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Relatório tem 99% das notas de juízes entre boas e excelentes na Série A

Documento da CBF conta com só cinco partidas com avaliação entre 6,0 e 6,9: "A arbitragem não é tão ruim quanto falam", diz o presidente da Conaf, Sérgio Corrêa

Por Rio de Janeiro

Header ARBITRAGEM NO BRASIL (Foto: Infoesporte)


Nota 8,44. Esta é a alta média dos árbitros que atuaram no Campeonato Brasileiro da Série A, encerrado no último final de semana. Seguindo a escala de notas da Comissão Nacional de Árbitros de Futebol (Conaf), o resultado é considerado "ótimo", bem próximo do "excelente" - atribuído aos diagnósticos acima de 8,9. As avaliações vêm de relatórios internos produzidos por ex-árbitros - chamados de assessores pela Conaf - em todos os jogos da Primeira Divisão do futebol brasileiro. No relatório, 98,66% das arbitragens foram consideradas "boas", "ótimas" ou "excelentes", e apenas 1,34% dos juízes receberam notas "aceitáveis", categoria que fica entre 6,9 e 6,0. As análises estatísticas estão disponíveis no site da CBF e são o ponto de partida da série do GloboEsporte.com sobre a arbitragem brasileira (veja infográfico no fim do texto).

O Brasileiro da Primeira Divisão terminou sem uma nota de juiz ser avaliada como "ruim" - ou seja, com nota abaixo de 6,0. Houve quatro notas 10,0 para árbitros e duas para assistentes. A nota média final dos juízes ficou em 8,44, enquanto dos assistentes, em 8,33. A média geral das notas das avaliações, incluindo árbitros e assistentes, é de 8,36 na Série A deste ano.

- A arbitragem não é tão ruim como vocês falam - defende Sérgio Corrêa, presidente da Comissão Nacional dos Árbitros de Futebol (Conaf) da CBF, em entrevista realizada há uma semana na sede da entidade máxima do futebol brasileiro, na Barra da Tijuca.

Qualidade das arbitragens - serie A (Foto: Infoesporte)Diminuição de notas aceitáveis e aumento de notas ótimas e excelentes de 2013 para 2014 (Fonte: Conaf-CBF)

O presidente vai além:

- A análise (da arbitragem) não é feita sobre o erro. A falha pode não interferir no resultado da partida - explica o presidente da comissão.

Sérgio Corrêa, porém, cita exemplos de casos que causaram prejuízos nos resultados e que receberiam notas abaixo de 7,0: a final da Copa do Mundo de 1966, quando a Inglaterra venceu o Mundial com uma bola que não entrou, e a decisão do Carioca deste ano entre Flamengo e Vasco, quando um gol rubro-negro em impedimento decidiu o título. 

- Nem tudo é muito ruim e nem tudo é muito bom. Há margem de erro como em qualquer atividade do ser humano. Geralmente até 5% das arbitragens são ruins, da mesma forma 5% são excelentes. O restante fica ali no meio, entre bom, regular, aceitável, muito bom, ótimo...

A cada nota abaixo de 7,0, o presidente da Conaf recebe uma mensagem no celular. Em 2014, em todas as competições organizadas pela CBF, em apenas 32 partidas os árbitros receberam notas abaixo de 7,0, num universo de quase 1.400 jogos avaliados. Na Série A, foram apenas cinco partidas com notas entre 6,9 e 6,0. Nestes casos, cada vez mais raros na avaliação interna feita pela CBF, o juiz é afastado por 30 dias das competições. 

Sérgio Correia - presidente da Comissão Nacional de Arbitragem (Foto: Vicente Seda)Sérgio Corrêa aponta para planilha de avaliação de árbitros: presidente da Conaf defende arbitragem (Foto: Vicente Seda)

Antes do afastamento - que não é tratado como punição, mas como uma reciclagem aos árbitros -, a comissão ainda se reúne para verificar se a nota baixa foi justa ou não. Há, portanto, uma nova checagem da nota enviada pelo assessor e também um direito a defesa do árbitro para contestar a má avaliação recebida em determinado jogo.

- É uma lenda essa história de que não há punição ao árbitro. Não divulgamos porque temos que proteger a pessoa. Imagine: o árbitro, que é o mais "fraco" em campo, vive fase ruim, como qualquer um de nós tem todas profissões, então vamos ficar dizendo que ele errou e que vai ficar 30 dias fora? Como esse cara volta depois? Ele é ser humano, precisa de motivação, de autoestima - diz Correia, ressaltando, porém, que "claro" que a comissão faz as cobranças internas e toma as devidas providências no afastamento temporário dos árbitros.

Um dos árbitros mais experientes do Brasil, Heber Roberto Lopes foi afastado após o erro no empate por 1 a 1 entre São Paulo e Internacional no Morumbi. No jogo, Heber falhou ao validar gol do Internacional em impedimento (veja no vídeo abaixo). Foi a última das 21 partidas em que o catarinense de 42 anos trabalhou nesta temporada - ele ficou de fora das últimas três rodadas do ano. 

