Críticas sociais, ironia e um quê de melancolia. Características do Dadaísmo, movimento artístico do século XX, misturam-se hoje com internet, caneta nanquim e um jeito meio nerd de ser. A "Dadaísmo em Quadrinhos", página no Facebook criada pelos desenhistas maranhenses Lucas Maciel, Felipe Portugal e Filipe Vieira, faz sucesso com tirinhas pensativas e já tem mais de 40 mil “curtidas”.
Os três jovens, todos com 20 anos, abordam temas como insegurança em relacionamentos amorosos, aborrecimentos com a vida moderna e dúvidas existenciais (um dos quadrinhos, por exemplo, diz: “Acreditar no espelho é tão superficial quanto o mesmo”).
Com o sucesso da página, eles decidiram tentar uma versão impressa do trabalho, a revista “LIBRE!”. Para isso, estão captando dinheiro na internet, uma prática conhecida como crowdfunding. Nela, uma ideia é divulgada na rede e internautas simpáticos à causa se unem para financiá-la.
“Nós criamos o projeto com o objetivo de R$ 7mil, e recebemos um apoio enorme vindo do Brasil inteiro. Em uma semana de arrecadação, alcançamos nossa meta”, diz Lucas Maciel. Até a manhã desta segunda (18), já eram 248 apoiadores e mais de R$ 9mil reais angariados, segundo as estatísticas do site.
A tiragem é de 1mil exemplares, e, por enquanto, a única maneira de adquirir um deles é comprando pela internet, até o dia 29 de março.
Paixão pelos quadrinhos
"meditação" (Foto: Arquivo Pessoal)
Filipe e Felipe são de Imperatriz, mas vivem hoje em Teresina, e Lucas, de São Luís, muda-se para o Rio de Janeiro daqui a uma semana.
Todos desenham desde criança. O excêntrico personagem de quadrinhos Scott Pilgrim, os desenhistas Chris Ware e Art Spiegelman, e até mesmo o pintor Van Gogh são citados como grandes incentivadores para o começo da paixão pelos quadrinhos.
Entretanto, nenhum deles estuda hoje algo relacionado a desenho na universidade: Felipe e Filipe fazem história e direito, respectivamente, e Lucas entrará na faculdade de direito neste semestre. Ele até chegou a cursar Arquitetura e Urbanismo, mas, contrariando as expectativas, não se identificou com o curso. “Por incrível que pareça, parei de desenhar quando entrei na faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Foi quando virou trabalho e ficou meio chato”, revela. Hoje, o jovem diz que os quadrinhos são uma forma de "meditação".
Nada de bancas
Músicas, filmes e cotidiano são as principais inspirações dos maranhenses. Na página do Facebook, algumas das historinhas intrigam os internautas, por não terem mensagens claras, e os fazem deixar comentários com diversas interpretações. “Alguns quadrinhos criam discussões fantásticas”, diz Felipe Portugal.
Entretanto, a boa repercussão não anima os garotos a tentar levar a revista às bancas. “A ‘LIBRE!’ é um projeto independente. Acho que essa é a beleza de estar envolvido nela”, assinala Filipe Vieira.