezenas de chefes mafiosos e ele teve que cumprir 16 anos de prisão.

Em exposição de arte em Roma na sexta-feira (18), visitante próximo a quadro do ex-mafioso Gaspare Mutolo (Foto: AFP / Gabriel Bouys)Em exposição de arte em Roma na sexta-feira (18), visitante vê quadro do ex-mafioso Gaspare Mutolo (Foto: AFP / Gabriel Bouys)

"Mutolo é uma bela história da pintura, uma verdadeira redenção social e moral: a pintura o ajudou a se salvar no plano moral e o convenceu então a colaborar com a justiça", explicou à agência France Presse Marco Dionisi, diretor da galeria Baccina 66, que expõe cerca de trinta quadros do ex-mafioso.

Mutolo, artista prolífico, com telas vendidas entre 400 e 1.300 euros (cerca de R$ 1 mil a 3,5 mil), não limita sua inspiração à Sicília e trabalha no momento numa nova série chamada "Paisagens e flores". Suas obras fazem sucesso entre apaixonados pela arte e entre seus ex-correligionários: "Não há um ex-mafioso que não possua um de seus quadros", declarou Dionisi.

Nos seus quadros de estilo naïf, é perceptível a visão nostálgica do pintor por Palermo, com cores vibrantes e belas casas de tijolo. No fundo, é comum ver o Monte Pellegrino, paisagem familiar de sua infância no bairro de Partanna-Mondello.

"Essa forte policromia, as cores vivas e alegres, muito claras, são um contraste com sua vida atual. Isso corresponde a um sonho, ao que ele vê dentro dele mesmo", explicou Dionisi, informando que Mutolo se inspira na "terra onde ele nasceu, onde viveu, que ele amou e que ele nunca mais verá".

Exposição de quadros do italiano Gaspare Mutolo, ex-membro da máfia Cosa Nostra, em Roma, na sexta-feira (18) (Foto: AFP / Gabriel Bouys)Exposição de quadros do italiano Gaspare Mutolo, ex-membro da máfia Cosa Nostra, em Roma, na sexta-feira (18) (Foto: AFP / Gabriel Bouys)

Mutolo começou a pintar em 1983 enquanto cumpria longa pena na prisão de segurança máxima de Florença. Ele explicou, em raras entrevistas, que pintava inicialmente "para escapar do tédio, porque os dias passavam muito lentamente", e que aprendeu a pintar examinando a técnica de um outro prisioneiro, chamado Aragonese, condenado a prisão perpétua pelo assassinato da esposa.

Imagem do site da revista francesa "Le Nouvel Observateur", em matéria de outubro de 2011, que mostra o ex-mafioso italiano Gaspare Mutolo, em foto de 1976, quando ainda fazia parte da máfia Cosa Nostra. Hoje ele vive em local secreto, em regime de proteç (Foto: Reprodução / Nouvelobs.com)Imagem do site da revista francesa "Le Nouvel Observateur", em matéria de outubro de 2011, que mostra o ex-mafioso italiano Gaspare Mutolo, em foto de 1976, quando ainda fazia parte da máfia Cosa Nostra. Hoje ele vive em local secreto, em regime de proteção especial (Foto: Reprodução / Nouvelobs.com)

A exposição é apenas a terceira de Mutolo em 30 anos de atividade. "Mutolo tem um estilo naïf (estilo artístico com nome derivado do termo "ingênuo") mas tem uma capacidade de composição extraordinária que aumentou com o tempo", disse o crítico de arte Fulvio Abbate. De acordo com o especialista, "seus quadros são muito bonitos. O fato de ele ser um ex-mafioso não tem nada a ver com a percepção que se pode ter de seu talento".

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