Museu do Louvre poderá recorrer, pela primeira vez, à direcção de um estrangeiro

Não será de todo uma novidade em França, mas seria a primeira vez na história do Louvre

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Museu do Louvre iluminado na noite de Natal de 2005 AFP PHOTO CHRISTOPHE SIMON

Não será de todo uma novidade no país – um alemão já dirigiu o Museu de Arte Moderna em Paris –, mas a verdade é que a França está a considerar abrir a candidatos estrangeiros a escolha do futuro presidente do Museu do Louvre.

A notícia, ainda sem reflexos na imprensa francesa, foi avançada no início desta semana pelo site norte-americano de informação financeira Bloomberg, que cita fontes oficiais e refere que o Presidente François Hollande estará a admitir essa possibilidade para a sucessão de Henri Loyrette.

O actual presidente do Louvre surpreendeu os meios artísticos e políticos do país ao anunciar, em Dezembro, que não seria candidato à recondução no cargo no final do seu quarto mandato, no próximo mês de Abril. O aperto da situação económica também em França, com reflexos, que já foram notados nos dois últimos anos, na diminuição da subvenção estatal ao maior e mais visitado museu do mundo, estará na origem da decisão de Henri Loyrette, que, no entanto, evocou apenas “razões pessoais” para justificar o abandono do cargo.

“Estamos a viver uma crise económica com uma gravidade sem precedentes, e todos nós temos de contribuir com a nossa parte”, disse a ministra da Cultura, Aurélie Filippetti, em entrevista ao Le Monde, em Setembro.

O facto é que o orçamento para a Cultura foi já cortado, este ano, em 2,3%. E a dotação do Estado para o Louvre – que, segundo o Bloomberg, ascendeu a 210 milhões de euros em 2011 – foi já também sujeita a cortes consideráveis.

E se Henri Loyrette sempre referiu a “boa relação” que mantém com Aurélie Filippetti, o jornal Libération falava recentemente de uma “tensão visível” com a ministra que advogava tais sacrifícios orçamentais. Mesmo se o ainda presidente do Louvre conhece bem esse quadro, já que lhe são contabilizadas mais de uma dúzia de viagens aos países do Golfo Pérsico e dos petrodólares em busca das subvenções necessárias ao museu parisiense.

A gestão do complexo processo de construção da “antena” árabe do Louvre em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos – um projecto do arquitecto francês Jean Nouvel (Prémio Pritzker 2008), cuja inauguração chegou a ser anunciada para o ano passado, mas que tem sido alvo de sucessivos adiamentos – é um dos dossiers que têm marcado os mandatos de Loyrette. Mas os seus feitos mais notórios, além do sucessivo aumento de visitantes – no final de 2012, o Louvre bateu novo recorde ao aproximar-se dos 10 milhões –, foram a inauguração, no último mês de Setembro, da ala dedicada à arte do Islão, e, já em Dezembro, a extensão do Louvre em Lens, no norte do país.

Como projecto mais imediato, o museu parisiense perfila a ampliação das suas instalações, nomeadamente o átrio de acolhimento dos visitantes por baixo da icónica pirâmide projectada pelo arquitecto chinês I.M. Pei nos anos 1980, e que foi pensada para um fluxo de quatro a cinco milhões de visitantes/ano.

Presidente, curador, gestor de colecções, angariador de fundos e de mecenas, com domínio da língua francesa e conhecimento dos meandros da complexa administração pública do país – é este o perfil exigido ao sucessor de Henri Loyrette, e que François Hollande terá de encontrar em três meses. O Bloomberg diz que não existe ainda concurso oficial, nem é conhecida nenhuma lista de candidatos. Mas acrescenta que este não é um dossier de fácil resolução intramuros franceses. A eventual abertura a candidatos estrangeiros, se será inédita na história já bicentenária do Louvre (o museu foi inaugurado em 1793), não o é no país, onde o historiador alemão Werner Spies já dirigiu o Museu de Arte Moderna da capital francesa, entre 1997-2000.

“Nos seus quatro mandatos sucessivos, Henri Loyrette conseguiu fazer do Louvre um dos maiores museus do mundo, uma instituição popular, moderna e aberta a toda a gente, dando ao Louvre uma efectiva influência internacional”, sintetizou e elogiou, recentemente, a ministra Aurélie Filipetti. Será que a sucessão do (ainda) actual responsável é um desafio grande de mais para o país que possui o maior museu do mundo?

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