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31/03/2011 - 07h26

É Tudo Verdade tem documentários baseados em blogs e YouTube

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ROBERTO KAZ
DE SÃO PAULO

Em meados de 2009, quando preparava um documentário sobre a eleição presidencial do Irã --que, a despeito das suspeitas de fraude, reelegeu Mahmoud Ahmadinejad--, o cineasta Ali Samadi Ahadi se deparou com um problema.

Os jornais do país não apresentavam um relato confiável sobre o que estava ocorrendo. "Não temos imprensa independente no Irã. E os jornalistas estavam presos", ele lembrou, por telefone, à Folha.

Ahadi --um iraniano exilado na Alemanha-- passou, então, a se valer de informações periféricas. De Berlim, onde estava, garimpou relatos em blogs, páginas do Facebook e do Twitter. "Li 1500 blogs, escolhi cerca de 15", disse. A partir deles, montou a linha narrativa de "A Onda Verde", condensada em dois personagens fictícios, desenhados por animação.

O filme está em cartaz na 16ª edição do festival de documentários É Tudo Verdade, que acontece de hoje até 10 de abril, em São Paulo e Rio de Janeiro. Dos 92 filmes selecionados, não é o único a se valer da internet como fonte primária de informação.

"A Vida em um Dia", de Kevin MacDonald, retrata um único dia --24 de julho de 2010--, a partir de vídeos postados no YouTube. O trabalho do diretor foi condensar 4.500 horas de imagens, de 80 mil usuários, em uma hora e meia de filme.

"O processo não foi apenas criativo. Foi logístico", informou MacDonald, também por telefone. Ele vê a apropriação da internet como natural: "Nos últimos cinco anos o mundo mudou tanto, as pessoas passaram tantas horas em comunidades sociais, que isso inevitavelmente repercutiria no cinema e na literatura."

Divulgação
Cena do filme "A Onda Verde", de Ali Samadi Ahadi, que resgata clima das eleições presidenciais iranianas de 2009 a partir de material das redes sociais
Cena de "A Onda Verde", de Ali Samadi Ahadi, que resgata as eleições presidenciais iranianas de 2009 a partir de material da web

EXPERIMENTAÇÃO

Amir Labaki, curador do É Tudo Verdade, diz que o documentário é um gênero mais permeável a outras linguagens do que a ficção: "Por estar à parte da grande indústria, ele tem menos compromisso, e mais espaço de experimentação."

O crítico de cinema Carlos Alberto Mattos, autor do blog "Rastros de Carmattos", diz que filmes como "A Vida em um Dia" e "A Onda Verde" "legitimam vozes até então marginais". Ele explica: "O blog mostra a experiência humana, na falta de um relato institucionalizado de confiança. Um filme sobre aquele momento do Irã só poderia ser feito dessa forma."

Mattos diz que os dois filmes colocam o documentarista em uma nova posição: "Antes o problema do diretor era ter acesso aos fatos. Hoje, ele precisa administrar o excesso. Cada um de nós é um curador em potencial."

Kevin MacDonald, de "A Vida em um Dia", diz ter recebido vídeos de 60 tipos diferentes de câmera. Ali Samadi Ahadi, de "A Onda Verde", se lembra de ter filtrado "toneladas de imagens" para preparar seu documentário. "A internet está provocando uma revolução nos filmes", conclui o iraniano.

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Ouça comentários do repórter sobre o festival:

Roberto Kaz

 

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