Edição do dia 14/05/2013

14/05/2013 09h13 - Atualizado em 14/05/2013 09h13

Vidro de Murano move economia de Veneza e história é tema de museu

Faturamento anual das empresas da região é de quase R$ 468 milhões.
Lei de 1994 reserva nome Murano aos vidros produzidos no arquipélago.

Há séculos, o nome Murano se espalhou pelo mundo. Os vidros que levam o nome do pequeno arquipélago que fica a apenas um quilômetro de Veneza, na Itália, movimentam a economia da região, por onde passam 23 milhões de turistas por ano. As cerca de 40 empresas de Murano faturam juntas € 180 milhões por ano, aproximadamente R$ 468 milhões. Mas, desde o início da crise, em 2008, as vendas caíram mais de 30%.

Para proteger a tradição e os negócios locais, os italianos criaram uma lei em 1994 que determina que só podem ser vendidos como Murano os vidros produzidos lá. A certificação é distribuída aos artesãos pelo Consórcio Promovetro, que representa 80% dos fabricantes. Duas das empresas mais conhecidas, a Barovier & Toso e a Venini, não quiseram se juntar à associação.

A Promovetro acredita que a união fortalece a marca Vetro Artistico de Murano, ajuda a conquistar novos mercados e torna o combate às falsificações mais eficaz. Até hoje, os contraventores só foram processados quatro vezes e foi preciso esperar cinco anos para que saíssem as decisões judiciais. “Naturalmente, não podemos combater a todos, senão não faríamos mais nada. Somos obrigados a pegar os mais importantes, os que ocupam mais espaço na mídia, para que possam dar mais visibilidade e servirem de exemplo no combate aos menos relevantes”, destaca Luciano Gambaro, presidente da associação.

Esforço para manter a tradição

Outro desafio é superar o desinteresse das novas gerações em levar a tradição adiante. Filho de um maestro, como são chamados os artesãos que lideram as equipes, Simone Cenedese estudou design e conta que teve dúvidas se seguiria os passos do pai. Ele diz não ter certeza se o filho fará o mesmo. “Infelizmente, os jovens são mais ligados em tecnologia. Este é um trabalho mais tradicional”, observa.

Como a técnica usada na produção dos vidros precisa de grandes fornalhas, autoridades de Veneza do século XIII, preocupadas com os incêndios frequentes na cidade, obrigaram os artesãos a se mudarem para Murano. As construções de madeira podiam servir de combustível e alastrar rapidamente o fogo.

O segredo de todo o fabricante começa com o material; cada um com sua fórmula, passada de pai para filho. A sílica, componente da areia que serve de matéria-prima, é misturada a outros ingredientes de forma absolutamente sigilosa, trabalho que é feito sempre à noite e vara a madrugada. Pela manhã, a mistura está pronta para ir ao forno a 800ºC.

Nos últimos cinco anos, a empresa de Cenedese tem crescido entre 10% e 15%. Em 2012, faturou quase € 2,5 milhões, cerca de R$ 6,5 milhões. Alguns produtos, como um lustre, chegam a ser vendidos por R$ 130 mil.

Globo News - Escultura de vidro de Murano (Foto: Globo News)Símbolo do arquipélago que lhe dá nome, vidro de Murano é a matéria-prima da escultura feita pelo artesão Simone Cenedese, cuja empresa faturou cerca de R$ 6,5 milhões em 2012 (Foto: Reprodução/Globo News)

Como certos trabalhos alcançam o status de obra de arte, algumas relíquias estão protegidas dentro do Museu do Vidro de Murano, fundado em 1861, que recebe mais de 200 mil visitantes por ano. As peças mais antigas datam do século XV. “As pessoas que visitam Murano e querem ver as fábricas também procuram conhecer a história do vidro”, destaca a curadora Chiara Squarcina.

Os vidros de Murano respondem por 5% da economia veneziana. Apesar da concorrência forte e competente, os artesãos consideram os produtos insuperáveis. “O trabalho manual que existe aqui faz com que o Murano seja único e inimitável”, afirma Luciano Gambaro. O prefeito de Veneza, Giorgo Orsoni, vai além: “É uma tradição de séculos difundida no mundo todo. Os vidros são símbolo do artesanato e também da cultura veneziana”.

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