 




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Cruzeiro: campeão e maior questionador

Além do resultado das notas no relatório, Corrêa sustenta a opinião sobre o alto nível da arbitragem brasileira também no baixo número de reclamações formais. Um indicativo que está em queda. Em 2013, por exemplo, nos 380 jogos da Série A, apenas 10 reclamações formais foram enviados pelos clubes - 32 considerando todas as competições organizadas pela CBF, que vão desde campeonatos de divisões inferiores a torneios femininos. Em 2012, o número era maior: 34 queixas na Série A e 57 ao todo. Neste ano, a Conaf fecha a conta com 36 reclamações em quase 1.700 partidas de todas as competições.

Curiosamente, o clube que mais reclamou formalmente foi o campeão Cruzeiro, com oito questionamentos, cinco deles considerados procedentes

Para ter sua reclamação considerada - e registrada -, a CBF envia a cada início de temporada ofícios para os clubes pedindo que sejam produzidos DVDs com os lances editados de supostos erros das arbitragens. A ouvidoria recebe os vídeos e avalia se são procedentes ou não as reclamações. Neste ano, das 34 reclamações que chegaram na CBF, 16 foram consideradas improcedentes - por exemplo, uma reclamação de pênalti do clube, na qual a comissão tem outra opinião, é considerada improcedente. Curiosamente, o clube que mais reclamou foi o campeão Cruzeiro. Foram oito reclamações ao todo no Brasileiro - cinco delas consideradas procedentes, três foram julgadas improcedentes.

Jogadores do Cruzeiro reclamam (Foto: Marcelo Regua / Light Press)Jogadores do Cruzeiro reclamam com árbitro Francisco Nascimento em jogo com Fla (Foto: Marcelo Regua / Light Press)

Defensor da qualidade do trabalho das mais de 600 pessoas que chefia, entre árbitros, assistentes, assessores e delegados das partidas, Sérgio Corrêa diz que o Brasil acompanha a evolução mundial. Após a Copa do Mundo, por exemplo, a comissão criou um assessor de vídeo que assiste ao jogo pela televisão, com todos recursos disponíveis, e analisa todas as decisões do juiz para depois fazer outro relatório para a CBF. 

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Nota 10 em jogos polêmicos

Marcelo de Lima Henrique (Foto: Luiz Henrique/Figueirense FC)Marcelo de Lima Henrique tem a média de notas mais alta do Brasil (Foto: Luiz Henrique/Figueirense FC)

A avaliação dos juízes é feita em uma ficha de seis páginas. Todo árbitro parte da nota 7,0 - anteriormente saíam de 8,0 - e tem acréscimo ou diminuição de notas de acordo com a dificuldade do jogo e com a sua atuação, segundo análise dos assessores da Conaf. Em jogo com grau de dificuldade "normal", a nota mais baixa pode ser 5,0 e a mais alta 9,40. Na dificuldade "média", vai de 5,50 a 9,90. Em jogos de nível "alto" de dificuldade, um juiz é avaliado como ruim com 5,90 de nota, que pode chegar até 10.

Neste Brasileiro, foram quatro notas 10, quatro atuações perfeitas, de acordo com as informações passadas por Sérgio Corrêa. Marcelo de Lima Henrique, árbitro que mais atuou nesta temporada e que tem a maior média de notas, ganhou 10 pela atuação na vitória do Atlético-MG sobre o Cruzeiro por 3 a 2. Anderson Daronco anulou três gols nos 2 a 0 do Coritiba em cima do Botafogo e ganhou 10. Elmo Alves Rezende repetiu a dose em partida do Coxa, em novo 2 a 0, desta vez em cima do Palmeiras. A última nota 10 foi para Luis Claudio de Oliveira em jogo polêmico: Corinthians 3 x 2 São Paulo.

O presidente da Conaf explica a lógica do escalonamento das notas pelas dificuldades apresentadas na partida, pelos fatos e eventuais erros que mudam ou poderiam mudar o resultado final do jogo.  

Quem avalia não são pessoas técnicas, avaliam por lance qualquer, um erro qualquer, às vezes não foi o árbitro que errou, foi o assistente. O árbitro não deve pagar por esse erro"
Sérgio Corrêa, presidente da Conaf, sobre análise da mídia a respeito de arbitragens

- Você vai para o jogo com todos ingredientes que exigem um grande árbitro, experiente, mas a equipe vai e goleia a outra por 6 a 0. Ou seja, a expectativa que você tinha naquela partida caiu por terra pelo resultado. Mas, digamos, que nesses 6 a 0, quando estava 0 a 0, o árbitro marca mal um pênalti para a equipe, que perde. Houve possibilidade da interferência no resultado, mas não consumado. Se converte, seria 1 a 0. Será que a outra equipe golearia? Nunca vamos saber. Nesse caso, a nota não poderia nunca ser superior a 7,5. Daí para baixo - diz Corrêa, que contesta a análise geral do público e mídia de que a arbitragem brasileira é ruim.

- Quem avalia não são pessoas técnicas, avaliam por lance qualquer, um erro qualquer, às vezes não foi o árbitro que errou, foi o assistente. O árbitro não deve pagar por esse erro.

Nesta sexta-feira, a série "Duas faces do apito" abordará um tema áspero, mas de alta relevância para o esporte: a manipulação de resultados.

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Números da arbitragem

INFO números árbitros 2014 (Foto: infoesporte)