Cultura ArtRio 2013

Com 74 mil pessoas, ArtRio fica entre o êxito e o caos do crescimento

Galeristas comemoram vendas, mas reclamam de falta de segurança (e de educação) nos estandes

O grande fluxo de visitantes fez com que galerias cercassem ou guardassem obras
Foto: Camilla Maia
O grande fluxo de visitantes fez com que galerias cercassem ou guardassem obras Foto: Camilla Maia

RIO - Às 18h de domingo, último dia da ArtRio, era tão intenso o fluxo de visitantes que a Hauser & Wirth, uma das 60 galerias internacionais da feira, decidiu cercar seu estande. Crianças brincavam perto de esculturas e obras delicadas como “The hysterical mother” (2007), guache de Louise Bourgeois.

— Foi um horror. Uma pessoa se recusou a sair de cima da base da obra (de Louise Bourgeois), chamamos a segurança, que apareceu muito tempo depois. Na verdade, não havia segurança nos armazéns  — lamenta Mariana Teixeira de Carvalho, funcionária da Hauser & Wirth.

A organização da ArtRio, por outro lado, comemorou o sucesso de público: nesta segunda-feira, informou que recebeu 74 mil pessoas, mais que os 60 mil esperados pela organização e ainda mais que os 46 mil do ano passado. Os números são muto maiores que os da oitava edição da feira paulistana SP-Arte, que, este ano, registrou público de mais de 20 mil pessoas (em 2011, foram 17 mil). Se, por um lado, o público gigante é sinal de êxito, por outro, gera caos.

— Os sócios da feira (Luiz Calainho e Alexandre Accioly) têm um passado no entretenimento, e as meninas (Brenda Valansi e Elisangela Valadares) são absolutamente iniciantes — afirma Mariana. — Eles queriam só sucesso de público, queriam girar a catraca. Foi muito amador, muito principiante e ainda não sabemos se vamos voltar.

Ela ainda se queixou da falta de avisos ao público sobre o cuidado nos estandes. Não havia, de fato, sinalização alguma na feira pedindo para que as obras não fossem tocadas. Mariana lamenta ainda o fato de bebida e alimentação terem sido liberadas dentro dos armazéns. Em alguns casos, conta ela, os visitantes apoiavam seus alimentos nos suportes das obras de arte.

— Não se pode esperar que o público saiba como se comportar numa feira de arte, se esse público não é habituado a ir a esse tipo de evento. Se eles queriam levar tanta gente à feira, deveriam ter pensado em avisos nas entradas, seguranças e monitores explicando as regras — completa a funcionária da Hauser & Wirth.

Perto da galeria inglesa, a carioca Luciana Caravello tratou de guardar objetos em acrílico de Alexandre Mazza, porque o movimento de pessoas em torno das peças beirava o perigo. A nova-iorquina Leon Tóvar improvisou placas de papel e as instalou em frente a obras, com o texto “Não tocar”. No espaço expositivo de mil metros quadrados da Gagosian, a vitrine de diamantes “Happy memories” (2010), de Damien Hirst, já estava cercada por uma corda desde sábado.

— Meus vendedores ficaram meio apavorados. Mas eu dizia: “Gente, imagina na Gagosian, que tem Picasso!” — diz Luciana.

Ela também comemora: o movimento intenso na feira a fez vender mais de 50 obras, de valores entre R$ 5 mil e R$ 50 mil. Outra galerista carioca, Silvia Cintra, conta ter vendido 40 obras, entre R$ 20 mil e R$ 170 mil. Na Anita Schwartz, foram contabilizadas até o último dia 15 vendas, de trabalhos de R$ 8 mil até R$ 200 mil.

— A feira cresceu bastante e ainda não sei se isso é bom ou não — afirma Anita. — Precisa de mais atenção à organização. É uma questão gerencial.

Na David Zwirner, que tem galerias em Nova York e em Londres, o diretor Greg Lulay afirma que pretende voltar na próxima edição da feira.

— Foi uma boa experiência para conhecer nossos colecionadores do Brasil e para nos apresentar a novos, que ainda vão comprar conosco — diz Lulay, que vendeu trabalhos do belga Francis Allÿs e do americano Donald Judd.

Sobre o grande público e os problemas da feira carioca, Lulay ponderou:

— É uma feira jovem e precisa de melhoras. Mas está situada num belo lugar, teve belas obras. É claro que faremos algumas sugestões à organização, mas prefiro focar no sucesso do evento.

Alguns galeristas, como Max Perlingeiro, da carioca Pinakotheke, comentam que o intenso movimento também pode inibir grandes colecionadores de fecharem seus negócios in loco. É por isso que, diz ele, transações iniciadas dentro da feira podem levar até dois meses para serem concluídas.

— A ArtRio tem um público exagerado e muito negócio não é fechado ali. Funciona mais como um grande showroom — completa Perlingeiro.

Ainda assim, Perlingeiro diz ter ultrapassado R$ 1 milhão em vendas. Ao todo, oito obras, de Franz Weissmann, Di Cavalcantti, José Pancetti e Pedro Vasquez, foram arrematadas no estande do marchand.

A organização da feira também divulgou as datas da próxima edição: em 2013, a ArtRio será entre 5 e 8 de setembro.