• Ligia Aguilhar
  • Ligia Aguilhar
Atualizado em

Dia 05 de outubro é o Dia Nacional da Pequena Empresa, data que marca a criação da Lei nº 9.841, que instituiu o Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, em 1999. Por ano, são criados no país mais de 1,2 milhão de novos empreendimentos formais no Brasil, dos quais 99% são micro e pequenas empresas e Empreendedores Individuais, segundo estudo do Sebrae. As taxas de sobrevivência dos negócios estão aumentando. De cada 100 empreendimento criados, 73 sobrevivem aos primeiros dois anos - número superior ao de países que até então eram modelo de empreendedorismo, como a Itália.

Empreender virou moda no Brasil, um mercado empolgante de startups está em formação, investidores brasileiros e estrangeiros estão colocando dinheiro nos pequenos empreendimentos do país, há crédito no mercado e cada vez mais o brasileiro - especialmente os jovens - sonha em trocar carreiras tradicionais pelo próprio negócio. 

Para celebrar a data e inspirar quem sonha em abrir sua própria empresa, mas não sabe por onde começar, NEGÓCIOS conversou com três empreendedores que abandonaram carreiras promissoras para empreender. Eles falaram sobre os desafios, paixões e sacrifícios necessários para abrir e manter a própria empresa e como criaram coragem para abandonar tudo por uma ideia. Cada entrevistado fez ainda uma lista com cinco dicas para você aumentar suas chances de sucesso e entrar de vez para este grupo.

+ Conheça o site do Movimento Empreenda

Busca descontos

Pedro Eugênio, fundador do Busca Descontos (Foto: Divulgação)

Pedro Eugênio, fundador do Busca Descontos (Foto: Divulgação)

Em 2010, o publicitário Pedro Eugênio, de 32 anos, tomou uma das decisões mais importantes e arriscadas de sua vida: deixar um emprego estável como superintendente de marketing de uma agência de publicidade para se dedicar ao próprio negócio justamente na mesma época em que sua esposa estava grávida de gêmeos. “Claro que eu tive medo e não foi uma decisão fácil, mas eu acreditava tanto na minha ideia que sabia que iria fazer acontecer”, diz.

Pedro é daqueles que começou a empreeder cedo.  Aos 16 anos de idade, vendeu o carro da mãe para abrir um BBS (sigla de Bulletin Board System, antigo sistema de informações eletrônicas por conexões telefônicas) em São Carlos, no interior de São Paulo, depois de aprender a programar sozinho. O negócio foi vendido anos depois para um grande portal da internet e Pedro veio a São Paulo para cursar  publicidade.


5 dicas de Pedro para quem quer empreender1. Teste sua ideia antes de abrir o negócio"Você pode testar ideia muitas vezes gastando pouco e enquanto trabalha em outra empresa. Se o protótipo começar a dar certo, aí você já tem uma base sólida para deixar seu emprego e investir na oportunidade."2. Saiba que empreender não é fácil e esteja preparado para enfrentar dificuldades"Empreender é estar muito sozinho e você precisa estar preparado para isso. Quando eu comecei minha área ainda era muito novo e não tinha com quem conversar, eu tinha que falar com a parede. O aprendizado é na base do erro e do acerto e você não tem apenas que se motivar, mas também conseguir motivar seus funcionários."3. Invista em algo que você ame"Empreender consome muitas horas, muito trabalho, a sua vida pessoal. Se você não gostar do que faz é loucura investir, porque você perde qualidade de vida."4. Saiba dizer não"É muito comum quando uma empresa está começando ver muitas oportunidades e querer dizer sim para tudo. O segredo é saber falar não."5. Ganhe experiência na área antes de empreender"Uma coisa que me ajudou muito foi  ter vivência anterior no mercado, o que me deu bagagem para amadurecer o projeto e me preparar melhor para empreender."

