Cultura

‘Jovem Mona Lisa’ ainda não convence diretor do Museo Ideale Leonardo da Vinci

Para especialista, obra exibida ontem na Suíça ainda precisa passar por um ‘debate sério’

Alessandro Vezzosi, diretor do Museo Ideale Leonardo da Vinci
Foto: AP
Alessandro Vezzosi, diretor do Museo Ideale Leonardo da Vinci Foto: AP

GENEBRA - Foram 35 anos de controvérsias, estudos e dúvidas. Ao apresentar nesta quinta em Genebra uma versão anterior da célebre “Mona Lisa”, de Leonardo da Vinci, uma fundação baseada na Suíça e dedicada exclusivamente ao estudo do quadro trouxe até um especialista do Federal Bureau of Investigations (FBI) dos Estados Unidos para dizer que as provas de que se trata de um verdadeiro da Vinci são “quase” irrefutáveis. Mas na apresentação do quadro, Alessandro Vezzosi, diretor do Museo Ideale Leonardo da Vinci, em Vinci, na Itália, lançou a dúvida: pode ou não ser uma primeira versão da obra. Ele explicou o dilema ao GLOBO.

O senhor está quase 100% convencido de que é um Leonardo da Vinci?

Não, de jeito nenhum.

Por quê?

Porque temos ainda que refletir muito sobre tudo o que sabemos e buscar saber ainda muito mais. Estamos começando uma pesquisa com outros estudiosos. É muito importante que outros especialistas em Leonardo da Vinci possam ver a obra, porque é uma pintura muito particular, que precisa ser vista de perto. Há diferenças que precisam ser aprofundadas.

Sua participação na apresentação de hoje é um indício da legitimidade da obra?

Pessoalmente, eu me interesso por tudo o que diz respeito a Leonardo da Vinci, dos desenhos à pintura. Esta pintura tem despertado minha curiosidade há 30 anos. Eu a vi e a expus no museu Leonardo da Vinci. Para mim, é uma obra muito importante, no sentido de que ela faz descobrir novos documentos. Daí o meu interesse. Pelo respeito que tenho por todas as obras de arte, acho importante dar continuação a um sério debate entre estudiosos.

O senhor também é um pintor. Quando viu pela primeira vez o quadro, o que o surpreendeu?

Há diferenças que precisam ser estudadas. Mas às vezes por trás de uma pintura muito feia pode-se achar um verdadeiro Leonardo da Vinci. São possibilidades raras, mas que podem acontecer. Por exemplo: que a obra seja de um aluno. Sabemos que Leonardo às vezes ajudava no trabalho de seus alunos, pintando algumas partes, ou fazia o rascunho, e o aluno pintava. Pode-se achar num quadro detalhes de um vulto que sejam de Leonardo. Deixemos as questões continuarem sobre este quadro… Mas há um documento de 1503 que deixa claro: Leonardo pintou naquele ano ( o da suposta primeira versão da “Gioconda” ) um rosto que pode ser o de Gioconda. E este quadro também correspondente a um desenho do pintor Rafael ( em 1504, Rafael desenhou “Young woman on a balcony”, que os especialistas dizem que é baseada na Mona Lisa; neste desenho aparecem as mesmas colunas que estão na suposta primeira versão da Gioconda ). Não se pode estar seguro de tudo isso. Mas também é provável que ele tenha pintado quadros diversos.

Que questões fundamentais sobre este quadro não têm resposta?

Sobre a Gioconda do Louvre, que é o quadro aparentemente mais conhecido que existe, não podemos sequer responder a todas as questões: quem encomendou o quadro, Giuliano de Medici ( nobre de Florença ) ou o marido de Lisa ( a modelo retratada )? Também não se pode dizer que a data deste quadro ( a suposta primeira versão ) seja 1503.

Quantas cópias o senhor estima que existam da “Mona Lisa”?

Muitíssimas. Mas cópias antigas existem poucas, entre os anos de 1500 e 1610 diziam que eram umas 50, mas muitas ficaram célebres por um dia e depois provaram-se que eram cópias.

Pode acontecer com esta?

Esta é diferente, pois tem uma longa vida de controvérsias. E tem uma intensidade magnética. E é verdade que a composição se aproxima. Este continua sendo um quadro misterioso.

Se fosse verdadeiro, quanto custaria um quadro como este?

Todas as obras de arte são inestimáveis para mim. Mesmo uma obra de € 100 mil, para mim, é um valor estimativo. Recentemente, foram apresentadas obras que, calculando-se a restauração e tudo, estimou-se em € 100 milhões a € 150 milhões. A “Dame à l’hermine” ( de Leonardo da Vinci, por volta de 1490 ), foi estimada em € 300 milhões, mas eu diria que vale muito mais.

O seu verdadeiro amor é pela “Gioconda” do Louvre?

Para mim, a “Gioconda” do Louvre permanece algo de extraordinário também em relação às outras obras de Leonardo. É o trabalho dele mais bem conservado.