Edição do dia 08/07/2013

08/07/2013 21h04 - Atualizado em 08/07/2013 22h07

EUA são suspeitos de ter mantido centro de espionagem em Brasília

Jornalista americano que revelou o esquema diz ainda que representações diplomáticas do Brasil no exterior podem ter sido alvo de espionagem.

Novas denúncias divulgadas nesta segunda-feira sobre o serviço secreto americano levantam suspeitas de que os Estados Unidos mantinham um centro de espionagem em Brasília. Os documentos publicados na edição de hoje do jornal "O Globo" foram obtidos pelo ex-técnico da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos Edward Snowden. Em entrevista à repórter Sônia Bridi, o jornalista americano que revelou o esquema diz ainda que representações diplomáticas do Brasil no exterior podem ter sido alvo de espionagem.

Uma base da espionagem americana na capital do Brasil. Novos documentos vazados por Edward Snowden, ex-técnico da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos, a NSA, publicados nesta segunda-feira pelo jornal O Globo mostram que, em 2002, essa base em Brasília abrigava agentes da Agência Central de Inteligência, a CIA, e da NSA.

Em um mapa, é possível ver que a capital do Brasil foi ou é uma das 16 sedes de uma rede mundial de espionagem chamada Fornsat - abreviatura de Foreign Satellites - satélites estrangeiros. Com esse programa, os americanos estariam espionando as comunicações brasileiras por satélite.

Sete das bases do Fornsat são em países parceiros dos Estados Unidos, como Austrália e Inglaterra. A do Brasil é uma das instaladas pelos próprios americanos. O Brasil usa oito satélites, para telefonia e transmissão de dados. As Forças Armadas usam bandas exclusivas de satélite para as comunicações militares brasileiras.

Glenn Greenwald é o jornalista americano, residente no Rio, que recebeu os cinco mil documentos vazados por Edward Snowden.

“Eu não posso falar que tenho um documento que mostra que Estados Unidos estão roubando informação militar do Brasil, mas com certeza eles estão coletando informações no satélite que é usado pelo governo brasileiro para comunicações militares e outras coisas também”, diz Greenwald.

Documentos vazados por Edward Snowden indicam que, das 75 cidades onde o programa Fornsat está presente, somente Brasília e Nova Déli, na Índia,  abrigam espiões da CIA e da NSA numa força tarefa chamada de "Special Colecction Service".

Os papéis internos da NSA a que Snowden teve acesso dizem que o foco desse trabalho estava em converter sinais de inteligência captados no exterior a partir de estabelecimentos oficiais dos Estados Unidos, como as embaixadas. E afirmam que os agentes trabalharam no Brasil disfarçados de diplomatas. Esse documento é de 2002 e não há outros mais recentes que permitam dizer se procedimento permanece ou foi extinto.

Jornal Nacional: Qual o interesse deles em espionar o governo do Brasil, que é um país que não é inimigo e que não é uma fonte conhecida de terroristas?
Greenwald: É competição, competição para energia, para negócios, para todas as coisas que os Estados Unidos estão querendo. Então se eles podem saber quais objetivos, quais planos o governo brasileiro tem  para tudo, eles podem ter vantagem para competição.

A política internacional do Brasil também estaria sendo monitorada. Um documento mais recente, de 2010, mostra que a embaixada do Brasil em Washington e a representação do Brasil junto às Nações Unidas, que fica em Nova York, também podem ter sido alvo da espionagem da NSA, em mais de um tipo de programa de coleta de dados.

O documento, super secreto, registra um programa chamado Sigad e aponta a embaixada do Brasil em Washington como target – alvo, em português - de uma missão. Ser monitorada por dois programas:  Lifesaver, que envia para a NSA cópias de tudo o que está gravado nos discos rígidos dos computadores onde está instalado; e o Highlands, que faz coleta direta de sinais digitais. O mesmo documento aponta outro alvo - a missão diplomática do Brasil na ONU. A missão tem o Lifesaver, o Highlands e também o Vagrant, que copia as telas abertas nos computadores.

Não há outros documentos que comprovem se essa invasão foi de fato efetuada, nem se a prática persiste. O documento a que o jornal O Globo teve acesso relaciona os alvos - targets - e as missões, mas não especifica se elas foram mesmo levadas a cabo. Lifesaver, Highlands e Vagrant são programas que exigem acesso às máquinas, às centrais de telefone e aos computadores. Mas não está claro se esse acesso precisa ser físico, ou se isso pode ser feito remotamente.

Para Greenwald, o objetivo era claro. “Tudo que eles estão teclando, tudo que eles estão recebendo, todos os e-mails, todos os faxes que eles estão mandando. Mas também em Brasília eles estão invadindo as comunicações eletrônicas, porque tem pessoas que trabalham para o NSA que estão fingindo que são diplomatas”

Greenwald é um dos autores da reportagem deste domingo de O Globo, que já havia mostrado, com documentos vazados por Edward Snowden, que milhões de brasileiros têm suas comunicações monitoradas pela NSA. Para saber quem liga para quem, tempo da ligação, e a identificação dos computadores de onde saem as mensagens, a NSA atua aqui com três programas : Fairview, Prism e X-Keyscore.

Para essa espionagem massiva, os americanos precisam ter acesso aos bancos de dados das empresas brasileiras de telefonia e internet. Não há informações sobre como esse acesso é feito e se há colaboração das empresas brasileiras na espionagem.

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