Emmanuel Nassar – Estes Nortes/ Centro Hélio Oiticica, RJ/ até 3/2/13

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GEOMETRIA POPULAR
"Desvio" interpreta arquiteturas espontâneas

Não seria nada fora de propósito apontar que Emmanuel Nassar foi o artista que descobriu a gambiarra como partido estético espontâneo do Brasil. Embora a definição etimológica da palavra diga respeito a “uma ramificação ou extensão de luzes”, há mais de uma década o termo vem sendo utilizado popularmente no País para designar toda forma de improviso, praticada de forma precária ou engenhosa. Há pelo menos três décadas, Nassar começou a perseguir esses sinais de engenhosidade nos cartazes, nas paredes e nas instalações de mercados e feiras livres do interior do Pará, onde nasceu e viveu a infância. A partir da observação da geometria espontânea das pinturas de rua e das gambiarras dos espaços feitos de improviso, Nassar construiu o corpo vigoroso de sua obra, que hoje ganha uma bela exposição no Centro Hélio Oiticica.

A exposição “Estes Nortes” atravessa diferentes fases da carreira do artista. Em suas escolhas, porém, em sua obra, o curador Felipe Scovino parece tentar reforçar aspectos que distanciam Nassar de um Brasil alegre e exótico, ressaltando uma característica pouco explorada anteriormente na obra de Nassar: uma qualidade de violência, que transparece em ferramentas, como facas, correntes ou rifles, ou em mãos e braços decepados.

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CANTOS
Na fotografia "Gambiarra", a câmera de Nassar persegue instalações improvisadas

Mesmo com esse pano de fundo, a exposição se oferece como um panorama das fases mais importantes do artista, como pinturas sobre tela, pinturas sobre chapa de aço, fotografias e sua produção de bandeiras, nas quais são sempre grafadas as iniciais EN, como que delimitando um território pessoal e intransferível. Como o artista aponta em uma entrevista concedida ao curador, as iniciais são como os ponteiros de uma bússola pessoal, ou de uma rosa dos ventos própria: “Minha orientação espacial”, diz ele.