 Em 2006, já formado e trabalhando na área, ele criou o blog Busca Descontos como uma forma de manter dois hobbies: o de programar e o de acumular cupons de descontos de jornais, revista e internet. “Os meus amigos sempre me pediam dicas de descontos e por isso criei o blog para reunir todos os descontos que eu encontrava em um só lugar", diz. O blog evoluiu para um site, o número de acessos cresceu exponencialmente e em 2010, quando começou a fechar parcerias com grandes varejistas e a ter receita com o site, percebeu que havia potencial o hobby se tornar um negócio lucrativo. Mas para isso, ele precisaria aumentar as horas de dedicação ao negócio. Justamente no meio da gravidez de gêmeos de sua esposa.

No mesmo ano em que largou tudo pelo negócio, Pedro recebeu investimento do grupo franco-brasileiro LeadMedia. Hoje, o Busca Descontos tem uma base de 12 milhões de cliente e é, segundo o empreendedor, o terceiro site que mais gera vendas online no Brasil atrás do Google e do Buscapé.

Muito do crescimento da empresa se deu por causa de ações como o Black Friday brasileiro, versão nacional da data em que os varejistas norte-americanos oferecem grandes descontos, logo após o dia de ação de graças, em novembro. “Ser empreendedor é muito difícil. Não é porque você saiu do seu trabalho que você vai ter mais horas livres. Pelo contrário, você deixa de ter vida pessoal e ainda se responsabiliza pela vida de outras pessoas. Hoje eu tenho 40 funcionários, 40 famílias que dependem de mim. É muita responsabilidade”, diz.

Pedro defende o empreendedorismo por oportunidade e diz que a melhor forma de ter segurança para abandonar uma carreira estável em prol de um negócio é testando o modelo de negócio. "Você pode testar a sua ideia muitas vezes gastando pouco. Se o negócio começar a crescer, ai você pula para dentro", diz. Durante esse período, buscar outras experiências na área em que se pretende atuar ou parcerias para participar de projetos semelhantes ajudam o futuro empreendedor a se preparar melhor. "Eu gosto muito de dizer não. É muito comum quando se começa um negócio ver muitas oportunidades e querer dizer sim para tudo. O segredo é saber falar não e ter foco", diz.

BR Mobile

Guto Ramos (esquerda) e Rony Breuel (direita), fundadores da BR Mobile  (Foto: Divulgação)

Guto Ramos (esquerda) e Rony Breuel (direita), fundadores da BR Mobile (Foto: Divulgação)

O negócio criado pelos administradores de empresas Rony Breuel e Guto Ramos, ambos com 25 anos, é daqueles que faz qualquer pessoa pensar “como é que eu não tive essa ideia antes?” Não se trata, talvez, de uma questão de ter a ideia, mas, sim, de apostar nela. Quando aos 24 anos largaram seus empregos para montar uma empresa de locação de tablets sem ter dinheiro, experiência ou apoio, os jovens foram taxados de malucos. “Nós pedimos demissão antes de começar a empresa. Todo mundo dizia que não era um bom negócio, que nós seríamos roubados e que não tinha como um negócio dar certo. Mas como eu era solteiro, achei que era o momento certo de arriscar”, diz Guto.

Hoje, um ano depois, os dois são donos de uma empresa que faturou R$ 1 milhão no primeiro ano de vida e investem no desenvolvimento de novos serviços e produtos para locação com o objetivo de dobrar esse valor no segundo ano.  Hoje a BR Mobile, empresa criada por eles, aluga não só tablets, mas também iPhones, Ar Drone, cadeados eletrônicos, câmeras fotográficas, computadores, televisões e multifuncionais, além de fazer aplicativos customizados para os clientes utilizarem com os eletrônicos alugados.


