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Jornais correm para cobrar na internet, afirma analista

Para Ken Doctor, cobrança por conteúdo permite manter publicidade e crescer

Eugênio Bucci diz que é 'fundamental' para os jornais que a receita venha do usuário e não apenas da publicidade

DE SÃO PAULO

Na última quinta-feira, a Folha passou a cobrar pelo acesso frequente a seu site, no modelo conhecido como "paywall" ou muro de pagamento poroso. Permite agora a leitura gratuita de 40 textos por mês; a partir daí, é restrita aos assinantes.

Segundo o consultor Ken Doctor, do Nieman Journalism Lab, da Universidade Harvard, 800 jornais americanos e europeus "ou já têm 'paywall' ou planejam ter até o início do ano que vem", em rápida adoção que ele qualifica como "fenômeno".

O movimento foi acelerado pelo êxito do modelo poroso adotado há um ano pelo "New York Times". Doctor diz que o sucesso do jornal e de outros que o acompanharam pode ser medido não só pela nova receita, mas por ter mantido os acessos.

"Dois, três anos atrás, o maior temor era que o 'paywall' cortasse o crescimento digital, com perda de audiência e publicidade", diz. "O que aprendemos no processo é que, especialmente com o sistema poroso, em que a maioria das pessoas nunca atinge o limite, nunca fica nem sabendo que existe 'paywall', você pode manter seu negócio de publicidade no lugar e crescendo."

Doctor observa que o "paywall" poroso "é na verdade o modelo do 'Financial Times'". Adotado cinco anos atrás, ele é descrito por Rob Grimshaw, diretor executivo do FT.com, como "definitivamente um sucesso" para o jornal londrino, que acumulou 285 mil assinantes digitais e segue crescendo.

"Não estamos longe da circulação impressa, no momento de 320 mil exemplares", diz Grimshaw, adiantando que a projeção é passar à frente "em algum momento dos próximos 12 meses".

Antes disso, até o fim do ano as "receitas com conteúdo", somando circulação digital e impressa, devem ultrapassar as receitas com publicidade, também somando digital e impressa.

"Se você olhar onde estávamos há dez anos, quando 80% das receitas vinham da publicidade impressa, nós transformamos todo o negócio", afirma.

Para Caio Túlio Costa, executivo de comunicação e consultor para assuntos digitais da Associação Nacional de Jornais (ANJ), o sistema "funcionou bem, começou muito bem", até porque o jornal "já tem experiência grande com o UOL", empresa controlada pelo Grupo Folha.

Ele observa que, "neste momento em que se busca rentabilizar a internet, a Folha optou por uma tendência seguida no mundo inteiro".

Eugênio Bucci, professor da USP e diretor do curso de pós-graduação em jornalismo da ESPM, comenta que a adoção de "pagamento do trabalho jornalístico pelo cidadão" tem impacto nos campos econômico e institucional.

"É fundamental para a independência editorial das empresas que a receita venha do usuário e não só da publicidade", diz. "No conjunto, a instituição da imprensa sempre combinou os dois."

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