12/10/2012 01h04 - Atualizado em 12/10/2012 16h53

31° Arte Pará aposta no diálogo entre linguagens e sotaques

Salão expõe obras de mais de 20 artistas de diversos lugares do país.
Fotografia, vídeo, escultura e pintura se reúnem na edição 2012.

Do G1 PA

Artista durante performance no Arte Pará 2012 (Foto: Gil Sóter/G1)Delson Uchoa, convidado do 31° Arte Pará, apresenta performance na abertura da mostra (Foto: Gil Sóter/G1)

Com obras de artistas de todo o Brasil e mostras que ocupam quatro diferentes espaços expositivos, o 31º Arte Pará foi aberto nesta quinta-feira (11), em cerimônia realizada no Museu Histórico do Estado do Pará (MHEP).

Sob curadoria do crítico de arte Paulo Herkenhoff, que volta ao projeto este ano, a mostra reserva espaço de destaque à produção cultural da região, que vive um momento de reconhecimento nacional. "O Brasil está descobrindo o que foi esse processo tão dedicado e profundo de construção da cultura paraense contemporânea", observa o curador.

“O Arte Pará é um esforço de trazer a arte para a esfera pública, de torná-la cada vez mais acessível”, disse Herkenhoff durante pronunciamento na cerimônia, que contou com a presença do governador do estado do Pará, Simão Jatene, que parabenizou o projeto, e destacou a importância o fomento da cultura paraense. “Desejo longa vida ao Arte Pará”, declarou Jatene a respeito do salão, idealizado ainda na década de 80, pelo jornalista Romulo Maiorana.

A mostra traz 21 artistas selecionados, vindos dos mais diversos destinos do país. “O Pará propõe uma visão descentralizada da cultura. O centro do mundo é onde está o artista, e isso eu aprendi aqui, no Rio de Janeiro, em Nova Iorque", diz Herkenhoff.

Premiados
O vencedor do Grande Prêmio foi o Grupo Empreza, de Goiás, que pela primeira vez participou da seletiva. O coletivo assina a série fotográfica “Impenetrabilidade”, que busca desafiar as leis da física em nome de um convite à poética. “Partimos do desejo de superar uma das Leis de Newton que diz que dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço”, diz Aishá Kanda, integrante do Empreza. “Nossa intenção foi mostrar que a busca para que essa superação de limites aconteça é o mais importante”, completa.

Alice Lara, do Distrito Federal, foi uma das artistas contempladas com o Prêmio Especial, que também foi entregue a sua conterrânea, Maria de Medeiros, e Pedro Castello Branco, de Minas Gerais. “Essa premiação foi extremamente importante para minha carreira, que trabalho sozinha, e agora recebo esse incentivo para minha produção”, diz a jovem artista que, aos 25 anos de idade e cinco de carreira, é um dos destaques da mostra com a série de pinturas intitulada “Escondendo meu animal”, que versa sobre a relação afetiva do homem com os bichos.

Convidados
A edição 2012 do Arte Pará costura a multiplicidade de obras a partir do diálogo estético com a produção dos artistas convidados. Guy Veloso, Alberto Bitar e Paula Sampaio, três renomados artistas, representam o espaço de destaque que a fotografia firma no estado. “A fotografia paraense tem uma história, é a linguagem visual das mais fortes produzidas no Pará”, avalia o curador assistente do 31° Arte Pará, Armando Queiroz, que fala ainda da sua relação de longa data com o projeto. “Participei como artista selecionado na década de 90, depois fui premiado, e agora presto minha contribuição ao projeto”, declara.

A fotógrafa Paula Sampaio, nascida em Minas Gerais e radicada no Pará, é a grande homenageada desta edição. "É uma artista excepcional, uma mulher que pega sua motocicleta e vai aos confins da Transamazônica, atravessa a Belém-Brasília viajando sozinha e produzindo um olhar sobre esses lugares já ocupados pela expansão da economia. A obra de Paula Sampaio funde a presença das pessoas com elementos, pés enlameados, troncos de árvores queimadas. E assim coloca como um ambiente único o homem e seu drama, Herkenhoff.