5 dicas de Rony e Guto para quem quer empreender1. Estude sua ideia"Nós demoramos quase um ano para achar uma ideia legal. É importante pesquisar muito, ler blogs, revistas, assistir programas de negócios, tudo que tenha a ver com o que você quer fazer. E não tenha medo de mudar de ideia. Nós mudamos várias vezes."2. Acredite no seu sonho"Não adianta andar com o travesseiro embaixo do braço apenas sonhando. Você é o único que pode acreditar na sua ideia e torná-la realidade. E para isso vai ter que trabalhar muito."3. Forme uma equipe vencedora"Para uma pequena empresa dar certo, as pessoas dentro dela precisam acreditar no projeto. Por isso, nós não contratamos necessariamente a pessoa que tenha o melhor currículo, mas, sim, alguém que demonstre muita vontade e garra de trabalhar."4. Conheça seu produto"Você precisa conhecer o seu produto melhor do que ninguém, especialmente os pontos fracos, para estar sempre pronto para responder as perguntas dos clientes com segurança. Se você gaguejar, vai dar oportunidade para a concorrência."5. Não tenha medo de ouvir não"Não se abale com o primeiro não. Mais de 90% das pessoas disseram que o nosso negócio não ia dar certo. Muitos clientes disseram que não precisavam do serviço. Mas nós acreditamos e convencemos essas pessoas."

 A ideia de abrir o negócio partiu de Rony, que trabalhava com marketing esportivo nos Estados Unidos quando descobriu que uma companhia aérea começaria a oferecer iPads para entreter os passageiros. De volta ao Brasil, pensou em criar um serviço semelhante e convidou o amigo Guto, que na época trabalhava no mercado financeiro, para ser um dos sócios. Durante a elaboração do plano de negócios acabaram optando pelo aluguel de tablets.

O investimento inicial de R$ 12 mil para a compra de seis iPads veio de um empréstimo feito pela família dos dois. O lucro de cada locação passou a ser usado como capital de giro e investimento para a compra de novos tablets e montagem da estrutura da empresa, que hoje possui 14 funcionários, cerca de 350 tablets e uma lista de grandes clientes como Nestlé, Pfizer e Tramontina.

No início, a pouca idade gerava desconfiança entre potenciais clientes. “Posso falar com os seus pais?”, foi uma das perguntas que a dupla chegou a ouvir. Para ganhar credibilidade, investiram pesado no pós-venda e o atendimento personalizado acabou agradando. Mas nem tudo saiu como planejado. Com a pouca experiência os jovens cometeram erros primários como a falta de planejamento de fluxo de caixa no longo prazo. “A gente não sabia que dezembro e janeiro são meses fracos. Nós achávamos que nesse período íamos arrebentar. Quando vimos que ninguém queria o serviço ficamos desesperados”, conta Guto.

O caixa no vermelho resultou em atraso de salários e foi então que os dois aprenderam a segunda lição sobre ter o próprio negócio: a importância de saber liderar. “É dificílimo empreender. Tem um monte de gente que depende de você e que só estão ali porque também acreditam no seu negócio. Hoje mudamos tudo, a nossa forma de nos relacionar com a equipe e aprendemos com o erro a planejar o futuro”, afirma Rony.

Jovens, os dois aprenderam também a sacrificar a vida pessoal pelo negócio. "Eu sacrifiquei dois anos da minha vida até agora e continuo sacrificando", diz Guto, que ao lado de Rony tem se dedicado a desenvolver nova estrutura e identidade visual para o negócio para lidar com a forte concorrência que o sucesso trouxe. 

Vale presente

Rodrigo Borges, fundador da Vale Presentes (Foto: Divulgação)

Rodrigo Borges, fundador da Vale Presentes (Foto: Divulgação)

Na família Borges, o pai, a mãe, os tios, avós, primos, sobrinhos e quem mais tiver o o sobrenome é dono do seu próprio negócio. Não seria diferente com Rodrigo, de 32 anos, que aos 17 já era dono de um site de jogos e de um classificado de automóveis na internet que não tiveram sucesso. 

A história que culminaria com o nascimento da Vale Presentes, empresa focada em gift cards com estrutura própria para emissão e impressão dos cartões, personalização, administração financeira, autorização e processamento das transações, começou há dez anos, quando Rodrigo conseguiu uma vaga como trainee no Grupo B2W, ao qual pertence os sites de e-commerce Americanas.com, Submarino, Shoptime, Ingresso.com e Blockbuster online. Logo que entrou na empresa. onde se tornou gerente de operações em pouco tempo, percebeu  o potencial do setor de vale-presentes do Brasil e a inexistência de uma empresa 100% especializada no segmento. Começava aí uma empreitada que se arrastou pelos últimos oito anos. A partir de então, Borges comprou todos os domínios com a palavra Vale Presente existentes na internet, incluindo derivados como vale vodka e vale lingerie.


