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POESIA NO AR
Temer escreveu seus versos em guardanapos
de papel, nos voos entre Brasília e São Paulo

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Nos frequentes voos entre Brasília e São Paulo, o vice-presidente da República, Michel Temer, desenvolveu um hábito incomum entre os políticos: escrever versos nos guardanapos de papel, rimando amor e temas existencialistas. Uma seleção de 120 dessas obras criadas sem a gravidade das decisões palacianas pode ser conhecida agora em “Anônima Intimidade” (TopBooks), seu primeiro livro de poemas. Com a apresentação do imortal da Academia Brasileira de Letras Carlos Nejar e do ex-ministro e presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Carlos Ayres Britto, a obra traz homenagens aos autores preferidos de Temer, apreciador do gênero desde a infância. Também poeta, Nejar dá boas-vindas ao vice-presidente, “jurisconsulto do verso”, ao que chama de “república do poema”. Sem grande preocupação com a métrica, a produção lírica de Temer foi assim avaliada do ponto de vista técnico pelo professor Alexandre Pilati, titular do departamento de Teoria Literária e Literaturas da Universidade de Brasília (UnB): “Seu conceito para escrever é o simples revelar, o amor não é um problema, nem uma redenção; o passado é um mero lembrar, a saudade não dilacera.”

Arte e política, no entanto, não são contraditórias como pode parecer à primeira vista, trazendo em comum a mesma ambição de transformar a realidade. Por isso, a lista dos que fizeram a vida em órgãos públicos e ganharam cadeiras nas academias de letras é extensa. O ex-senador Arnon de Mello é lembrado em Alagoas como um homem de literatura.

Na Paraíba, a história se repete com Ronaldo Cunha Lima. Mais ambicioso, o senador e ex-presidente José Sarney ganhou uma cadeira na Academia Brasileira de Letras, cuja lista de imortais inclui também o ex-vice-presidente Marco Maciel. Há ainda as personalidades que entraram e saíram da política com a moral ilibada e sofreram nas mãos de impiedosos críticos literários. Foi esse o caso de J.G. de Araújo Jorge, ex-deputado socialista pelo antigo Estado da Guanabara, falecido em 1987 aos 72 anos, hoje apontado como o poeta brasileiro mais atacado. Os críticos o chamavam de meloso.