Alberto Bitar é outro artista que se encontra em franca ascensão. Convidado da Bienal de São Paulo deste ano, ele expõe no 31° Arte Pará o vídeo “Sobre o vazio”, que versa a respeito da despedida. “Esse trabalho é um registro do apartamento em que vivi com minha família, por mais de 25 anos, e que foi vendido após a morte de meus pais”, explica Bitar. A série fotográfica “Completude” também integra a mostra, e traz um recado de recomeço. “As imagens são do novo apartamento, para onde mudei, e onde espero que também se torne um espaço de afeto”, diz Alberto, que também tem sua trajetória marcada pelo Arte Pará. “Este ano completo 20 anos de carreira, e foi logo no começo, em 1992, quando participei pela primeira vez do Arte Pará, e agora volto como artista convidado”.

Guy Veloso também é outro artista que amadureceu sua trajetória entre participações no Arte Pará. “Não passei nas duas primeiras tentativas. Depois classifiquei, já em 91, e fui premiado em 2000 e 2006”, relembra Guy, artista convidado da Bienal de São Paulo em 2010, e que integra a mostra do Arte Pará 2012 com uma série inédita. “Êxtase” retrata cenas captadas em cerimônias de religiões afro-brasileiras, que aparecem misturadas a imagens do Círio de Nazaré. Postas lado a lado, as fotografias parecem indistintas: o que se vê são devotos tomados pela fé. “Não usei legendas, então as imagens se misturam, não dá para distinguir o que é retrato de uma religião ou de outra. Elas se encontram na transcendência”, diz o fotógrafo a respeito do seu primeiro trabalho realizado inteiramente em Belém, entre 2009 e 2012.

Vindo de Alagoas, Delson Uchoa exibe suas incursões pela caatinga, para onde levou coloridas sombrinhas chinesas. A intervenção do artista culmina em um cenário lúdico e, ao mesmo tempo, critica a proliferação dos produtos chineses, fruto da exploração do trabalho. "São artistas que precisam ir a algum lugar, e nesse processo de ir e voltar, constituem um olhar que está sempre em marcha. Um olhar crítico, que nos ajuda a pensar diante do mundo", diz Herkenhoff.

Paulo Nazareth atrai o interesse do público ao vender obras a R$1.  (Foto: Gil Sóter/ G1 PA)Paulo Nazareth atrai o interesse do público ao vender obras a R$1. (Foto: Gil Sóter/ G1 PA)

O artista plástico mineiro Paulo Nazareth é outro convidado do salão. Provocativo, ele criou na cerimônia de abertura da mostra uma feira de arte, vendendo suas produções a preço de banana. “Custa de R$ 1 a R$ 4. Pode também levar a melancia”, anunciava Nazareth. Gravurista por formação, ele explica que suas obras não chegaram a tempo para a abertura porque tiveram problemas no transporte. Então ele reproduziu algumas imagens de seu vasto livro de viagens pelo mundo e pôs a venda. “A arte custa barato. É para todos. Pode levar”.
Também são convidados do 31º Arte Pará os artistas visuais Berna Reale e Rodrigo Braga e a cinesta Jorane Castro.

Serviço: 31° Arte Pará, visitação aberta ao público a partir do dia 13, em quatro espaços de Belém: Museu Histórico do Estado do Pará, localizado no Palácio Lauro Sodré, na Praça Dom Pedro II, bairro da Cidade Velha. Casa das Onze Janelas, localizado na Praça Dom Frei Caetano Brandão, na Cidade Velha. Museu de Arte Sacra, na Praça Dom Frei Caetano Brandãoe. Museu Emílio Goeldi, localizado na Avenida Magalhães Barata, 376, bairro de São Braz. Entrada franca.
 

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