Paradoxo Sorites: em qual cabelo perdido posso te chamar de careca?

Hoje o papo é sobre o Paradoxo grego Sorites. Em qual o número mágico as coisas trocam de nome?

Hoje o papo é sobre o Paradoxo Sorites (σωρείτης sōreitēs) – de origem grega, e que significa “um montinho”.

Imagine um montinho de areia com 2.756.678.345.890.128.345 grãos. Realmente, 2.756.678.345.890.128.345 grãos formam, sem dúvida, um belo montinho de areia.

Aí, com uma precisa pinça pega-grão, você tira 1 grão.
O monte de areia deixou de ser um monte de areia?

Não.

Você tira mais um grão.
O monte de areia deixou de ser um monte de areia?

Não.

E tira outro grão. E outro, e mais outro. E vai tirando. Um monte de areia não deixa de ser um monte de areia só porque você tirou um grãozinho.

Porém, vai chegar um momento em que sobrarão apenas 2 grãozinhos. E se você tirar um, o que vai sobrar não tem a mínima cara de um montinho de areia. Ou tem?

O paradoxo existe porque a lógica se sustenta (os gregos, por exemplo, dizem que 1 grão, ou mesmo “grãos negativos”, são um montinho em teoria) mas na vida real, pegando gente na calçada, ninguém chama grão de monte.

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A imprecisão demonstrada em um montinho de areia

A história ilustra o conceito do vago, do impreciso.

Afinal, na base do grão em grão, qual o número mágico em que as coisas trocam de nome?
Se você for arrancando seus fios de cabelo, em qual deles eu posso te chamar de careca?
Adoro implicar com a nossa mania de medições “pseudo-responsáveis” de relatórios, números de impressões, audiência, segmentações, classes, notas escolares. E o paradoxo me incentiva.

Em qual centavo você fica rico?
Em qual segundo você fica velho?
Em qual milímetro você fica longe?
Em qual melanina você vira negro? Branco? Amarelo?
Em qual cargo você vira alguém?
Em qual leucócito você pegou uma infecção?

Muitas medições precisas contêm interpretações imprecisas. E certamente estamos mais preparados e acostumados com a primeira parte dessa equação.

Para os filósofos Gottlob Frege e Bertrand Russell, a linguagem ideal deveria ser precisa e que a linguagem natural tem um defeito, que é o fato de ser vaga.  Para nos livrarmos da imprecisão, deveríamos eliminar os termos soríticos, assim escapando do paradoxo de Sorites.

Daí termos inventado o tal “critério”. Mas aí, de novo, em qual dos nossos devaneios deixamos de tê-lo?

Bônus: se você gostou do Paradoxo de Sorites, recomendo que dê uma olhada também no Paradoxo do Barco de Teseu

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