5 dicas de Rodrigo para quem quer empreender1. Escolha as pessoas certas"Encontre profissionais competentes e com espírito empreendedor para trabalhar com você. Para conseguir contratar pessoas experientes, ofereci participação no negócio."2. Cuidado com os investidores"Entenda que seu risco é maior do que o deles sempre, porque é a sua carreira e as suas finanças que estão em jogo. Escolha sempre pessoas com bom networking e que se envolvam no negócio. Por mais que demore, vale a pena esperar pelo investidor certo."3. Fique atento ao mercado"O mercado brasileiro é complexo e as tendências mudam rápido. Você vai precisar mudar sua estratégia muitas vezes, antes, durante e depois da implantação do projeto."4. Cultive bons contatos"O segredo é ter clientes, entender bem o seu mercado de atuação. Para conseguir isso é importante ter um bom networking.".5. Tenha prazer em lutar"O empreendedor precisa juntar o sonho com dedicação e força de vontade para ter sucesso. Você não tem que abrir uma empresa pensando só no lucro que ela vai te dar, mas, sim, porque você também tem prazer no que faz."

Depois da experiência bem-sucedida no e-commerce, Rodrigo fez contatos importantes com pessoas que futuramente se tornariam seus sócios, funcionários e investidores. "Em todo lugar que eu trabalhei eu sempre analisei quais seriam as pessoas que um dia eu chamaria para trabalhar comigo. Conheci muita gente importante e quanto tinha a oportunidade contava a minha ideia para eles".

Foi assim que Rodrigo conseguiu dois sócios para investir na empresa com ele e um investidor importante, Rui Drever, fundador da Pretorian, uma das maiores empresas de MMA do mundo.Drever bancou a viagem de Rodrigo para os Estados Unidos para conhecer a maior empresa de gift cards do mundo. Nessa época, era gerente de e-commerce do Magazine Luiza, onde permaneceu por um tempo enquanto estruturava o seu negócio. "Eu sentia muita angústia, porque queria empreender, mas ao mesmo tempo tinha um bom cargo, salário. O receio aumentou quando eu casei e tive filho, por isso levei as duas carreiras durante dois anos, nos quais eu dormia apenas três horas por noite", diz.

Foi por meio de outro contato profissional que Rodrigo conheceu o segundo investidor que iria ajudá-lo de vez a tirar o projeto do papel. Durante um ano e meio ele negociou com Charles Martins, filho do empresário Carlos Wizard Martins, sócio fundador do grupo Multi (que controla as redes de ensino de idiomas e profissionalizante Wizard, Yázigi e Microlins, entre outras), que investiu R$ 30 milhões no projeto.

A perspectiva da empresa é comercializar um milhão de vale-presentes até o final de 2013, movimentando cerca de R$ 100 milhões. “Eu demorei oito anos para montar o negócio porque disse vários nãos, inclusive para investidores que não eram as pessoas certas para o negócio. Hoje o jovem não aguenta o chefe e diz que vai empreender. Isso é errado. Você precisa de tempo de amadurecimento profissional para ter contatos, experiências e formar um nome que te ajude a conquistar clientes para o negócio", diz.

Rodrigo deixou o Magazine Luiza há um ano e meio e agora se dedica ao próprio negócio. Para ele, empreender não é tarefa para qualquer pessoa. "Quando eu abri o meu primeiro negócio, aos 17 anos, e quis ser só empreendedor faltou maturidade, várias coisas não deram certo. Foi então que decidi criar uma carreira sólida como executivo e aprender errando com o dinheiro dos outros. Eu acho que ter esse tipo de experiência é fundamental para um negócio dar certo. Hoje eu não tenho medo da minha empresa fracassar. Eu tenho certeza que vai dar certo, porque eu organizei e planejei ela durante muito tempo para isso acontecer", diz.